O principal ponto desta análise Forspoken é quão estranho este game é. Temos aqui os ingredientes necessários para um título no mínimo bom, e suficientemente bem avaliado. Porém, uma enorme quantidade de decisões estranhas é responsável pela péssima recepção que ele vem recebendo. Bora?

ANÁLISE FORSPOKEN

Comecemos pelo começo. Forspoken é um RPG de ação em mundo aberto com combate e movimento focados em mágica. Na prática, estes dois pilares do gameplay lembram uma versão mais mágica dos poderes de gibi de Infamous.

Análise Forspoken, Forspoken, Square Enix, Luminous Productions, Delfos

Quando joguei o demo, fiquei dividido. Muito impressionado pelo visual e satisfeito pelo combate e movimentação. Porém, tive receio de o jogo ser aquele estilo de mundo aberto repleto de enrolação. Coisas como “vá até lá, vença um grupo de inimigos, abra o baú, repita até não aguentar mais”.

Este meu receio acabou não vingando no jogo final, que traz missões de história mais bacanas e elaboradas. Porém, eu não conseguia entender porque o combate e o visual estavam tão inferiores na versão final em comparação ao que eram no demo.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO

E se eu te dissesse que Forspoken teria sido muito melhor recebido com uma simples mudança de ordem? Tivesse os mesmos exatos ingredientes, mas se os poderes iniciais fossem os de fogo, e o primeiro cenário fosse o segundo? Bizarro, não? Mas este é o poder da primeira impressão.

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A primeira área de Forspoken é muito feinha.

A campanha tem o objetivo principal de você caçar e matar quatro Tantas. Estas são as líderes da terra mágica Athia, para a qual a novaiorquina Frey é transportada. Cada Tanta tem um cenário específico, e poderes elementais. O problema é que você passa mais da metade do jogo apenas com os poderes de terra iniciais e na área da Tanta da força. Este é o pior que Forspoken tem a oferecer.

É o cenário mais feio e os poderes mais sem graça. Com os poderes de terra, você joga pedrinhas a cada toque do gatilho direito, o que exige que você precise ficar martelando o botão para fazer dano. Além disso, boa parte dos inimigos nessa primeira metade usa escudo, o que torna atacá-los pela frente inútil.

ANÁLISE FORSPOKEN E A SEGUNDA IMPRESSÃO

Depois de vencer a primeira Tanta, o que acontece na metade do game, parece que o jogo finalmente começa. Os poderes de fogo tornam o combate realmente prazeroso, melhoram consideravelmente sua movimentação e, finalmente, os cenários são aqueles do demo que tanto me impressionaram.

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Agora sim!

O curioso é que a partir daí, o game, que estava absurdamente lento, se torna rápido demais. As outras Tantas vêm uma depois da outra, liberando novos poderes elementais e uma nova skill tree para cada um deles.

Para você ter uma ideia, quando eu só tinha uma skill tree, quase a completei totalmente antes da primeira Tanta. Daí, quando as outras apareceram, precisava ficar devolvendo as habilidades previamente compradas (o que dá um reembolso completo) para turbinar as novas. A coisa passou a ser tão rápida que eu não recebia skill points suficientes para ficar mais poderoso com um novo elemento antes de ganhar outro, eu precisava cancelar quase tudo que tinha comprado para brincar com os novos.

A ORDEM DO AMOR

Os reviews que li se dividiram de forma bem clara. Alguns falam que o jogo é uma porcaria, e que droparam durante a campanha. Outros, dizem que a coisa melhora muito se você insistir. E esse é o problema. Eu estava com umas 13 horas de jogo quando ganhei os poderes de fogo (certamente é possível ser mais rápido se você não explorar muito o mapa e atividades secundárias). Terminei a campanha com 20. Depois dos créditos, uma série de sidemissions aparece como epílogo, o que dá mais uns 90 minutos de jogo.

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Os poderes de fogo são uma delícia, e visualmente espetaculares.

Sinceramente o combate com os poderes de terra era tão chato que eu mesmo estava querendo parar antes da primeira Tanta. Mas daí, absolutamente do nada, o jogo ficou bom. Com um combate legal e uma movimentação deliciosa. Se os poderes de terra viessem em segundo, você podia simplesmente ignorá-los e voltar ao anterior. Mas como são os únicos durante metade do game, você fica preso neles – e depois de liberar outros nunca mais volta a usá-los. A questão é: você está disposto a investir dez ou mais horas de tédio para ter dez bacanas depois? Ficar preso no poder de terra durante mais da metade da campanha foi uma péssima decisão da desenvolvedora.

OUTRAS ESTRANHEZAS

A ordem de seus ingredientes não é a única estranheza de Forspoken. Temos aqui um jogo que grita next-gen, que carrega no PS5 mais rápido até do que os games da própria Sony. Sério, carregar savesfast travel é praticamente instantâneo. Não é que a tela fica preta e em seguida a imagem aparece. Você quase não vê a tela preta de tão rápido. Tinha games de Mega Drive que demoravam mais para carregar.

