Anticristo

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O que diabos está acontecendo com esses diretores hypados? Ok, Livro das Revelações e Otto são pornôs dirigidos por ilustres desconhecidos, mas Desejo e Perigo é do Ang Lee. E este Anticristo é do Lars Von Trier, que fez os famosos Dogville e Dancing in the Dark, além de ter criado (junto com Thomas Vinterberg) o movimento Dogme 95.

Agora alguém me explica por que um caboclo com esse currículo resolveu gravar um filme pornô? E pornô gore ainda por cima, no melhor estilão Otto! Divulgado como o primeiro terror do cara (o que colocou o longa no radar aqui do DELFOS), Anticristo não tem absolutamente nada do gênero. Aliás, não tem absolutamente nada de Anticristo também. No final das contas, trata-se de um filme nada, não da forma popularizada pelo Cyrilover, mas pelo simples fato de que nada acontece.

Se liga: uma criança morre. Seus pais, especialmente a mãe, ficam tristes. Ela fica ninfomaníaca. Isso são os primeiros dois minutos do troço. Depois disso, passa mais de uma hora e meia sem absolutamente nada acontecer, até que no final temos uma perseguição que remete diretamente a O Iluminado e algumas cenas gore pra lá de pesadas.

Tá, com seus filmes anteriores, Laurêncio da Triagem conseguiu colocar seu nome na história da sétima arte, mas não conseguiu ganhar meu coração. Falando especificamente da direção desse aqui, posso comparar o trabalho do cara como algo entre o Rob Liefeld e o Led Zeppelin.

Aqui temos vários cortes estranhos e planos fora do padrão que simplesmente parecem errados. Rob Liefeld – e seus punhos da grossura do braço – sem dúvida defenderiam Lars dizendo que isso não é erro, é estilo. E pode até ser mesmo. Afinal, não existe erro na arte. Porém, saber disso não faz com que incomode menos.

Já a comparação com Led Zeppelin há de ser polêmica. Quando me aprofundei no som da banda de Page & Plant, percebi que eles estavam tentando levar o Rock para lugares nunca antes navegados. Assim, eles pegavam seus instrumentos, que sabiam controlar muito bem, e viam o que era possível fazer com eles. Algumas vezes, isso gerava coisas geniais. Em outras, gerava um apanhado de sons que era realmente difícil de chamar de música (o mesmo pode ser dito de artistas de outras áreas, como Picasso, por exemplo).

Passando isso para a obra de Trier, ele claramente é um cara que manja das técnicas cinematográficas. Isso porque muitos dos planos do filme são esteticamente lindos, mas não levam a lugar nenhum. Não evoluem os personagens, nem a história. É estética vazia, esquecendo completamente da parte mais importante de um filme: o roteiro.

Se alguns diretores desaparecem em seus filmes (o que não é necessariamente ruim), aqui acontece o contrário. Em nenhum momento você esquece da presença de Lars Von Trier, já que a direção está constantemente tentando ir a lugares nunca antes navegados. Considero até algo positivo essa tentativa de forçar os limites, mas não dá para negar que tanto experimentalismo torna o filme extremamente chato. Não se trata de um terror para quem gosta de terror, mas se tanto de um terror para fãs do cineasta.

Além disso, não consigo ver nada de terror aqui. Se nada acontece, nada dá medo. O filme é um apanhado de cenas longas e monótonas, intercaladas pelo piupiu do Dafoe – o que eu não fazia a menor questão de ver. No finalzinho, algumas coisas bem terríveis acontecem, incluindo uma cena de mutilação feminina que está entre as coisas mais pesadas já vistas no cinema. Se quer mais detalhes, selecione o espaço em branco abaixo.

A câmera foca na cobiçada da moça, ela pega uma tesoura, mira no clitóris e… snipt! Eu não queria olhar, mas meu lado negro falava: “olha, seu bobo! Você nunca mais vai ter chance de ver um clitóris sendo cortado fora por uma tesoura”. Essa mesma voz complementava: “mas duvido que ele tenha bolas para mostrar, de qualquer forma”. Ele teve as bolas.

Outras coisas terríveis acontecem nesse final, inclusive atentados contra áreas masculinas que Deus planejou que fossem sempre tratadas com carinho. Ainda assim, é muito pouco muito tarde. E convenhamos, não faz sentido nenhum dentro da história que o filme levava até aí. A mina simplesmente endoida de vez.

Pela quantidade de Alfredos que ilustram essa matéria, você já deve saber que não recomendo este filme. Talvez fãs do Lars Von Trier possam aproveitar algo, mas fãs de terror que não gostaram de Dogville podem passar reto. Não há nada para ver aqui. Tirando a mutilação de clitóris, é claro!

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