Aprendendo a Mentir

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Certos filmes complicam bastante o trabalho do crítico. Aprendendo a Mentir é um deles. Para facilitar minha labuta, apresento aqui uma nova definição para tais filmes. Vou chamá-los de “filmes nada”. Como exemplo prático, usarei Aprendendo a Mentir. Explico: o filme não é bom – depois de meia hora some da memória sem deixar rastros – mas também não é ruim, já que não ofende a inteligência do espectador, por exemplo. Ele não apresenta nenhum tipo de curiosidade a ser repassada para quem porventura leia alguma matéria sobre ele (mas há exceções para outros “filmes nada”). Também não possui uma temática interessante e nem que gere discussões e teorias a seu respeito (coisa que nós, nerds, adoramos – e aproveite para ler a resenha de Matrix), salvo novamente algumas poucas exceções para certos filmes dessa nova definição. Assim, sua única função torna-se ajudar a passar o tempo ocioso sem precisar pensar muito. Só que o problema é que há milhares de outros filmes que cumprem essa função muito mais satisfatoriamente.

Entendeu? Acompanhe a sinopse para uma melhor compreensão: tudo começa quando Helmut (que nome bacana!) descobre que sua namorada está grávida. Para piorar, ela diz que vai ter o bebê de qualquer jeito e lhe dá um ultimato: ou ele fica a seu lado, ou some. A partir daí vemos em flashback toda a vida amorosa do rapaz, desde seu primeiro grande amor dos tempos de colégio, Britta (outro nome muito legal), a qual ele nunca esqueceu (como já dizia o subtítulo de American Pie, a primeira vez é inesquecível) e passa a usá-la como base de comparações para todas as que vieram depois. Helmut é um típico homem-clichê. Tem medo de compromisso e quando seus relacionamentos ficam sérios ele dá um jeito de estragar tudo, não suporta ficar acomodado e comete traições sem grandes motivos.

Este tema – porque os homens agem de forma errática em seus relacionamentos amorosos – pode parecer interessante, mas em nenhum momento o filme se aprofunda no assunto e nem propõe uma discussão sobre isso. Portanto, ele não saiu das características apresentadas acima.

Além disso, “draminhas” com toques cômicos (embora eles não funcionem neste caso) sobre as dificuldades do amor existem aos montes e com diferentes graus de êxito. Portanto, este é apenas mais um na multidão.

Para piorar a situação de nosso caro Aprendendo a Mentir, ele é um filme alemão de 2003, o que significa, se minhas previsões estiverem afiadas, que vai passar batido nos cinemas, visto que o grande público não tem o costume de assistir filmes que não sejam estadunidenses (maldito imperialismo cinematográfico!). Com dois anos de atraso então…

Para concluir: este filme não merece uma ida aos cinemas, principalmente com os ingressos ao preço em que estão. Recomendo assisti-lo apenas no domingo à tarde pela TV, quando não houver mais nada de interessante passando. Ou melhor ainda, prefira alugar Adeus, Lênin!, esse sim um filme alemão bem legal.

Aproveite para ler as resenhas de outras obras que este que lhe escreve considera como sendo “filmes nada” (mesmo que nem sempre a pessoa que fez a resenha concorde comigo):
Tróia
Eu, Robô
O Terminal
Menina dos Olhos
Cruzada

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).