A Estranha Família Lee

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Se o “Silva” é o sobrenome oficial da família brasileira, o “Lee” é o sobrenome oficial da família da indústria do entretenimento. Eles estão na TV, no cinema, nos quadrinhos, na música. Eles estão sempre entre nós. Agora você já imaginou se eles todos fossem da mesma família? Quero dizer, de verdade? Acho que seria algo mais ou menos assim…

STAN LEE

O velhinho excêntrico e milionário que faz a alegria das crianças durante os jantares de família, com todas ao seu redor em silêncio enquanto ele sai inventando as mais loucas histórias sobre homens que escalam paredes e lançam teias pelas mãos, enormes e bonzinhos monstros verdes, filhos de deuses e seus martelos que controlam os trovões e, a sua favorita, sobre um sujeito prateado que combate o mal a bordo de uma prancha de surfe. Sempre que alguém pergunta se a comida estava boa, tudo que ele responde é: Excelsior!

JIM LEE

Impulsionado pelos contos malucos do tio Stan, começou a rabiscar super-heróis nos guardanapos durante o jantar. Cresceu, continuou desenhando, tomou tapas na cabeça dos bullies da escola, teve que entregar o dinheiro do lanche, mas não desistiu. Na década de 90, juntou um dinheirinho e, ao lado de alguns amigos, montou a sua própria empresa de histórias em quadrinhos. Fez algum sucesso e até gerou uma verdadeira fábrica de clones. Mas durou pouco tempo, já que perceberiam que todos os seus personagens se pareciam demais e paravam sempre nas mesmas posições. Recentemente, realizou o sonho de uma vida ao ser chamado para desenhar um alienígena escoteiro de roupa colante azul e um milionário excêntrico (não mais do que o tio Stan) que gosta de usar roupinhas de morcego. Sempre reciclando os mesmos rascunhos da década de 90, é claro.

JAE LEE

Impulsionado pelos contos malucos do tio Stan, também começou a rabiscar super-heróis nos guardanapos durante o jantar. Também cresceu, também continuou desenhando, também tomou tapas na cabeça dos bullies, também teve que entregar o dinheiro do lanche, mas não desistiu. Ao contrário do primo Jim, no entanto, Jae se tornou um sujeito do mal. Daquele tipo que assustaria os antigos colegas que lhe davam tapas na cabeça na escola. Ouvia Heavy Metal e gostava de filmes de terror. Seus desenhos se encheram de sombras, de seres macabros, de referências demoníacas. Continua sendo um ser das trevas, daquele tipo que deixa a família em pânico. “Será que é hoje que ele vai matar todos nós e revelar ser herdeiro de Satanás?”. Mas Jae vai à igreja todo domingo.

PAT LEE

Impulsionado pelos contos malucos do tio Stan, também começou a rabiscar super-heróis nos guardanapos durante o jantar. Também cresceu, também continuou desenhando, também tomou tapas na cabeça dos bullies, também teve que entregar o dinheiro do lanche, mas não desistiu. Mas esse deveria ter desistido. Achando muito mais legais os seus coleguinhas orientais, passou a freqüentar Chinatown e botou na cabeça que podia desenhar mangás. Não deu muito certo. Com o passar dos anos, desaprendeu as noções básicas de anatomia dos seres humanos e acabou desenvolvendo uma predileção por desenhar robôs gigantescos que se transformam em carrinhos.

JASON LEE

Impulsionado pelos contos malucos do tio Stan, também começou a rabiscar super-heróis nos guardanapos durante o jantar. Também cresceu, também continuou desenhando, também tomou tapas na cabeça dos bullies e também teve que entregar o dinheiro do lanche. Mas este desistiu. Disposto a levar uma vida comum, passava os dias coçando o saco e comendo salgadinhos na frente da TV enquanto via reprises de seus desenhos animados favoritos. Estava destinado a ser um vagabundo profissional, a vergonha da família, até que o amigo Kevin chegou e disse: “Ei, tá a fim de fazer um filme?”. Alguém enfiou na cabeça dele que o cara podia ser ator. E o pior é que ele podia mesmo. Resultado? Hoje ele faz fama e fortuna interpretando um vagabundo profissional, que passa os dias coçando o saco e comendo salgadinhos na frente da TV enquanto vê reprises de seus desenhos animados favoritos.

TOMMY LEE JONES

Sabe aquele tio distante com cara de poucos amigos, sempre sério e sisudo, que não ri das suas piadas e que parece vir aos almoços e jantares de família meramente por obrigação, sentando-se na ponta da mesa, onde ninguém poderá incomodá-lo para pedir o sal? Este é o Tio Tommy. Não é daqueles mais empolgados por dividir o mesmo nome com o sobrinho Tommy, por isso prefere usar o “Jones” no final. Também ator, serve de inspiração para o esforçado sobrinho Jason – e já interpretou um papel em um filme dos personagens que concorrem com as histórias do Tio Stan.

BRUCE LEE

Filho de um dos braços orientais da família, o tiozão de meia-idade tornou-se mestre em artes marciais, encantando os moleques já cansados das histórias do Tio Stan – que, por sinal, não perdeu tempo e transformou o próprio Bruce em herói de suas aventuras rocambolescas. Seus saltos, socos, gritos e truques com o nunchaku podiam não ser muito bem recebidos em plena sala cheia de cristais, mas fizeram sucesso na televisão. Acabou morrendo em um acidente envolto em mistério durante as gravações de um filme e com uma série de teorias a respeito.

