Análise Chernobylite: namastê, po%$a!

Vou começar essa análise Chernobylite com uma história sobre minha relação com ele. Se quer apenas saber do jogo em si, favor pular para o próximo intertítulo. Ainda aqui? Aí sim, meu camarada. Então chega mais que lá vem história.

No ano passado e nesse, temos alguns jogos relacionados a Chernobyl saindo (lembro de pelo menos este e S.T.A.L.K.E.R. 2). Então eu acabei confundindo tudo. Chernobylite saiu para PC, PS4 e Xbox One em 2021, e na época eu tentei cobri-lo. Acabei não recebendo código de review, e segui em frente. Daí recebi releases da versão next-gen, e pedi um código, sem me tocar de que seria apenas uma atualização com mordomias de última geração.

Quando recebi o código de PS5, comecei a trabalhar nesta análise, crente que estava jogando antes do lançamento. Só quando sentei para escrever, e fui fazer a ficha técnica, me toquei que era o mesmo jogo que eu tinha tentado cobrir ano passado e não rolado. Ora pois. Como diz minha filhota, papai pateta. Vamos lá então. Análise Chernobylite PS5 no DELFOS.

CHERNOBYL NA VIDA REAL

Embora neste momento específico da história humana, Chernobyl esteja em alta nos games, esta é uma temática muito legal. Com tanta cultura pop relacionada a lugares e eventos como Area 51 ou Roswell, sem dúvida há espaço para obras inspiradas em outras regiões do “turismo sombrio”.

O nome Chernobyl sempre foi bem conhecido para mim. Porém, eu era muito criança quando o desastre aconteceu, em 1986. Não acompanhei os noticiários da época, e não cheguei a ir atrás da história quando fiquei mais velho. Mas sempre me pareceu algo interessante, motivo pelo qual pulei na oportunidade de cobrir este jogo.

ANÁLISE CHERNOBYLITE

Chernobylite é um survival horror em primeira pessoa que acontece no século XXI nos arredores do desastre de 1986. As regiões retratadas no jogo foram escaneadas em 3D, com o objetivo de serem trazidos para o game exatamente como são na vida real.

Chernobylite não é um AAA, mas é bem ambicioso em seu escopo. O visual impressiona em vários momentos. A música e a atmosfera também são simplesmente geniais. Ele sabe bem onde fazer cortes que não entreguem seu orçamento limitado. Em especial, na ausência de cutscenes animadas e no fato de que todos os personagens usam máscara. Faz sentido na história, mas tem a feliz consequência de não precisarem fazer e animar rostos humanos.

ANÁLISE CHERNOBYLITE: UMA AVENTURA FOCADA NA HISTÓRIA

Chernobilita, o material que dá nome ao jogo, é um cristal verde que passou a aparecer na região após o desastre. Você controla Igor, um tovarisch que vai à região abandonada em busca de sua noiva, que desapareceu ali 30 anos antes. O jogo começa com uma relativamente longa sequência linear, que mostra a invasão do herói e dois mercenários contratados em uma base altamente secreta onde acreditam que a moçoila vive.

Tudo dá errado. Um monte de sementinhas e mistérios são plantados nessa introdução. Depois dela o gameplay começa de vez. Chernobylite é ao mesmo tempo um jogo de tiro/terror, de administração de recursos/construção de base e de relacionamento. É o tipo de game “complicado” demais para mim, mas felizmente permite customizar a dificuldade de cada um de seus desafios. Assim, se você não gosta de ficar com pouca munição e recursos, pode simplesmente aumentar isso no menu. Genial!

A ROTINA DE CHERNOBYLITE

Depois da introdução, uma rotina é estabelecida. Chernobylite é dividido em dias. Durante a manhã, você recebe uma “missão principal” que avança a história. Daí tem uma gama de objetivos que pode fazer por conta própria ou mandar seus camaradas fazerem. Particularmente, eu sempre fazia a “missão principal” e mandava os coleguinhas nas buscas por recursos.

Há cinco mapas. Estes funcionam como pequenos mundos abertos. São os arredores que foram abandonados após o desastre. A história vai te mandar para todos várias vezes. As missões sempre são marcadas no mapa, assim como uma gama de objetivos secundários (interrogações). Você nunca sabe o que vai encontrar nas interrogações. Pode ser um refém, uma alucinação ou um item que pode avançar a investigação principal. Eu costumava visitar todos antes de ir ao objetivo principal. Os mapas são parecidos, mas são todos bacanas e relativamente pequenos, tornando um prazer explorá-los.

Cansa um pouco o fato de você ter que visitar cada um deles várias vezes até terminar a história. Pois é, a campanha poderia ser mais curta. Mas a exploração em si é muito gostosa. Chernobylite passa aquela sensação de silêncio e isolamento que jogos como Death Stranding e Shadow of the Colossus também conseguem criar.

AS NOITES DE CHERNOBYLITE

Você passa as tardes nas missões em si, e à noite volta para a base, onde terá chance de conversar com seus companheiros e investir na base.

