Coldplay – Ghost Stories

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O Coldplay é forte candidato, se já não for detentor, ao título de banda mais coxinha do Pop/Rock contemporâneo. É inacreditável a falta de ousadia do grupo. Verdade, eles deram uma mais que bem-vinda mexida nos seus vícios melódicos no ótimo Viva la Vida (e eu os elogiei por isso na resenha do álbum).

Mas sucederam o disco em questão indo na direção imediatamente oposta. Mylo Xyloto (2011) era Pop e ensolarado até a medula, basicamente recuperando os elementos mais irritantes e formulaicos de sua sonoridade mais conhecida, e dando uma grande plastificada na produção, que no fim das contas sempre foi o meu grande problema com a banda.

Eis que o líder Chris Martin levou um chute na bunda da patroa Pepper Potts e todo mundo ficou na expectativa de que o novo álbum do Coldplay poderia ser um “break up record” (ou “disco de dor de cotovelo”, em bom português) ou mesmo que ele se aproximasse da sonoridade mais simples de Parachutes (2000), seu álbum de estreia.

Bom, é verdade que Ghost Stories foi inspirado pelo fim do casamento do líder Chris Martin. E é verdade também que sua sonoridade está diferente. Mas infelizmente não voltou a algo mais próximo de Parachutes. É um disco tristonho, mas ainda pensado para as massas, para tocar no rádio e embalar os casais em seus grandiosos concertos. Por isso, mais uma vez se rende a decisões de produção no mínimo questionáveis.

A primeira impressão que tive ao ouvir o disco foi “que diabos aconteceu ao baterista Will Champion?”. Sim, pois aparentemente ele foi substituído por uma bateria eletrônica, visto que a maioria dos beats das nove músicas que compõem o álbum são sintetizados. Uma escolha estética muito bizarra, para não dizer que deixa o disco com cara de datado.

Depois desse choque inicial, outra coisa que pude notar foi que a guitarra de Jonny Buckland também não está muito presente, reduzida ao mínimo possível, e de forma bastante tímida, mais como pano de fundo do que como estrela. Completam esse quadro algumas levadas esparsas de violão, as quais poderiam ter sido mais utilizadas.

O indefectível piano de Chris Martin também dá as caras de forma mais econômica, mas em meio a outros teclados e ambiências em arranjos que até tentam soar mais delicados, mas acabam um tanto cafonas, muito em parte por causa das batidas eletrônicas já comentadas que saltam demais à frente.

E a temática do disco, ó, profano Bafomé! O horror, o horror… Chris Martin nunca foi um letrista inspirado, mas dessa vez a coisa é tão feia que chega a dar dó. A maioria das letras, se passadas para o português, não faria feio no repertório de qualquer dupla sertaneja, principalmente daquelas especializadas em “música de corno”.

O disco é chato, arrastado, as canções são todas parecidas e não há sequer um grande momento presente, nem mesmo uma boa música de trabalho para fazer a propaganda enganosa do produto. O morno primeiro single, Magic, é prova viva disso.

Já o segundo single, Midnight, até arrisca uma condução mais experimental, investindo mais pesado na levada eletrônica, mas ainda assim também não escapa do puro tédio.

Another’s Arms, com aquele vocalzinho feminino brega complementando a melodia principal, é um desastre. E só pelo título já dá para ter uma ideia do lugar-comum que é a letra.

Depois de seguidas audições, a única canção que se destacou e foge um pouco da chatice geral do disco é A Sky Full of Stars, e apenas porque é a que mais lembra a levada “hino de estádio” de X&Y (2005) e Mylo Xyloto. Nos discos em questão seria só mais uma faixa, mas em Ghost Stories acaba sendo o ponto alto.

A exemplo do que fizeram em Viva la Vida, o quarteto enveredou por novos caminhos sonoros. Só que dessa vez a empreitada passou longe de ser bem-sucedida. Com o coração do vocalista partido, tudo que o Coldplay conseguiu em Ghost Stories foi mostrar uma sonoridade sem sal e as deficiências de Chris Martin como letrista. Assim, os anos vão passando, os discos vão se sucedendo e fica cada vez mais difícil gostar da banda, quanto mais levá-la a sério. Mas sem problema, eles parecem perfeitamente felizes em continuar reinando soberanos como os reis dos coxinhas. Nesse caso, tudo continua bem.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
coldplay-ghost-storiesAno: 2014<br> Gênero: Pop/Rock<br> Duração: 42:42<br> Artista: Coldplay<br> Número de Faixas: 9<br> Produtor: Coldplay, Paul Epworth, Daniel Green e Rik Simpson<br> Gravadora: Warner Music<br>