A Primavera Delfiana: Capítulo 2

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Nada de resumos dos capítulos anteriores. Se quiserem saber o que aconteceu até agora, leia a introdução e a parte 1 de nossa jornada épica.

Pois bem, épicos leitores. Lá estavam nossos redatores, famintos e sedentos diante de uma misteriosa caixa. O que eles fizeram?

BS: vamos todos para minha casa. É a que fica mais perto daqui e amanhã temos que estar no Oráculo às 6:30.

RP: e o que faremos com essa caixa?

CCy: ora, levaremos conosco. Jogaremos o que tem dentro fora e a usaremos pra guardar nossos gadgets, afinal, é uma caixa muito legal.

Após chegarem na casa de um dos delfianos, nossos trabalhadores consumiram algumas muitas unidades daqueles típicos alimentos preferidos dos nerds: comidas gordurosas e bebidas gaseificadas. Repentinamente, surgiu uma dúvida entre eles:

DV: quem nos mandou essa caixa? O que será que tem dentro dela?

CCy: vamos ver. Ah, não! Vejam isso: só pode ser brincadeira. Está escrito na parte de baixo que foi enviada pelo Torquemada.

DV: só pode ser alguma brincadeira daquele lunático. Jogue isso fora. Vai acabar explodindo.

CCy: ei, dizem que o Torquemada é o próprio Corrales. Se for verdade, deve ser mais uma gozação do Ditador.

RP: colegas, sejam realistas. Estamos numa situação desesperadora, não é? O que temos a perder? O Torquemada recebeu muitos comentários positivos em seus textos. Sei disso porque o Ditador me impediu de aprovar dezenas deles para publicação. O que temos a perder? Vamos abrir.

Ao abrirem a caixa, um enorme clarão tomou conta da casa. Curiosos, nossos valentes trabalhadores se aproximaram para ver o que tinha dentro.

RP: vejam. Muitos livros, alguns filmes e alguns CDs.

CCy: eu gosto de tudo isso. Quais são?

RP: vamos lá, anotem aí. 1 – O Capital, de Karl Marx. 2 – Como fazer sua própria revolução, de Vladimir Stravchenko. 3 – Decisões por assembléias e processos auto-gestionários, de Emiliano Ernesto Zapata. 4 – CD Canções Revolucionárias – da Marselhesa ao Hino da Internacional Socialista. 5 – Documentário em DVD Braços Cruzados, Máquinas Paradas, e mais um montão de outras coisas nessa linha.

CCy: me dê um aqui.

HA: eu também quero um.

JPR: vamos ver o DVD.

BS: quero ouvir o CD.

Noite adentro, nossos não muito destemidos redatores consumiram todo aquele material. Pegaram no sono com os livros, CDs, documentários e demais materiais em suas mãos. Exaustos pelos desmandos do Ditador, mas reconfortados com os novos objetos que lhes foram enviados. No dia seguinte, pontualmente às 6:30, sua rotina recomeça:

DITADOR: bom dia, caros colegas. Teremos hoje uma quebra na nossa rotina. Durante o turno da manhã, vocês não escreverão notícias ou resenhas. Faremos algo lúdico, que certamente trará contribuições positivas para seu ambiente de trabalho. A companhia que faz a dedetização do Oráculo aumentou significativamente os preços. Sendo assim, comprei os venenos e demais materiais de limpeza e vocês mesmos poderão interagir com seu ambiente de trabalho fazendo o combate aos insetos que tanto nos atormentam.

CCy: mas, Ditador, onde estão os equipamentos de segurança? Máscaras, luvas e botas para nos protegermos dessas substancias perigosas?

DITADOR: (em tom evasivo) Puxa, não é que esqueci de comprá-los? Vão começando que vou lá comprá-los e volto antes das 17:10. Quero que terminem a tarefa ainda no turno da manhã.