BRANDON LEE

Filhão do tio Bruce, tão talentoso quanto ele no mundo das artes marciais. Ficou famoso ao tornar-se ator e estrelar um filme sobre um personagem de histórias tão fantasiosas quanto as do Tio Stan, mas sem os colantes apertados. A cara pintada à Black Metal agradou o primo Jae. Seguiu os passos do pai até o fim, incluindo a morte em um acidente envolto em mistério durante as gravações de um filme e com uma série de teorias a respeito.

SPIKE LEE

Talvez por ser um dos poucos (senão o único) primos negros da família, Spike sempre foi um tanto complexado. Desde o primeiro dia em que tomou em mãos uma câmera de vídeo caseira, soube que queria ser diretor de cinema. E que seus filmes falariam sobre a triste situação dos negros. Os anos passaram, e Spike aprendeu a ser um pouco mais bem-humorado, participando inclusive das rodadas de piadas da família. Sua última película foi um filme de ação estrelado por um branquelo inglês com cara de canastrão.

ANG LEE

Assim como Bruce e Brandon, outro egresso do braço oriental da família. Mas, assim como Spike, decidiu virar cineasta. Fez filmes sobre a tradicional família estadunidense, sobre um bando de chineses que trocavam sopapos enquanto voavam e até sobre aquele monstrão verde e bonzinho cujas histórias o Tio Stan contava. Mas, em busca de uma versão dourada daquele homem prateado do Tio Stan, embarcou num filme esquisito sobre dois caubóis gays. E aí o caldo entornou. Ninguém na família nunca mais olhou para ele da mesma forma.

GEDDY LEE

Se as crianças não se acalmavam com as histórias do Tio Stan, a família recorria aos talentos musicais do Tio Geddy – que, com suas músicas de seis horas de duração, colocava a molecadinha para dormir rapidinho. Fez sucesso especialmente depois que gravou a música de abertura daquele seriado sobre um rapaz loiro que transformava três palitos de fósforos, um chiclete mastigado, dois clipes e uma mariola em uma bomba atômica.

TOMMY LEE

A grande vergonha para o Tio Geddy. A ovelha negra da família. O garoto problema do Tio Stan. Mas também o primo favorito das adolescentes da família. Bad boy de carteirinha, repleto de tatuagens e piercings, chega sempre atrasado aos jantares familiares, estaciona a moto em cima do jardim de petúnias, fuma na mesa, acaba com uma garrafa de Jack Daniels em cinco minutos e fica batucando com os talheres enquanto espera a sobremesa. Mas, para ele, é sempre home sweet home. A não ser, é claro, quando vê sua ex-namorada, uma loira de seios enormes, na TV. Aí, começa a chorar descontroladamente, pega uma cerveja e se tranca no quarto por três horas seguidas – quando finalmente sai com uma nova música sobre dor de cotovelo prontinha.

RITA LEE

Embora seja roqueira como o simpático Tio Geddy, a Titia Rita nunca foi das pessoas mais simpáticas. Fez parte de um bando de malucos que influenciariam até aquele maluco de camisa de flanela que explodiu a cabeça nos EUA, mas agora só quer saber de levar uma vida sossegada, com sombra e água fresca. A língua, no entanto, continua ferina. Naturalmente revoltada, é a única que ri quando o pequeno Tommy arrota na mesa de jantar. “Ah, esta juventude”. Vegetariana assim como a ex-namorada de Tommy, exercita sua veia briguenta em constantes discussões com os vizinhos que, ao som de muita música country, fazem um belo de um churrasco todos os finais de semana no quintal de casa.

AMY LEE

A única menina que se interessou de verdade pelas lições do Tio Geddy. O problema é que ela parece não ter entendido muito bem o recado. Meio chorona, cortou os cabelos de todas as suas Barbies e tingiu tudo de preto. Com seu piano de brinquedo, escreve canções sobre a tristeza do mundo, a tristeza do amor, a tristeza da amizade, a tristeza da máquina de café e até a tristeza daquilo que andam fazendo com as histórias do Tio Stan hoje em dia. É uma gracinha de menina. Mas também é uma mala quando quer.

JOHN LEE HOOKER

Negro como o sobrinho Spike, nunca foi do tipo revoltado. Músico como o primo Geddy, nunca foi tão virtuoso. Velhote como o Tio Stan, nunca foi tão imaginativo. Mas, de posse de sua guitarra, era a diversão ideal para os adultos ao final do jantar de família, quando as crianças estavam sendo entretidas pelo tio Stan em outro canto da casa. Sua música azulada e divertida descia tão macia quanto a sobremesa. E seus conselhos eram sempre os melhores e os mais sábios. Que ele descanse em paz.

DAVID LEE ROTH

Tio Stan pode ser excêntrico, mas ninguém é tão extravagante quanto David. Tão roqueiro quanto o Titio Geddy e o primo Tommy (que aprendeu bastante com ele, aliás), fala sempre aos gritos, usa roupas multicoloridas, brilhantes, apertadas e nem sempre condizentes com alguém de sua idade, está sempre namorando uma mulher (geralmente mais nova) diferente e insiste em ensinar uns pulinhos para os mais novos por cima da mesa da sala. Desde moleque, era o maior fã do Titio John e do Tio Geddy. Só fica de mau humor quando briga com Eddie, um de seus melhores amigos. O problema é que isso sempre acontece.

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