Deathloop é o novo jogo da Arkane Studios, o talentoso estúdio francês da Bethesda, famoso pelas franquias Dishonored e Prey. Por que você deveria se importar com ele? Porque é seríssimo candidato a melhor jogo de 2021. Confira a nossa análise Deathloop.
Análise Deathloop: o inferno que é viver o mesmo dia
Sabe o filme Feitiço do Tempo? Em Deathloop, o protagonista, Colt, revive o mesmo dia, eternamente, mesmo quando ele morre. É o mesmo inferno que o Bill Murray passa no filme clássico da marmota (e no mais recente Mate ou Morra). Porém, aqui há agravantes.
Pra começar, Colt acorda bêbado numa ilha e sofre de amnesia. Depois, tem uma mulher, chamada Juliana, tentando matá-lo. Só que fica pior ainda, Juliana comanda um exército de “eternalistas” e visionários que protegem o Loop.
Esses visionários são sete chefões com super poderes e, para completar a tragédia, eles e Juliana devem ser assassinados no mesmo dia para reverter o Loop.
Assim como no clássico de Bill Murray, Colt começa a se lembrar que está revivendo o mesmo dia, ao contrário dos fanáticos da ilha.
O problema é que Juliana também se lembra. Ela sabe onde Colt está a todo momento e pode matá-lo, pondo fim ao progresso que ele teve naquele dia e obrigando-o a recomeçar, tudo de novo.
“Death” + “loop”, sacou?
Análise Deathloop: não existe outro jogo igual a Deathloop
Deathloop é muito, muito bom, por vários motivos. Ele leva à perfeição as mecânicas de Dishonored, resgata ideias que estavam extintas há décadas nos AAAs e, talvez mais importante, ele não se leva a sério.
Para reverter um dia que se repete pra sempre, é de se imaginar que algum grau de inteligência seria necessário. Colt, no entanto, não é nenhum Sherlock Holmes. Ele é teimoso e bem burro, o que faz dele o tipo carismático até doer, estilo Homer Simpson.
A conexão que você sente com o personagem é imediata. Assim que o jogo começa, você já se afeiçoa ao trapalhão Colt. Conforme você fica mais esperto e perigoso, Colt também fica mais esperto e perigoso. A simbiose é perfeita.
Análise Deathloop: 16 áreas, 4 layouts
Como Colt, você explora as ilhas por áreas, nos diferentes períodos do dia. São 04 áreas/layouts principais, em 04 períodos: manhã, meio-dia, tarde e noite.
Cada área muda bruscamente de clima, armadilhas, inimigos, o que na prática dá a sensação de jogar em 16 áreas diferentes.
Os sete visionários e Juliana sabem de suas intenções, então nunca ficam juntos, na mesma área ou momento do dia.
Isso é um problemaço, a não ser que você influencie os vilões a estarem em locais e horários que te favoreçam… e aí vem toda a graça do jogo, porque você tem de planejar os eventos para, ao final do jogo, matar todos numa empolgante última missão.
Até lá, você terá de matar os visionários um por vez, para obter pistas e mais informações. Com o seu progresso, você fará isso de maneiras mais criativas, eficientes e rápidas, porque Colt ganha novos upgrades e armas cada vez que dá cabo de um visionário.
O level design aqui é estupendo. Infiltrar Updaam de dia é um passeio no parque, comparado com fazer isso no período noturno, que é ultra perigoso.
Cada horário é uma experiência completamente diferente. Graças à essa repetição, os cenários ganham um nível de familiaridade que você encontra em metroidvanias, ou com a mansão do 1º Resident Evil, por exemplo.
Análise Deathloop: só que o gameplay é complexo e inteligente demais pro Colt!
Em essência, Deathloop é um FPS estilo old-school, aquele tipo frenético que você não precisa mirar sempre que for atirar (como Doom), com exploração e poderes emprestados de Dishonored.
Sim, você pode adquirir poderes para se teletransportar (o famoso blink, aqui chamado de shift), ficar invisível ou empurrar os seus inimigos para longe.
O que faz de Deathloop um jogo além de “Dishonored com muitas armas de fogo” – e, na verdade, o difere de todo jogo que eu conheça lançado até hoje – são três coisas.
A primeira é sobre os efeitos do “Loop”.
Ao final de cada dia, Colt perde todas as armas e poderes que adquiriu. Lógico que você não quer isso, então a sacada é que você pode tornar esses itens permanentes. Mas tem um custo. Você precisa acumular “remedium”, um tipo de energia escassa, causada pela anomalia do Loop.
Você encontra remedium em objetos do cenário, ou assassinando e absorvendo os inimigos.
Aqui entra a segunda coisa que faz Deathloop ser diferentão.
Juliana sempre vai te pentelhar e invadir nos piores momentos. Quando ela faz isso, os túneis pelos quais você escapa ficam fechados, e você precisa desligar um radar que fica num ponto do mapa, matando ou não Juliana.
