Resenhar CDs de música pode ser um negócio meio sem sentido por vários motivos. Algumas vezes é a própria banda que é bem sem graça e nada do que você falar ou ouvir vai mudar isso, mesmo que o CD seja o último lançamento deles. Outras vezes, não há muito o que falar da música, simplesmente porque é mais do mesmo. E outras vezes podem ser aqueles clássicos que todo mundo conhece.
Sabbat é uma exceção. Essa foi uma banda que eu tinha descoberto há um bom tempo, mas quando eu vi o nome e a descrição de que se tratava de uma banda de power metal, logo pensei “metal melódico genérico se apoiando em um nome famoso”. Eu estava errado. Muito errado. Essa banda é um thrash metal MUITO original e que, sem dúvida, deixa a grande maioria dos álbuns clássicos estadunidenses no chinelo.
A banda foi formada no meio dos anos 80, e seus principais integrantes são Andy Sneap e Martin Walkyier. O primeiro se tornou um produtor famoso e já gravou bandas como o Megadeth, Exodus, Kreator, Accept, etc. Já o segundo fez carreira como vocalista do Skyclad, os pioneiros do folk metal, que começou como thrash. Ah, sim, eles são ingleses. Vamos para o álbum.
A primeira coisa que chama a atenção, para mim, são as letras. Como assim as letras? O delfonauta pode até pensar que a banda não deve ser tão boa assim, afinal, quem realmente liga para as letras quando os riffs são bons? Mas acontece que Martin Walkyier é um dos melhores letristas no metal e suas letras apenas aumentam o excesso de pintudice intelectual deste álbum.
Veja este trecho de A Cautionary Tale, por exemplo, que narra a história de Fausto, homem que vendeu a alma para o diabo:
Bom anjo:
“Faustus seek repentance,
abjure this evil art,
cease this wretched wickedness
and cleans thy foolish heart,
for the evil that once served you
has made of you a slave,
and transformed your bed of roses
to a premature grave.”
Then in a mighty flash of light
before thee Mephistopheles appears.
Fausto:
“I charge thee go and change thy shape,
for you fill my soul with fear.
Now swift-as-hell back to the fire
return an old Franciscan Friar.”
Mefistófeles:
“Mortal command me while you can,
For surely thou art dammed.”
Esse tipo de coisa, mais os vocais frenéticos de Martin Walkyier, é uma coisa que você não encontra em bandas de thrash metal normalmente. A voz dele é muito difícil de descrever, então eu recomendo que você ouça agora mesmo o CD para ter uma ideia. Ela é violenta e agressiva, mas não parece com nada do que eu já ouvi (e eu sou fã de metal extremo).
Porém, o que mais se destaca, além da voz de Walkyier são os riffs. Esse é um daqueles álbuns em que as músicas são 100% direcionadas pelos riffs, mas eles foram muito cuidadosos com as composições. Não tem um riff meia boca aqui e pouquíssimos que lembram coisas de outras bandas (como o que abre Hosanna in Excelsis, que lembra One of Us, do Kreator).
Os únicos pequenos problemas são o baixo e a bateria, que não são muito interessantes. Mas de verdade, dificilmente você vai se importar com isso com esses vocais e esses riffs tão bons. A produção é boa, não tão limpa, mas se fosse poderia perder o efeito.
Se você comprar o CD aqui, a um preço de banana, poderá conferir um pouco da história do Sabbat e curiosidades em uma versão bem bacana de relançamento, que ainda vem com faixas ao vivo de músicas do álbum (com ótima produção, vale dizer). Para conhecer, experimente começar por: A Cautionary Tale, Behind the Crooked Cross, For Those Who Died.