Batman: Arkham Knight

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Em um ano de parcos lançamentos para os consoles da nova geração, aquele pelo qual eu estava mais ansioso era este Batman: Arkham Knight, continuação direta do tremendão Arkham City (veja ao final desta matéria vários links relacionados ao Batman, incluindo resenhas dos jogos). E se você jogou Arkham City, deve se lembrar do surpreendente final do dito-cujo. E se você não jogou, cuidado, pois não dá para falar da história deste sem comentar o que acontece na iteração anterior.

O RETORNO DO ESPANTALHO

Todo mundo se surpreendeu com a morte do Coringa em Arkham City. Foi uma decisão boluda da Rocksteady matar o palhaço do crime, pois o Batman sem o Coringa é um personagem menos interessante, assim como os X-Men sem o Magneto. Não à toa, o próximo jogo, Arkham Origins, virou uma prequência, mostrando o primeiro encontro do morcegão com o palhaço.

Arkham Knight, no entanto, continuaria a história de onde ela parou, mostrando os efeitos que a morte do Coringa teve em Gotham. E sim, o vilão está no jogo, e novamente com a dublagem do eterno Luke Skywalker, Mark Hamill, como você pode ver em qualquer lista de elenco. Não se preocupe, ele não ressuscitou. Na verdade, a justificativa para a presença dele é bastante convincente e totalmente de acordo com a história contada aqui. E ele novamente rouba a cena, ironizando várias atitudes do Batman, tirando sarro e até ajudando às vezes, daquele jeito meio psicótico tão típico dele. Mas vamos à sinopse.

O Espantalho está de volta e se aliou a um tal de Arkham Knight, personagem criado para o jogo e que sabe muito sobre o Batman. O mestre do medo ameaça jogar sua toxina na cidade toda, o que faz com que Gotham seja evacuada. Sobram apenas as maçãs podres, incluindo grandes vilões como o Pinguim, o Duas Caras e o Charada. O Batman também fica por ali, disposto a prender todo mundo e colocar ordem na casa.

A história é legal e interessante na maior parte do tempo, mas tem alguns problemas sérios, todos eles perto do final. Ela simplesmente segue alguns caminhos que todo mundo que lê gibis já viu sendo utilizados muitas vezes e que a maioria de nós odeia, contrastando com a coragem e criatividade mostrados no jogo anterior.

E o principal problema é algo que inclusive se refletiu na nota final do jogo. A história não termina. Pelo menos não quando você conclui a trama principal. Para ver o final do jogo, é necessário prender todos os bandidos. E para prender todos os bandidos, você tem que pegar todas as centenas de porcarias que o Charada espalhou pela cidade. Se já é chato essas coisas existirem simplesmente para justificar troféus, a decisão de só mostrar o final do jogo para quem pegar tudo é absurda. E não é que você vê um final normal, e daí tem um melhor para quem fizer 100%. Simplesmente não tem final nenhum quando você termina a história do Espantalho. É como concluir qualquer outra missão.

Vou aproveitar para elaborar mais sobre o Charada, que sempre foi o principal problema da série, e depois me concentro no monte de elogios que Arkham Knight merece.

Eu até admiro o esforço da Rocksteady em fazer com que cada colecionável seja um “joguinho” em si. Um puzzle a ser resolvido ou um desafio a ser vencido. Com certeza eles se esforçaram mais do que as outras desenvolvedoras, que simplesmente espalham os itens pelo cenário. E graças a Odin, eles tiraram aqueles pontos de interrogação invisíveis que você tinha que alinhar usando a detective vision. Tudo isso isso seria legal, se tivesse, sei lá, uns 30, e fosse opcional. Mas tem quase 300. E você precisa solucionar todos para ver o final do jogo (ou então apertar play aí embaixo).

O lado bom é que antes você podia avançar a história do Charada apenas conforme fosse pegando as porcariazinhas. Aqui ele tem toda uma história envolvendo a Mulher-Gato que pode ser jogada até o final sem precisar pegar nada. Daí, quando termina, ele diz que fala com você quando pegar tudo, mas pelo menos dá para fazer as fases livremente sem ter que se submeter a essa chatice.

Não dá. Nas outras resenhas dos jogos da série, eu tirei pontos por causa do Charada e infelizmente tenho que fazer isso de novo. Felizmente, todo o resto do jogo é muito bom.

UMA GOTHAM QUASE FOTORREALISTA

Embora a abertura não seja tão forte quanto a de Arkham City (convenhamos, poucos jogos conseguem isso), logo você vai se surpreender com os gráficos. Quando você está dirigindo ou voando pela cidade, o negócio chega bem próximo do fotorrealista e eu não duvido que alguém que veja o jogo rodando de relance pense se tratar de um filme.

