Desculpe começar a resenha de forma tão direta, mas não me lembro de nenhum livro que tenha me frustrado tanto quanto A Janela de Overton.
Diga-me, o que pode dar errado quando se tem bons personagens, uma ótima ideia de história e o autor é bom de narrativa? Difícil de imaginar, não? Mas Glenn Beck e a sua Janela de Overton, que além o nome de seu livro, é o nome de uma teoria de manipulação bem interessante, conseguiram fazer o que parecia ser impossível.
Em A Janela de Overton, um plano para mudar todo o sistema de poder dos EUA está sendo elaborado há mais de 100 anos e finalmente chegou a hora de colocar tudo em prática. E como fazer isso? Tudo através das palavras, ideias e todos esses poderosos recursos que a historia já está cansada de nos mostrar que são os mais poderosos que temos à disposição.
E quem está à frente dessa empreitada toda é Arthur Gardner, um poderoso dono de uma empresa de relações públicas. Mas o personagem principal do livro é seu filho, Noah, que trabalha na empresa do pai, inteligente e que adora uma boa vida. Ele participa do plano de mudança do mundo, mas até certo ponto. E um belo dia conhece uma estagiária da empresa, Molly Ross, por quem fica perdidamente apaixonado.
Mas logo descobrimos que Molly faz parte de um grupo de militantes patriotas que sabe o que está acontecendo e vai fazer de tudo para impedir que o mundo mude. E aí já deu para perceber que Noah vai ficar entre o amor de uma mulher que mal conhece e uma nova ordem mundial.
O livro mistura uma boa dose de fatos reais, geralmente fatos políticos, e através disso o autor dá consequências imaginarias para seus personagens. E Glenn Beck faz questão de citar suas fontes de pesquisa, para que o leitor corra atrás dos fatos também e fique do lado do autor na sua história.
E é a partir dai que tudo começa a ficar ruim, meu amigo delfonauta. Glenn Beck, além de escritor de livros, é produtor e apresentador de programas de rádio e TV. E nas horas vagas, ele é ativista politico. E sabe quando tudo fica com cara que ele quis de qualquer jeito expor as suas teorias (da conspiração?) e usou uma história como pano de fundo para apresentar algumas delas?
Posso estar enganado, mas cheguei a essa conclusão ao identificar que todos os seus personagens são desenvolvidos superficialmente, com ações idiotas e previsíveis. E existem personagens no livro, e posso citar Noah e Arthur só para ficar nos principais, que seriam excelentes personagens se fossem desenvolvidos por completo, se fossem complexos. Mas parece que Beck não fez questão de que isso acontecesse e isso estragou boa parte do livro.
E outra parte que estragou o livro e o fez perder alguns Alfredos foi o final dado à história. Sabe quando o livro sai de um ponto supostamente alto da trama e vai preparando terreno para que algo realmente grandioso aconteça? Então, imagina que no meio dessa preparação de terreno o livro simplesmente acabe. Sem mais nem menos, sem dar um final para nenhum dos personagens. Isso foi simplesmente revoltante.
Então é isso, delfonauta. A Janela de Overton é um livro que tinha tudo para ser fantástico, mas pecou por ter uma história fraca, com personagens pouco desenvolvidos e ter um final sem final. Mas se você gosta de saber fatos históricos, teorias da conspiração e afins, pode ser uma boa leitura para você.
CURIOSIDADE
A Janela de Overton, como já havia dito antes, é um conceito de manipulação elaborado por Joseph P. Overton. Ela consiste na manipulação da opinião pública sobre determinado assunto.
Vamos a um exemplo, que pode ser o aborto. Existem dois pontos extremos sobre o assunto: os que são totalmente a favor e os que são totalmente contra. Se você quer que a população deixe de ser totalmente contra e passe ser, por exemplo, parcialmente contra, a janela de opinião do público tem que ser movida e para isso, é necessário trabalhar diversos pontos que vão fazer a opinião pública mudar aos poucos sem que ela perceba que isso aconteceu.
Resumindo, a Janela de Overton pode ser aplicada em qualquer lugar. Será que você já foi vitima dela aqui no DELFOS e só agora percebeu? É de se pensar, não?
