Ultimamente eu venho gostando muito de músicas étnicas de diversas partes do mundo. De mantras a danças circulares, eu tenho curtido coisas que nunca imaginei que curtiria tanto algum dia. Um desses gêneros é música indígena. Lembro quando estava jogando Assassin’s Creed III, eu simplesmente adorei as músicas indígenas que tocavam nas primeiras fases em que o jogador controla o Connor, ainda criança.
Foi por causa disso que escolhi o CD do Arandu Arakuaa para resenhar quando chegou aqui na redação um enorme pacote de CDs. A bela capa, totalmente fora do estilo vento preto, fogo e aço típicos do heavy metal, prometiam algo diferente. Uma breve folheada no encarte e as letras das músicas chamavam a atenção por serem em uma língua totalmente desconhecida, provavelmente algum idioma dos índios brasileiros.
Qual não foi minha decepção ao colocar a bolacha para tocar e constatar que a faixa de abertura T-atá-iasy-pe era apenas um thrash metal bastante comum. De qualidade, porém não tinha nada que realmente os tornasse uma banda diferenciada.
No tempo que passei com o CD Kó Yby Oré, no entanto, essa decepção inicial foi lentamente se modificando e passou a se tornar um dos CDs que eu mais ouvi nas últimas semanas, não apenas para me preparar para esta resenha que ilumina a tela do seu computador, mas porque eu realmente gostei dele.
As influências indígenas começam a aparecer mais nas músicas seguintes, especialmente nas partes cantadas com voz limpa feminina. É menos do que eu gostaria, admito. O que a banda faz é um thrash metal caprichado com um tempero indígena. E é uma pena que a parte indígena não passe de um tempero, pois são os melhores momentos do disco.
Não por acaso, minha preferida é a instrumental Tykyra, que é singela, agradável e dá vontade de dançar ou acompanhar com palmas. Outra que me apeteceu muito foi a alegre e empolgante Auê.
O legal é que, apesar de as letras serem totalmente incompreensíveis para a maioria de nós, as músicas passam um clima positivo e são extremamente pegajosas. Apesar de as duas supracitadas serem minhas preferidas, o CD tem uma qualidade bem regular em toda sua duração, sem nenhuma faixa chata.
As canções são tão pegajosas que, mesmo não entendendo as letras, você acaba cantando junto, nem que seja em gibberish mesmo, embora de vez em quando seja possível entender algumas coisas como “Ibirapuera”, o que deixa até engraçado.
Por causa disso, eu gostaria bastante de ver o Arandu Arakuaa ao vivo. Não apenas porque o som deles é muito legal, mas porque deve ser engraçadíssimo ver o público cantando junto, cada um fazendo seu melhor para cantar as letras incompreensíveis.
E isso me leva a outro ponto. Temos aqui o CD mais artístico que ouvi no mundo do metal em muito tempo. Afinal, a banda tem nome difícil e as músicas mais ainda. As letras são cantadas em uma língua que ninguém conhece e, convenhamos, música indígena não é sinônimo de hitmaker no Brasil. Isso tudo somado demonstra que a banda está bem mais interessada em seguir um caminho de realização artística própria do que de sucesso comercial. Bom para eles e, se conseguirem fazer com que o sabor indígena deixe de ser um tempero e se torne realmente o ingrediente primordial, temos aí uma banda que eu sem dúvida vou acompanhar.
CURIOSIDADES:
– O CD não é muito claro em suas informações. N’ájila Cristina é creditada como a vocalista, mas o guitarrista Zândhio Aquino (fala sério, até o nome dos músicos é difícil!) é creditado como o vocalista tribal. Eu imaginei que isso significa que ele fazia os vocais gritados, mas ao ver o clipe da banda parece que a moça faz as duas vozes. Confira:
– Aqui está a página de Facebook do Arandu Arakuaa, onde você pode acompanhar os caras e comprar o CD. E pode comprar sem medo, porque ele é danado de bom.