Eu adoro jogos com propostas criativas. Por exemplo, Maneater foi um cujo desenvolvimento acompanhei com bastante interesse desde que ele entrou no meu radar. Outro nessa linha é Carrion, que parece que ficou no forno ainda mais tempo. Felizmente, foi um daqueles casos em que a data de lançamento foi divulgada para próximo da data, e o código de review chegou pouco depois. Então agora é hora da nossa análise Carrion.

ANÁLISE CARRION

Caso você não saiba do que se trata, Carrion se vende como um jogo de terror invertido. Você controla um monstro que tenta escapar de seu confinamento enquanto é caçado por guardas, aka comidinhas. Pois é, você recupera vida e cresce comendo seres humanos. Em outras palavras, você é o terror.

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Você pode pensar que controla o carinha, mas na verdade é a gosma vermelha à direita.

A primeira coisa que chama a atenção é a movimentação. A gosma pode se mexer livremente pelo cenário. Para passar do chão para o teto, ou para a parede, basta apontar o direcional naquela direção. É bastante intuitivo.

No começo você consegue apenas agarrar coisas com tentáculos, mas seus poderes se expandem consideravelmente. Até o final da campanha, você vai ter teias, escudos e até o poder de possuir e controlar seres humanos.

TAMANHO É DOCUMENTO

Uma decisão curiosa é que suas habilidades são atreladas ao tamanho do monstro. Você tem uma habilidade ofensiva, ativada com o RB, e uma defensiva (LB). O que os botões fazem muda de acordo com quão grande você está. Até aí, tudo bem. Seria normal ficar mais forte conforme fica maior. Porém, alguns inimigos e puzzles exigem habilidades específicas.

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Eu na piscininha das crianças.

Em geral, nesses casos tem uma piscina rosa, onde você pode deixar sua massa corporal, diminuindo sua vida e seu tamanho. Se quiser recuperar, é só consumir a bolota. Porém, isso acaba sendo um inconveniente. É comum você ver a piscina rosa, avançar, ver a necessidade de estar menor e ter que voltar para soltar um ou dois pedaços do seu corpo. Em alguns casos, você fica preso na sala com inimigos que precisam de habilidades “menores”, e daí o único jeito de progredir é apanhando deles até ficar com pouca vida e poder reagir.

Pior ainda é quando você está já pequeno, mas precisa de uma habilidade “maior”. Dá para recuperar seu tamanho comendo uma galera, mas às vezes não tem ninguém por perto para comer. Algumas vezes, eu tive que recarregar o save e me esforçar para passar de cenas de ação sem perder tamanho para não ficar travado depois.

CADÊ O MAPA?

Carrion é divulgado como um metroidvania e, quando comecei a jogá-lo, e vi que não tinha mapa, fiquei um tanto preocupado. Eu já me perco em Super Metroid, a ponto de precisar de guias para progredir. Jogar Metroid no Nintendinho, quando a série ainda não tinha mapa, me parece impossível.

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Felizmente, Carrion é bem mais simples e intuitivo. Ele é dividido em fases, e eventualmente você passa de novo por áreas que já passou. Nesses casos, no entanto, sempre há uma área próxima com uma saída “trancada” por uma habilidade que agora você já possui. Assim, fica fácil saber para onde ir. Eu terminei Carrion sem guias (até porque enquanto o jogava ainda não existiam guias) sem grandes problemas. Eventualmente, me sentia um tanto perdido, mas nunca me vi de fato andando a esmo. E achei isso ótimo.

Ele até incentiva o backtracking com áreas secretas. Há uma em cada área, e elas dão upgrades para seus tentáculos que, sinceramente, não fizeram diferença para mim. Assim, se você quiser explorar e se perder, o jogo oferece isso. Porém, sem mapa e sem fast travel, eu fiquei sinceramente com receio de não conseguir voltar mais para o caminho da história, então optei por seguir sempre para o alto e avante.

Aliás, com suas fases relativamente abertas e sem mapa, sabe que jogo Carrion me lembrou?

ULTRACORE

Pois é, o jogo perdido de Mega Drive. Não me entenda mal, Carrion é MUITO melhor e mais acessível (os saves são frequentes, por exemplo). Porém, assim como UltracoreCarrion tem um visual que era comum vermos no Mega Drive. E não me refiro a jogos bonitos da época, como Streets of Rage ou Sonic. Falo daqueles jogos mais genéricos mesmo, que dificilmente são relançados hoje em dia.

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Carrion definitivamente não é um jogo bonito.

Os cenários também não são muito variados e, some isso à quase total ausência de história, e fica difícil de saber em que ponto da campanha você está, e quanto falta para acabar. Uma hora ele simplesmente… acaba.

Mesmo assim, o progresso é bem rápido. Você está sempre ganhando novos upgrades, crescendo e abrindo novas fases. Isso faz com que o jogo se mantenha interessante durante toda sua duração. Que, aliás, não é longa demais, mas também não o achei curto. Carrion diverte e satisfaz, sem se tornar repetitivo ou parecer perda de tempo.

HUMOR

O que eu realmente não gostei é da trilha sonora. Este parece o tipo de jogo no qual cairia muito bem uma trilha de heavy metal, talvez algo até mais extremo. No entanto, quase não há músicas, e quando toca uma, não é nada marcante. Os efeitos sonoros são bacanas, no entanto.

Uma coisa que achei bastante curiosa é a ausência de humor. Para começar, é um jogo da Devolver Digital, editora bastante conhecida por ser irreverente. Além disso, não me lembro de outro jogo com esse tipo de temática – onde você é um monstro comedor/assassino de humanos – que não seja bem humorado. O supracitado Maneater, por exemplo, é uma comédia. Destroy All Humans também. Overlord idem. Carrion é o primeiro jogo “de vilão” que consigo pensar que parece realmente se levar a sério.

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Parece bem sutil, mas essas cápsulas contêm seus upgrades.

O único traço de humor presente está nos nomes e nas descrições das conquistas. E vou dizer que várias delas me fizeram sorrir quando poparam. Porém, é algo que quem jogar no Switch, por exemplo, sequer vai ver.

Com humor ou não, o fato é que eu gostei muito de Carrion. É comum hoje em dia eu até gostar de um jogo, mas sentir que ele se estende demais. Ou então ser curto demais. Carrion é um caso de um que me entreteve bastante, e terminou na hora certa. Assim, me deixou bem satisfeito. Se você, como eu, gosta de jogos únicos, com gameplays fora da caixinha, este é imperdível.