Ah, os bons e velhos filmes pós-apocalípticos. Normalmente eles envolvem zumbis, ou grandes cenas de ação. Ao Cair da Noite é um dos raros casos sem um nem outro. Aliás, o que temos aqui é um filmen intimista com a maior cara de indie com orçamento limitado. E o mais legal é que ele lida muito bem com suas limitações.
Aqui conhecemos Paul e sua família, que moram em uma casa no meio do nada. Tem alguma coisa errada com o mundo, mas isso nunca é elaborado. Uma doença é constantemente citada, e aparentemente ela é muito contagiosa.
Uma noite, um sujeito chamado Will invade a casa, e a turminha se defende. No entanto, após interrogar o invasor, eles acreditam que ele estava apenas buscando por suprimentos e não tinha intenção de atacá-los. Os protagonistas resolvem, então, convidar Will e sua família para se mudar para a casa deles. Afinal, com mais pessoas será mais fácil proteger o local, e os novos amigos têm alguns animais que todos podem usar como alimentos.
O filme todo é construído em cima da relação dessas duas famílias, tornados aliados pelas circunstâncias, e não por escolha própria. Até que ponto cada grupo deve confiar no outro? O início do filme, no qual a família de Paul discute sobre o que fazer com Will, remete diretamente a várias cenas semelhantes de The Walking Dead.
No entanto, o foco na relação entre os personagens acaba lembrando mesmo é do excelente jogo The Last of Us. Sabe como na obra da Naughty Dog os melhores momentos são aqueles nos quais não acontece nada? Pois Ao Cair da Noite é um filme composto basicamente dessas cenas.
Não é desenvolvido o que aconteceu com o mundo, ou de onde veio essa doença. Eles falam que não saem à noite, mas não falam o motivo. O próprio título original, It Comes At Night, não é explicado. O que é este it, e por que ele só vem à noite? Nesse sentido, o título nacional até se encaixa melhor na obra final.
Aqui sabemos apenas as coisas padrão de filmes pós-apocalípticos: que estranhos podem ser hostis e todos estão tentando sobreviver em um mundo sem contrato social e as proteções da civilização. Ainda assim, o filme é bem tenso, especialmente nas suas últimas e excelentes cenas. É um daqueles casos que faz muito com pouco, e a gente gosta de filmes assim aqui no DELFOS.
Não é para todo mundo, sem dúvida o que temos aqui não é um terror para o grande público, mas algo muito mais emocional e sugerido do que de fato mostrado. É o tipo de filme que costuma fazer sucesso mais em festivais de cinema do que em lançamentos comerciais, mas ele se dá muito bem no que almeja fazer, e deve ser assistido por qualquer admirador de filminhos de medo.