Juliana pode ser controlada por um jogador online, que invade o seu jogo single-player para acabar com os seus planos. Você pode desativar a opção do online e deixar que apenas amigos te invadam, mas mesmo assim, a AI de Juliana vai continuar ativa.
Você provavelmente pensou em Dark Souls como influência e não estaria errado, até porque quando você perde remedium, precisa absorver a sua energia de novo. Mas essa mecânica de um amigo invadir a sua campanha me lembra muito um modo de jogo que nasceu em Perfect Dark e nunca foi usado antes de Deathloop em um triple A.
Por fim, o fato de você reviver o dia, passando pelos mesmos cenários, traz a sensação de outro clássico, The Legend of Zelda: Majora’s Mask.
Em Deathloop, como no jogo do Link, as ações que você toma afetam a rotina dos personagens no restante do dia. Ver os efeitos perversos causados nos vilões é fantástico, uma das melhores recompensas do jogo.
Análise Deathloop: e o jogo não é punitivo!
Deathloop tem uma única dificuldade. Ele não é exatamente fácil, especialmente se você der o azar de ser invadido por um jogador online que sabe o que está fazendo. No entanto, ele é muito acessível.
Primeiro, qualquer que seja a sua abordagem no jogo – stealth, Testosterona Total, mano a mano sem cérebro, estratégico –, ela é funcional. Não existem skills points nem skills trees em Deathloop (yes!). Você equipa as melhorias (mais vida, mais dano) que quiser antes de cada missão e pode mudar depois, sem consequência negativa.
A cada infiltração, você pode morrer duas vezes, antes de sucumbir de vez e voltar no tempo. Isso vale para mortes causadas pela Juliana.
O custo de remedium é padrão para as armas, poderes e upgrades, além de relativamente baixo. Com 5 horas de jogo, eu já tinha um arsenal suficiente para me sentir confiante.
A quantidade de loot no jogo é totalmente saudável. Você tem apenas quatro versões de cada tipo de arma, de genérica para o melhor tipo. Portanto, é mais provável que você reencontre um equipamento bom que perdeu porque morreu para a Juliana.
Análise Deathloop: bonito de se ver, ótimo de se ouvir
Você deve ter notado, Deathloop tem apenas versões para PS5 e PC (aliás, a Microsoft deve estar mordida por ter comprado a Bethesda e não ter podido lançar no Xbox).
Artisticamente, temos o estilo caprichado e futurista dos anos 60 (Bioshock é uma óbvia influência). A trilha sonora e efeitos sonoros são meio misteriosos, lembram filmes clássicos de espionagem, como 007, mas também as músicas de Dishonored.
Tecnicamente, são três opções de gráficos na versão de PS5: Performance, Visuais e Ray Tracing. Em qualquer uma delas você vai ter uma experiência linda, embora eu recomende deixar o jogo na Performance (você quer ver a Juliana em 60 FPS lisinhos, vai por mim).
Realmente, esse é o primeiro jogo que eu pego no sistema que simplesmente não imagino num console da geração do Xbox One e PS4.
Seja pela velocidade da experiência, pelos gráficos, quantidade de inimigos na tela… Seja qual for o seu critério, Deathloop é um jogo que mostra que dá para fazer mais. E isso eu acho um tremendo feito, porque não é como se a geração de The Witcher 3 e Breath of the Wild tivesse sido fraca.
Análise Deathloop: eu estou mais surpreso do que você
É comum em reviews eu me preocupar apenas se a análise está justa e de acordo com a experiência que tive.
Com Deathloop, eu honestamente estou meio preocupado se vou ser persuasivo o suficiente para convencer você a jogá-lo.
Este era um jogo que não estava no meu radar e eu definitivamente não teria jogado, se não fosse para fazer esse review. Eu até torci o nariz quando o Corrales insistiu para que eu recebesse o código, olha isso.
Verdade seja dita: a única experiência que tive com jogos da Arkane foi com Dishonored 2, um que nunca terminei e nem pretendo terminar.
Enquanto Dishonored 2 é, a meu ver lento, repreensivo, obtuso, com aquele sistema de moral que não ajuda em nada na sua diversão como jogador, Deathloop é dinâmico, original e sempre divertido.
Ele criou uma identidade própria, unindo o melhor do passado e do presente em termos de game design. Ele sabe rir de si mesmo, fazendo o jogador curiosamente levá-lo mais a sério por isso.
Não existe outro jogo que una todas essas mecânicas e com essa performance no mercado.
Se você gosta de FPS, ou de jogos da Arkane, não tem muito o que pensar, sério.
Vai fundo. Depois, você pode vir me cobrar se ele não estiver, no mínimo, nos indicados a melhor do ano do The Game Awards.
Nota:
Ah, e ele também respeita o seu tempo! Eu consegui terminar a história em 16 horas, correndo para fechar essa análise, mas pretendo voltar para fazer sidequests e brincar de Juliana.