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Ao mesmo tempo, há carregamento em coisas estranhas. Abrir o mapa ou outras páginas do menu leva um segundo até todas as informações aparecerem. A tela fica preta por um segundo quando você passa por portas, e às vezes até no meio de cutscenes. É bem bizarro que o game consiga te transportar de um ponto a outro do mapa instantaneamente, mas demore um segundo para te colocar do outro lado de uma porta ou para mostrar o mapa.

MUNDO ABERTO, MAS NEM TANTO

Além disso, outra estranheza é a quantidade de tempo em que o jogo simplesmente tira o controle das suas mãos. É comum Frey literalmente parar para conversar com sua algema mágica, estilo Shenmue. Em outros pontos, você fica impedido de se mover enquanto informações em texto aparecem na tela ou, sei lá, enquanto o game pensa. Tem hora que não dá para andar nem girar a câmera, e dá impressão que o jogo travou. E daí os controles voltam alguns segundos depois.

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Prepare-se para ficar muito tempo parado ouvindo conversas. Estilo Shenmue.

Sem falar na enorme quantidade de cutscenes, que faz parecer que Forspoken é um game do Hideo Kojima, mas sem a mesma qualidade de animação. Durante boa parte do jogo, você fica capítulos inteiros presos na cidade principal, simplesmente andando de um ponto a outro assistindo a uma nova cutscene quando chega no seu objetivo.

As últimas duas horas, então, são uma sequência interminável de audiologs pentelhos, um depois do outro, enquanto o game explica detalhadamente a viradinha mais clichê da história. E depois disso, só tem o chefe final. E você sabe, eu não curto chefes.

ANÁLISE FORSPOKEN, FREY E O RACISMO

A história também tem seus problemas. Muita gente reclamou da protagonista, o que fez com que outra leva dissesse que só estão reclamando por ser uma mulher negra. Ora, de fato deve ter alguns idiotas que não gostaram dela por causa disso. Mas a moça tem problemas sérios como personagem, que nada têm a ver com seu gênero e etnia.

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Um dos “raros” momentos de mundo aberto real.

Ela trata todo mundo muito mal, mesmo pessoas que tentam ser suas amigas. Acho que a ideia foi fazer uma protagonista atrevida, com respostas engraçadas. Uma coisa meio Dante feminina. Mas o Dante é tão legal porque ele tem essa atitude com os monstros. Ele não é um babaca com todo mundo. Frey é. Em determinado ponto da história, todos os NPCs ficam de saco cheio e começam a tratar a Frey mal, e este é o ponto da história que faz mais sentido. Afinal, é assim que qualquer pessoa reagiria a alguém tão hostil quanto Frey.

A primeira metade do jogo tem os poderes e movimentação mais limitados quando te deixa jogar, mas também tem muito tempo em que você fica apenas assistindo. A história é contada com muito mais calma do que deveria, com um longo trecho na abertura passado em Nova Iorque, antes do transporte para a terra mágica. Você só vai sentir de fato como é o combate e a movimentação quando estiver com algumas horas de jogo. E só vai chegar naquela parte do demo quando estiver perto das 15 horas. Forspoken é muito, MUITO lento, e este é um dos seus principais problemas.

ANÁLISE FORSPOKEN: QUANDO É BÃO, É BÃO

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Os desafios de plataforma da segunda metade também são muito legais.

Só que quando Forspoken fica bom, ele realmente fica bom. A ponto que eu passei a primeira metade querendo parar de jogar, mas fiquei chateado quando ele de fato acabou, porque neste momento estava me divertindo, e queria brincar mais com meus novos poderes, que demoraram tanto para aparecerem.

Tem muitos momentos bacanas na segunda metade. O combate fica melhor o tempo todo (e os inimigos com escudos param de aparecer). O último poder elemental é extremamente poderoso, mas aparece quase imediatamente antes do chefe final. O mundo fica bonito, tem mais desafios de plataforma e mais fases propriamente ditas. O trecho em que você volta a Nova Iorque para uma fase linear se destaca, e dá a sensação de estar jogando Inception.

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A Origem: o game.

Até a história fica mais legal, ainda que não arrisque nada que não tenhamos visto em histórias como essa outras vezes. Só que, de novo, o investimento que ele exige para você ter acesso a essas partes boas é enorme. E me refiro não apenas a tempo, mas em energia. Daí fica difícil de recomendar.

ANÁLISE FORSPOKEN: CINCO HORAS DE DIVERSÃO

Entre a abertura com combate sofrível, e o excesso de audiologs no final, devo ter tido cinco horas reais de alta diversão por aqui. Para um game de mundo aberto, Forspoken limita muito o tempo que você de fato tem para interagir com seu mundo e atividades.

Particularmente, eu gostei de ter jogado Forspoken. Mas não paguei por ele, já que recebi um código de review da Square Enix. Se não estivesse jogando a trabalho, é bem provável que tivesse parado de jogar antes da primeira Tanta. E mesmo que tivesse ido até o fim, provavelmente teria ficado incomodado de ter pago o equivalente a 70 dólares nele. Então como sempre esta análise Forspoken não vai te falar diretamente se você deve ou não jogar. Espero ter dado neste texto informações suficientes para você tomar sua próxima decisão. E, ei, não esqueça de me contar o que decidiu nos comentários.