Caché

0

Se eu fosse definir Caché em apenas uma palavra, ela seria “estranho”. Veja só se você não concorda comigo. O filme começa com uma cena longa e chata, em que se vê uma rua e, ao final dela, uma casa. Sem qualquer movimentação de câmera, somos obrigados a ficar observando os detalhes da rua, o que para dizer a verdade, não leva a nada e faz essa cena se tornar totalmente sem motivo. Depois descobrimos que aquilo faz parte de um vídeo. A casa, ao fim da rua, é do casal Laurent e o vídeo foi enviado anonimamente, dando a entender que alguém está de olho naquela família. A partir daí, o filme começa de verdade e o casal começa a receber outras fitas com gravações de seus atos cotidianos.

Nesse momento, a obra do diretor Michael Haneke, que gosta de coisas enigmáticas, como provou seu filme anterior chamado Código Desconhecido, se torna bem interessante. Georges Laurent (interpretado pelo sempre bom Daniel Auteuill) é o homem daquela pequena família, já que seu único filho, Pierrot, não passa de um pré-adolescente. Ele e sua mulher Anne (Juliette Binoche, em mais uma ótima atuação) começam a ficar preocupados e até paranóicos com aquelas ameaças em vídeos, que passam a ser acompanhadas de desenhos infantis macabros, de um menino cuspindo sangue.

Georges desconfia de um imigrante árabe, que foi adotado por seus pais, na infância e que ele, ainda menino, conseguiu expulsar de casa depois de inventar uma mentira. Acontece que seria um motivo muito banal para que o tal Majid (Maurice Bénichou), depois de tanto tempo, ainda quisesse vingança. É exatamente por isso que, à medida que o filme evolui e caminha para o seu desfecho, percebemos o quanto é estranho o enredo desse longa-metragem. Ainda assim, é bem interessante e prende a atenção até os minutos finais, mesmo com o início chato e foi por causa disso que ganhou três Alfredinhos.

O curioso de Caché é que ele tem o seu auge, ou seja, seu momento tremendão, justo no meio do filme. O início, como já disse, é chato e o final, bem, posso confessar que é frustrante e consegue ser quase tão sem sentido quanto a primeira cena. É um desfecho normal para um diretor como Haneke, pois é aberto e dá margem a milhares de teorias e suposições. Coisa que ele parece adorar. O certo é que Caché não passa de uma obra intrigante e é só.

É aquele filme que dá aflição até os últimos minutos e, quando se espera a hora daquele final tremendaço, de arrebatar os nervos, os créditos sobem e perguntamos “Já? Mas e aí?”. Eu particularmente não gosto de finais assim. Não gosto de finais totalmente explicadinhos nos mínimos detalhes, mas também não gosto quando não há uma conclusão. Isso me dá a impressão de que o diretor estava com preguiça de concluir de uma maneira melhor e, apesar de não achar Haneke um cineasta ruim, ainda assim esse seu filme mais recente termina de um jeito decepcionante. Uma pena.

Galeria

Galeria