Construir coisas úteis, como geradores de energia e ferramentas, diminui o conforto e, dependendo do que for, pode aumentar a radiação e o consumo de energia. Então tudo precisa estar equilibradinho. Um laboratório grande deixa a base menos confortável, então é necessário equilibrar com uma TV a cores. Esta, por outro lado, consome energia. E um gerador de eletricidade diminui o conforto. Deu para sacar como funciona?

É o tipo de coisa que sinceramente não me agrada muito, mas Chernobylite felizmente permite diminuir muito a complexidade dessa parte do gameplay. Escolhendo “muito fácil”, eu tive recursos suficientes para aos poucos deixar minha base toda “no verde”, e eventualmente ficar com ela “pronta”, sem precisar mais lidar com isso. Na verdade, eu fiquei com tantos recursos que, toda vez que voltava de uma missão, precisava construir um armário para guardar meu loot. Imagina isso na vida real: toda vez que você volta para casa precisa fazer um armário novo para guardar os lixos que pegou na rua.

Também é necessário ter comida para alimentar todos e aí, de novo, eu fiquei com muito mais do que o suficiente. Consigo imaginar facilmente um mundo em que Chernobylite fique chato e frustrante para alguém como eu. Mas o legal é que se você gosta desse tipo de desafio, estará ao seu alcance. Se quer apenas fazer um turismo virtual por Chernobyl enquanto acompanha uma ótima e inteligente história, ele permite isso também.

O FINAL SEMPRE AO ALCANCE

Chernobylite também traz para si aquele esquema Breath of the Wild. Logo após a introdução, você pode escolher invadir a base e fazer a missão final. Porém, o herói tem um plano. E as missões de história vão, lentamente – muito lentamente – colocando todas as peças do quebra-cabeça no lugar.

Eu consegui montar todo o esquema antes. Quando fui fazer a missão final, fui deparado com uma fase bem bacana e inteligente, onde precisei dar uma função a cada companheiro, e tomar decisões durante a invasão da base para seguir o plano da melhor forma possível.

Essa fase e estrutura lembram um bocado a famosa “missão suicida” de Mass Effect 2. Mas aqui eu estava tão bem preparado que consegui praticamente andar de um ponto ao outro da fase sem me envolver em combate. Imagino que se você resolver se aventurar por ela antes de ter todas as informações e personagens, será mais focada no tiroteio e na ação, mas para mim foi totalmente cerebral. E muito boa!

ANÁLISE CHERNOBYLITE E OS PROBLEMAS TÉCNICOS GRAVES

Lembra que lá no início, eu comentei que pensava estar jogando Chernobylite antes do lançamento? Pois é. Essa impressão foi reforçada por quão cru ele é tecnicamente. Eu tive problemas graves e frequentes durante toda minha campanha, o que me deixou sinceramente surpreso ao constatar que na verdade o jogo está disponível há um ano em outras plataformas. Não sei dizer se são problemas específicos da versão de PS5 ou se estão em todas. Porém, se deseja jogar num PS5, recomendo esperar. Eis o que aconteceu comigo.

Era comum o jogo fechar sozinho, voltando ao painel do PS5. Mas o mais grave foi o problema com os saves. De tempos em tempos, ele mostrava um erro e o resultado era que todos os meus saves eram apagados. Isso fazia com que o “salvar jogo” do menu ficasse apagado até chegar a um novo checkpoint. Então se os dois problemas acontecessem juntos – o que felizmente não rolou – eu perderia toda minha campanha.

ANÁLISE CHERNOBYLITE: PRESO NO FINAL

Chernobylite é um daqueles jogos que, por padrão, faz vários saves diferentes, inclusive um no início de cada novo dia. Porém, sua tendência em apagar tudo impede que você consiga usá-los para restaurar decisões eventualmente erradas. Uma das vezes que isso aconteceu comigo foi durante a batalha com o chefe final, o que significa que eu perdi TODOS os meus saves da base.

Ao vencer o chefe, consegui fazer um save que possibilitou ver vários finais diferentes. Porém, só aí percebi que uma decisão que tinha tomado em determinado ponto…

… tinha impedido uma missão de história de acontecer. E no final das contas, foi essa única missão que me impediu de platinar o jogo, no que provavelmente teria sido a platina mais agradável que já conquistei.

Se Chernobylite tivesse funcionado como deveria, eu poderia simplesmente ter restaurado o dia antes da última missão e resetado a decisão em questão. Mas como meus saves resolveram se suicidar durante a última fase, não posso fazer isso sem refazer a campanha inteira de novo. Decepcionante. Então fica a dica, se for jogar Chernobylite no PS5, desligue a sincronia automática dos saves, e faça backups manuais e frequentes antes de cada missão.

CHERNOBILITA, MEU!

No final das contas, eu consegui terminar a história e, graças à possibilidade de customizar minha experiência, o jogo foi agradável o tempo todo. Tirando os problemas técnicos, minha principal queixa é o fato de que há missões de história demais para pouco mapa, o que deixa as 20 horas da campanha bem repetitivas.

Ainda assim, a exploração e a atmosfera são uma delícia. A história, abordando viagens interdimensionais e temporais, tem um quê de Bioshock Infinite e me agradou muito também. Eu recomendo esperar um pouco antes de investir numa versão next-gen de Chernobylite devido a seus problemas técnicos graves, mas é uma aventura que eu recomendo com força.