Blasphemous 2 é exatamente o tipo de jogo que me fez resolver comprar um PC para jogar. Temos aqui uma experiência que me parece MUITO interessante, mas cuja insistência em uma dificuldade extrema e sem opções de acessibilidade fez com que até hoje eu não tenha jogado o anterior. Mas no PC as coisas mudam de figura. Meu jogo, minhas regras. Se eu não quero fazer grinding ou ficar repetindo a mesma coisa por dias como os desenvolvedores planejaram, eu posso usar mods para jogar do meu jeito. E assim, meu amigo, Blasphemous 2 é sensacional.
ANÁLISE BLASPHEMOUS 2
Blasphemous me interessava desde a primeira vez que ouvi falar dele. O visual e a temática cristã me agradam muito, e são coisas que diferenciam bastante o jogo de outros que parecem ter medo de usar este tipo de temática.
Assim como as pinturas de Caravaggio, Blasphemous é grotesco. Há um homem amamentando uma criança e uma mulher que vai perdendo a pele ao longo da aventura, tudo desenhado nos mínimos detalhes. Talvez seja um jogo pesado demais para você, e tudo bem. Porém, embora eu não seja muito fã de ver Caravaggio no contexto de um museu, este tipo de arte em um game, com um mundo que a arte ajuda a desenvolver, deixa o jogo intrigante.
Cada vez que eu encontrava um novo inimigo, um chefe ou, especialmente, um NPC (de longe os maiores e mais elaborados), eu soltava uma exclamação que misturava nojo a admiração. Blasphemous 2 é nojento, mas é também lindo. Temos aqui provavelmente a melhor pixel art que já tive o prazer de ver, e adoraria ver a turma responsável por este visual criando um mundo com mais orçamento, em 3D. Acredito que eles seriam capazes de rivalizar em beleza e intriga com a própria From Software. E narrativamente eles são até melhores do que a empresa japonesa.
A NARRATIVA DE BLASPHEMOUS 2
Não que a história de Blasphemous 2 seja realmente especial. Assim como o primeiro Dark Souls, você começa com a missão de matar três chefes, que depois aumenta para a caça de vários outros. Mas não sai muito do tradicional “encontre e vença todos os malvadões”.
Porém, todo o desenvolvimento de mundo faz mais sentido, pelo menos para mim, do que os da From. Claro, eu sei que isso é discutível, mas jogo Dark Souls puramente pela exploração visual, sem prestar muita atenção nos personagens, que para mim não fazem sentido. Mas os de Blasphemous 2 fazem. A história não sai do “mate o vilão”, mas o desenvolvimento dos personagens, do mundo e dos motivos que levaram o vilão a existir são fascinantes, especialmente se você tem uma criação católica.
O GAMEPLAY
O Daniel Villela disse em sua análise Blasphemous que este era a melhor violência em pixels. Eu concordo com ele. Tem algo mágico e crocante na combinação entre gráficos pixelados e violência extrema. Cada golpe de Blasphemous 2 tem muito impacto, graças ao visual, às animações e a um design de som nada menos que primoroso.
O gameplay que temos aqui é o de um metroidvania 2D hack and slash. A sensação de jogar, para mim, combinou o estilo de Castlevania Symphony of the Night com algumas pitadas de soulslike. Mas o jogo em si me lembrou bem mais Castlevania do que Dark Souls. Tem até umas catedrais em que você destrói velas.
De novidade em relação ao primeiro jogo, agora temos três armas. Para o combate, a mais útil de longe é a maça. Porém, a espada e as adagas duplas, assim como a maça, têm funções de locomoção. Uma coisa bacana é que você pode escolher qualquer uma das três ao iniciar o jogo. E justamente como elas afetam para onde você pode ir, sua escolha vai determinar os primeiros níveis que você vai invadir. Eu escolhi a espada para começar, mas logo que peguei a maça, passei a usá-la quase exclusivamente para o combate.
Também há muitos desafios de plataforma, que exigem o uso combinado das armas. Você pode começar usando a maça para tocar um sino. Daí plataformas aparecem e te levam para espelhos, que são portais para as adagas. Finalmente, você termina mudando para a espada para destruir uma parede de carne, tudo no mesmo pulo.
PROFANO E SACROSSANTO
O gameplay é muito gostoso e a exploração é extremamente envolvente. Mas tudo acaba caindo no audiovisual, que é um dos mais impressionantes que já vi. O jogo é embasbacante, e até as músicas são lindas e envolventes.
Isso nos leva ao principal obstáculo em usufruir tudo que Blasphemous 2 tem de perfeito: quão punitivo ele é. Eu joguei boa parte da campanha sem usar cheat nenhum. Eventualmente, comecei a ligar invencibilidade apenas quando estava sem cura e sem saco para morrer e voltar um montão. Porém, a punição quando de fato morria, que é diminuir o tamanho da sua mana, estava afetando minha diversão. O estresse de perder tempo ou de não poder explorar livremente custaram minha satisfação e logo eu liguei a invencibilidade permanentemente. E daí, só daí, consegui realmente usufruir da maravilha que é Blasphemous 2.
Falando da dificuldade, eu não diria que Blasphemous 2 parece ser o soulslike mais difícil ou punitivo. Afinal, ao morrer você não perde XP nem dinheiro e o jogo em si nunca atingiu, para mim, dificuldades que pareciam intransponíveis. Talvez lá na última fase, e na longa sequência de chefes finais. Mas antes disso, é viável. Porém, é mais difícil do que eu gostaria e, sinceramente, com mais de quarenta anos nas costas, não acho que teria jogado até o fim se tivesse que suportar todas suas babaquices.
BLASPHEMOUS 2 E A BABAQUICE
Daí o fato de ele ser o tipo de jogo que me fez comprar um PC. Eu gosto desse tipo de experiência e o jogo tem muitos predicados. Porém, não consigo entender essa tara que os desenvolvedores têm atualmente de tornar seus jogos inacessíveis. Quando eu era criança e um jovem adulto, tudo tinha opção de dificuldade, mas hoje em dia isso é polêmico e coisa de criança.
Então, apesar de ter amado a experiência, eu sinceramente teria muita dificuldade de recomendar Blasphemous 2 para adultos que só jogam em console. Quem for mais jovem, ou tiver mais tempo para se dedicar, para “git gud“, terá aqui um jogo excelente. Porém, quem tem família e outros compromissos, e quer apenas curtir a exploração, o visual, a temática e o gameplay, sem ser punido por isso, realmente precisa da versão de PC. Se os desenvolvedores não estão dispostos a levar sua experiência para todos, felizmente, a comunidade sempre aparece para corrigir isso. O chato é que você precisa jogar no PC para tal.