O pôster deste filme engana, amigo delfonauta. Ao contrário do que parece, o personagem de Sean Penn não é um travesti, mas um músico que foi muito famoso no passado. Sabe quando os músicos eram totalmente andróginos? Então.
Pela descrição oficial, que diz que o protagonista foi um astro do Rock, eu logo imaginei algo como Alice Cooper. E até faz sentido pelo visual. No entanto, assim que você vê a interpretação de Sean Penn, parece que tem alguma coisa errada. Nenhum dos roqueiros andróginos dos anos 70 e 80 fala daquele jeito ou parece ser tão frágil.
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Só depois de um bom tempo de projeção que caiu a ficha: o cara não era um rockstar. Ele era de uma banda precurssora do emo, tipo The Cure.
Agora sim, tanto o visual quanto a interpretação se encaixam perfeitamente. O estrago que uma descrição errônea faz, não, delfonauta? Provavelmente qualquer pessoa que gosta tanto de música quanto você ou eu, ao pensar em um roqueiro andrógino iria estranhar a interpretação. Se tivessem logo citado o pop, minha mente já teria imediatamente ido para o The Cure e não teria rolado o ruído com a interpretação do ator.
Ainda assim, admito ter as minhas dúvidas quanto ao conhecimento musical dos criadores do filme. Veja só, em determinado momento, conhecemos uma banda nova chamada The Pieces of Shit. Até faz sentido dentro do tratamento que Hollywood costuma dar ao rock, como um estilo de música cada vez mais agressivo. No entanto, o único gênero musical no qual eu consigo imaginar um grupo com este nome seria no hardcore. Ao invés disso, o som do The Pieces of Shit é mais ou menos assim:
Não encaixa, né?
CAÇANDO UM CAÇADOR
Mas chega de falar de música, até porque isso é bem menos importante para a história do filme do que pode parecer. Na verdade, acredito que o filme seria mais ou menos igual se o protagonista fosse um empresário ou algo assim, pois, embora alguns diálogos realmente foquem na música, e tenhamos uma ponta do David Byrne, dos The Talking Heads, isso fica totalmente no segundo plano.
A história mostra Cheyenne (Sean Penn) voltando para os States para o funeral de seu pai, com quem não falava há décadas. Ali, descobre que seu progenitor passou a vida inteira caçando o nazista que o torturou no holocausto, e resolve terminar a missão não cumprida do seu velho.
Temos um filme que aparenta ser bastante pessoal, com belíssimas imagens e uma trilha sonora escolhida a dedo para potencializar as emoções de cada cena (embora nenhuma das faixas possa ser chamada de rock). As interpretações estão nada menos do que sensacionais e a direção, ao optar por planos fechados e closes acaba valorizando ainda mais o esforço dos atores.
Assim que você percebe que Cheyenne não era um músico de rock, mas de pop, sua interpretação também ganha muito e, para dizer a verdade, é uma das melhores performances tespianas dos tempos recentes. Em alguns momentos dá vontade até de levantar da cadeira e aplaudir.
Infelizmente, a narrativa deixa um pouco a dever. Embora o filme não se renda a clichês ou cenas repetidas, parece que tem coisa faltando. O protagonista passa de uma pista para a outra sem sabermos o que o levou até lá. Fosse um Blues Brothers, em que eles, como dizia Elwood, estão em “uma missão divina”, vá lá, mas não é o caso. A sensação é que algumas cenas foram excluídas e não perceberam que isso abria um buraco na história.
Então, amigo delfonauta que gosta de filmes relacionados a música (e eu sei que você gosta), vá assistir a Aqui é o Meu Lugar, mas não vá pela história. Vá para se emocionar com as muitas coisas que ele tem de bom, e simplesmente ignore os buracos, como faz quando está dirigindo pelas estradas brasileiras.
