A Origem dos Guardiões

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

O delfonauta fiel sem dúvida conhece a Liga dos Cavalheiros Extraordinários, obra de Alan Moore que reuniu em um grupo alguns dos principais personagens da literatura britânica. O escritor William Joyce leu o gibi do mestre dos quadrinhos e pensou com seus botões: “hum… como eu posso fazer disso algo infantil e assim ganhar milhões de dólares?”. Assim, em 2011 iniciou a série Guardians of Childhood, na qual se baseia o filme de hoje.

Os tais Guardiões da Infância são um grupo de personagens da mitologia infantil que tem como objetivo manter o encanto e a fantasia nos olhinhos dos pequerruchos. Mas você já deve ter sacado isso olhando o pôster aí do lado, não? Não, né? Pois é.

PERSONAGENS FAMOSOS, MAS IRRECONHECÍVEIS

Acontece que o grupo de heróis infantis tem entre seus personagens alguns nomes não muito conhecidos no Brasil, e mesmo os hors-concours estão com um design bastante estranho. É o caso do Papai Noel, por exemplo, que está com um quase irreconhecível, sem o chapéu de pompom e a calça vermelha. Tudo bem fazer uma versão badass do bom velhinho, mas por que mudá-lo totalmente? Talvez tenha sido para evitar problemas legais com a Coca-Cola, que popularizou a imagem atual do gordinho barbudo (embora não tenha sido a primeira empresa a apresentá-lo desta forma), mas isso poderia ser resolvido com uma taxa de licenciamento.

Então agora você já sabe quem é o Papai Noel e talvez tenha reconhecido o Coelhinho da Páscoa, mas e os outros três? Bom, a verdinha você também conhece: é a fada do dente. Os outros dois, no entanto, são virtualmente desconhecidos no Brasil.

O baixinho dourado não é uma versão fofa da estátua do Oscar. Trata-se do Sandman, aquele mesmo que só é conhecido no Brasil pela versão gibi do Neil Gaiman. Desnecessário dizer que muito me surpreenderia se alguma criança soubesse de quem se trata. O protagonista, no entanto, chega a ser uma escolha mais inexplicável do que um vegetariano que namore uma ruiva (como ele vai misturá-la a bacon, pelo martelo de Thor?).

Trata-se de Jack Frost, personagem do qual nunca tinha ouvido falar, a não ser por aquele guitarrista que esteve no Savatage por um curto período de tempo. E eu sequer sabia que o nome dele era baseado em um personagem mítico. Mas que diabos?

FOFURA EXTREMIS MODE ON

O conceito, apesar de ser claramente baseado na Liga dos Cavaleiros Extraordinários e na necessidade comercial de fazer um Vingadores para o público infantil, é forte, e o longa traz várias cenas que não dá para classificar como nada abaixo de excelente.

Os melhores momentos são aqueles em que o filme liga o modo “Fofura Extremis”, e entrega alguns dos momentos mais mágicos que eu tive no cinema desde a primeira vez em que eu assisti a História Sem Fim. Até a própria história lembra o clássico baseado no livro de Michael Ende, pois aqui temos um vilão cujo principal objetivo é destruir a fantasia das crianças e fazê-las parar de acreditar em bichinhos mágicos.

Absolutamente todos as cenas em que os heróis interagem com crianças são demais, e quando eles usam os poderes, o negócio vira um deleite visual. O Sandman tem o poder mais legal, com sua areia mágica criando os sonhos das crianças, e mesmo servindo para comunicação, uma vez que ele não fala. Mas não dá para não soltar um sorriso amigável cada vez que um floquinho de neve criado pelo Jack Frost cai no nariz de uma criança e ela é imediatamente tomada por uma onda de alegria. E tente esconder a empolgação durante o primeiro voo no trenó do Papai Noel! É para momentos assim que o cinema existe, delfonauta. Infelizmente, apesar desses lampejos de genialidade, que me tiraram gostosos sorrisos e deixaram meus olhos brilhando tanto quanto os das crianças do filme, sou obrigado a dizer que na maior parte da sua duração, eu estive é bocejando. E não era por ação do Sandman.

UM VINGADORES PARA CRIANÇAS. BEM NOVINHAS

Talvez o conceito ficasse mais forte caso os personagens fossem de fato conhecidos no Brasil. O vilão, por exemplo, segundo o IMDB é um tal de Pitch, personagem que nunca ouvi falar. Na dublagem, eles chamam ele uma ou duas vezes de Bicho Papão (ou, na maior parte do tempo, de Breu. Eu sei, WTF!? Breu?), mas a adaptação claramente não se encaixa. Afinal, o Bicho Papão não é uma pessoa, e ele come criancinhas, não causa pesadelos. Todos sabemos que a versão estadunidense do Bicho Papão chama Michael Jackson, não Pitch.

Talvez fizesse mais sentido se chamassem o vilão de Boi da Cara Preta, esse sim relacionado aos sonhos dos nossos pequerruchos, embora, como o próprio nome diz, ele é um boi. Ainda assim, o vilão do filme, com seu jeitão claramente chupinhado do Loki de Os Vingadores, estranhamente parece se encaixar melhor no personagem Boi da Cara Preta, até mesmo pelo nome Pitch (Escuro bagarai, em uma tradução livre).

Além da tradicional baixa qualidade da dublagem, e a julgar pelo nome do vilão, a adaptação em geral está risível, quando não é totalmente inexistente. Por exemplo, existe uma menina gordinha apelidada de “Cupcake”. Ora, quantos brasileiros sequer sabem o que é um cupcake? Alguém imagina que uma criança apelidaria outra com esse nome ao invés de “bolinho” (para manter um nome bonitinho e não cair nos muito mais populares “baleia” ou “bola”).

Assim, talvez A Origem dos Guardiões já ficasse consideravelmente melhor se assistido no idioma original (a sessão para imprensa, obviamente, foi dublada), mas ainda assim a história é muito óbvia, muito inocente e sem muito apelo para pessoas com mais de seis anos. Não duvido, de forma alguma, que seu filhinho pequeno possa se divertir muito neste filme, mas tenho a mesma certeza de que você, assim como eu, passará a maior parte do tempo entediado, resistindo aos insistentes poderes do Sandman.

EM SIMPLE PORTUGUESE:

Devo assistir? Só se tiver filhos ou crianças pequenas na família. E levando elas, é claro.

Em 3D? De forma alguma. O 3D é inexistente na projeção inteira.

CURIOSIDADES:

– Esta é a primeira matéria de autoria minha a ser publicada aqui desde Relação Explosiva, que saiu em 19 de outubro. Mais de um mês. É o maior intervalo entre duas matérias minhas da história do DELFOS. Eu senti sua falta.

– Eu escrevi algumas outras resenhas nesse meio tempo, mas coincidiu de os filmes terem a estreia empurrada para algum momento de dezembro, e eu acabar ficando por um mês trabalhando apenas nos bastidores do site. =]

– Se você acha que o site estava melhor sem mim, regozije-se, pois eu estou escrevendo menos por motivos pessoais, e isso deve continuar assim por mais um tempo. Agora se você sentiu minha falta, não se apavore. As coisas voltarão ao normal, só vão demorar mais um pouquinho.