Toda a história acontece ao longo de uma noite, então obviamente não existem ciclos de dia e noite como é comum em jogos de mundo aberto. E o design da cidade é feito para maximizar isso, cheio de luzes e detalhes vibrantes, contrastando com a arquitetura gótica dos prédios. Nos jogos anteriores, quando tinha um pôster ou algo que se destacava do resto, normalmente era a solução de uma charada, mas agora é tudo tão detalhado que você vai escanear várias coisas aleatórias achando que encontrou segredos.

Também chove durante quase todo o jogo, e o efeito de chuva é o mais bonito que eu já vi. Os pingos chegam a cair na capa do Batman enquanto ele voa pela cidade, e o chão também fica molhado. Fazer chover foi uma opção estética da desenvolvedora e deu muito certo, pois acrescenta muita personalidade ao visual extremamente forte do jogo.

Com tudo tão próximo do real, uma coisa se destaca negativamente: os personagens. Não é que eles sejam malfeitos, e sequer tentam ser realistas, pois mantêm um visual de quadrinhos, mas falta algo. Quando você conversa com os policiais na delegacia de Gotham, por exemplo, eles falam apenas abrindo e fechando a boca, parecem robozinhos. Outros jogos, como The Witcher 3, conseguiram humanizar melhor seus personagens.

É uma picuinha, no entanto, e algo que só chama a atenção porque todo o resto é tão próximo da perfeição. É inegável o capricho da Rocksteady em esculpir cada pedacinho do jogo, e o design do Batman, em especial, é muito legal, melhor até do que o dos filmes mais recentes. Também achei bem interessante como a prisão vai enchendo conforme você vai prendendo criminosos.

O som é eficiente. Os efeitos sonoros são poderosos como têm que ser, mas a música, como nos jogos anteriores, não é lá muito marcante. Ela faz seu papel, intensificando os sentimentos do que está acontecendo naquele momento, mas não vai ficar na sua cabeça.

BATMÓVEL

Nenhum outro herói tem um carro tão famoso e que gere tanto desejo entre os fãs quanto o batmóvel. Assim, era surpreendente que nos três jogos anteriores a este, você não tivesse a oportunidade de controlar o carrão. Era uma questão de tempo, e finalmente Arkham Knight permite que os jogadores se movimentem pela cidade voando ou dirigindo.

A crítica especializada se uniu em consenso contra o batmóvel, que vem sendo muito criticado. Devo dizer, à primeira vista eu também não gostei dele. A decisão de colocar o acelerador no R2 e o freio no quadrado (ao invés de no L2, como é tradicional) causa estranhamento e dificuldade. O L2 tendo que ser segurado durante o combate, então, é ainda mais inconveniente. Felizmente, ambos estes defeitos são resolvidos alterando o “battle mode” no menu de opções de jogo. Aí o L2 vira freio e um simples toque no R1 transforma o carro no seu modo tanque. Quando descobri isso, comecei a gostar tanto de dirigir quanto de voar pela cidade.

Pois é, delfonauta, você leu certo. Ao apertar o R1 (ou segurar o L2, no controle padrão), o carro se transforma em um tanque, com uma movimentação mais livre e várias armas poderosíssimas. É até engraçado quando você está dirigindo e uns capangas começam a metralhar o carro, tadinhos.

Ok, o combate sobre rodas não é tão legal quanto sair na mão, mas serve para variar um pouco o gameplay. E os modos porradaria e predador (momentos em que os inimigos estão armados e que precisam de uma abordagem stealth) continuam tão bom quanto sempre foram.

Quando você está simplesmente se locomovendo pela cidade, pode tanto usar o carro quanto sair planando como nos jogos anteriores. Ambos são divertidos, e o voo foi bastante melhorado. Agora, ao usar o arpão, você pode ganhar um impulso que te joga muito mais alto e muito mais rápido, deixando ainda mais legal explorar Gotham do que era antes.

As poucas corridas com o Batmóvel são muito legais, pois o carro corre pelas paredes e faz loopings como se não existisse gravidade. Também tem alguns momentos que você deverá pendurar o carro para atingir lugares de outra forma inalcançáveis. Eu gostaria até que tivessem aproveitado mais essas habilidades únicas.

OUTRAS BAT-NOVIDADES

O resto da jogabilidade foi aperfeiçoado, mas não traz tantas novidades. Duas coisas novas se destacam. Uma delas é o multi-takedown, que permite que você nocauteie vários inimigos próximos antes que eles consigam reagir.