CCy: mas… mas…

Mais uma vez, após a saída do Ditador, nossos redatores continuaram suas conversas. E uma vez mais, o Oráculo viveu momentos de glória. Pela primeira vez, os delfianos se tocaram que o poder emana das massas e o Oráculo foi tomado por palavras de ordem. Ouçam, leitores, quão belo é quando trabalhadores oprimidos se referem uns aos outros como companheiros ou camaradas.

JPR: não podemos continuar assim. Escutem, li algumas coisas interessantes naqueles livros. Aprendi a fazer uma assembleia. É assim: primeiro devemos ter uma pauta, marcar dia e hora, fazer a reunião iniciando com os informes, abrir para discussões, elencar as propostas e fazer a votação. É assim, camaradas. Cada um terá direito a um voto.

DV: é isso. Cada cabeça, um voto. Companheiros, ouçam esta canção. Enviei as letras para seus PCs. Vamos todos cantá-la aos berros.

GV: mas está em francês! É muito afeminado fazer esses biquinhos aí. Não tem uma versão power metal em alemão?

JPR: não, camarada. Entendo sua angústia. Ainda não estamos muito familiarizados com o mundo revolucionário. Os princípios revolucionários não têm pátria ou idioma. Não se preocupe, há muita testosterona nos movimentos revolucionários. Há também explosões e cabeças cortadas. Preparados, letras nas mãos… vamos lá.

Neste exato momento, leitores, o Oráculo viu seu mais glorioso momento. Todos os seus redatores preferidos cantando a uma só voz a épica e gloriosa letra da Marselhesa. Cantem também, leitores, cantem também:

Allons enfants de la Patrie/ Le jour de gloire est arrivé/ Contre nous de la tyrannie/ L’étendard sanglant est leve

DV: tenho uma idéia. Vamos fazer um sindicato. Lutaremos por melhores condições de trabalho, melhorias para todos nós. Assim o Ditador não mais poderá nos punir individualmente. Terá que negociar com toda a categoria.

CCy: é isso, companheiros. De agora em diante, forçaremos as negociações. Declararemos nossa data base e imporemos ao Ditador nosso dissídio coletivo.

HA: sim, camaradas. Quando o Ditador nos mandar comprar pães, iremos furtivamente a uma assembléia de nossos companheiros metalúrgicos do ABC.

CCy: vamos marchar para Brasília. Apoiaremos os movimentos sociais. Abaixo a opressão.

DV: ouçam, companheiros. O Estatuto do Sindicato do Trabalhador Delfiano está pronto. De agora em diante teremos uma nova bandeira, a bandeira do SINTDELFOS.

AC: precisamos comprar camisetas do Che Guevara no shopping e aquelas bandeiras vermelhas com a foice e o martelo.

DV: precisaremos também de jaquetas iguais às do Fidel Castro.

CCy. eu sei onde vendem aquelas boinas vermelhas. Devemos também ouvir mais bandas punks. Que tal se fizermos moicanos?

Nesse momento, nossos revolucionários redatores se tocaram mais uma vez que sua situação não era das melhores.

HA: companheiros, amanhã é o dia do nosso pagamento. Segundo informações enviadas pelo Datadelfos que disponibiliza nossos contra-cheques on-line, receberemos míseros 150 roussefs, 45 inacios e 33 temers cada um. Isso é uma vergonha.

DV: vamos radicalizar nosso movimento, camaradas. Nada de negociações com o Ditador.

CCy: o que faremos?

RP: tomaremos o Oráculo. Vamos trocar a senha de abertura e fechamento do grande portão de aço. Quando estivemos na sala do Ditador, percebi uma seqüência de números estranhos anotados bem ao lado do pôster da Rebecca Romijn. Vejam, parece que ele copiou os números da escotilha do Lost. Quanta falta de imaginação.

CCy: vamos testar.

DV: lá vai.

O que se ouviu a seguir, épicos leitores, foi o barulho característico do grande portão de aço se abrindo. Uma vitória significativa para nossos insurgentes redatores.

DV: querem saber nosso próximo passo? Tenho um plano.

Continua na próxima semana.

Alaúde mode on: e eram trabalhadores / sofriam humilhações / um Ditador sem coração / fizeram a revolução / Alaúde mode off.