A outra novidade é que em alguns momentos bem específicos do jogo, você pode contar com um sidekick. Cada personagem tem animações e gadgets próprios e você pode alternar o controle entre eles e o Batman à vontade quando eles estiverem disponíveis. Tem até um takedown em conjunto que nocauteia até mesmo os inimigos maiores. Em determinado momento da campanha, é claro que veríamos o Batman e Robin juntos, culminando inclusive em uma batalha final muito legal.

No vídeo abaixo, você pode conferir um trecho desta parte, mostrando tanto o multi-takedown quanto o Batman e o Robin lutando contra uma pá de capangas contratados. E também pode ver como eu tenho dificuldade com inimigos que usam escudos. Malditos sejam!

Outras novidades menores envolvem golpes usando o cenário na melhor tradição Sleeping Dogs e a possibilidade de pegar bastões do chão na melhor tradição Streets of Rage. Nenhuma delas faz muita diferença, mas também não atrapalham.

MUNDO ABERTO, MAS SEM EXAGEROS

Uma grande picuinha minha com jogos de mundo aberto é a quantidade de coisas que eles colocam para inflar o jogo. Em jogos como Dying Light, por exemplo, você tem tantas missões ao mesmo tempo que ativa a ansiedade de qualquer um.

Arkham Knight, pelo contrário, consegue distribuir muito bem o seu conteúdo. Se você for fazendo as sidequests conforme elas forem aparecendo, você nunca vai ter mais de duas ou três abertas ao mesmo tempo. Elas seguem aquele padrão de Infamous, com alguns tipos de missões que se repetem. Tem algumas que são porrada, outras são stealth, outras envolvem corridas ou batalha no batmóvel.

No entanto, ao contrário de Infamous, aqui isso não me incomodou. Eu gosto tanto da jogabilidade da série que voar até determinado lugar e socar alguns bandidos ou assustar outros é um prazer. Assim, eu posso dizer que me diverti muito em quase todo meu tempo com o jogo (a exceção é uma parte bem chatinha em que você tem que encarar uns tanques sem ter acesso ao batmóvel).

Assim, temos um jogo que dá a liberdade de um título em mundo aberto, mas com mais foco do que costumamos ver no gênero, e isso muito me agrada.

DLCs

Aqui vale um aviso. Assim como fizeram em Arkham City, Arkham Knight vem com uma grande quantidade de DLCs na embalagem (são três no Xbox One e cinco no PS4). Estes DLCs, assim como o da Mulher-Gato no jogo anterior, fazem parte da história principal, o que significa que você terá um jogo incompleto se pegar o jogo usado.

É uma atitude lamentável, especialmente porque não são conteúdos feitos para serem vendidos. São coisas que foram intencionalmente cortadas do jogo completo para inibir o mercado de usados.

E o pior é que estes mimos vêm apenas na versão em disco. A versão cedida ao DELFOS para esta análise foi digital e NÃO INCLUI NENHUM desses DLCs. Portanto, pode comprar sem medo este jogo, mas não gaste seu dinheiro de jeito nenhum com a versão digital. Ela custa o mesmo preço do disco e vem incompleta. Além disso, haja HD para guardar os quase 50Gb que o game ocupa.

CAVALEIRO ARCÃO

O combate e o predador sempre foram sensacionais. O batmóvel pode ser desnecessário, mas eu gostei dele. Os puzzles são muito bem pensados e divertidos (tem um na história principal envolvendo um código e um espelho que é muito criativo) e o visual é top de linha. Com tudo isso, Batman: Arkham Knight se tornou o meu jogo AAA preferido de PS4 até o momento.

Se tirasse os colecionáveis e viesse completo para todo mundo, poderia ser perfeito. Ainda assim, é uma compra certa não apenas para fãs do Batman como para fãs de jogos de ação. E se você é fã dos dois então, nem pense duas vezes.

OUTRAS BATMATÉRIAS DE INTERESSE:

Os batfilmes:

Batman: Dead End
Batman Begins
Batman – O Cavaleiro das Trevas
Batman – O Cavaleiro das Trevas, em Imax
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
Os extras do DVD de Batman Begins

Os batgames, batséries televisivas e batvariedades:

Batman: Arkham City
Batman: Arkham Origins
Batman na TV – Parte 1
Batman na TV – Parte 2
Tremendões: Batman – O Cavaleiro das Trevas

A batliteratura:

Batman: Asilo Arkham
Batman: A Piada Mortal
Batman: O Cavaleiro das Trevas
Dicionário do Morcego
Asilo Arkham: Inferno na Terra
Batman Crônicas – Volume Um
Batman – O Longo Dia das Bruxas
Grandes confrontos entre Batman e Coringa
Batman: Terra Um

Galeria

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
batman-arkham-knightAno: 2015<br> Gênero: Batman!<br> Plataforma: PC, PS4 e Xbox One<br> Fabricante: Rocksteady<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: WBIE<br>