Não é legal que cada vez mais temos jogos nacionais sendo analisados aqui no DELFOS? Pois o objeto desta análise Pixel Ripped 1995 é continuação de Pixel Ripped 1989. Trata-se de um jogo exclusivo para VR que literalmente simula a experiência de ter nove anos e jogar videogame em 1995. Pois é, a criatividade é forte por aqui.
ANÁLISE PIXEL RIPPED 1995
A príncipio, pode parecer que estar em um mundo em VR no qual você simplesmente está olhando para uma telinha na sua frente não é o melhor uso da tecnologia. Porém, é na história e na ambientação que estão os pontos fortes de Pixel Ripped 1995.
Você joga sempre com a personagem Dot, que tem um visual parecido com a Samus, mas é controlada como um Mega Man. Porém, Pixel Ripped 1995 faz uma bela homenagem aos gêneros e gráficos populares em 1995. Você começa, por exemplo, em uma paródia de Zelda, vai para Metroid, Castlevania e rola até um Streets of Rage e um Road Rash.
Nenhum desses “jogos dentro do jogo” é realmente bom ou empolgante. Eles são básicos e servem apenas à história. A exceção é a paródia de Streets of Rage, que é realmente muito ruim, apesar da ambientação simular a sensação de jogar em um arcade com quatro pessoas. E isso é algo que eu provavelmente não faço há pelo menos 20 anos.
A DIFÍCIL VIDA DE UM MENINO DE NOVE ANOS
O que realmente pega, e atrapalha a experiência – como costuma ser comum em VR – são os controles de movimento. Pixel Ripped 1995 é jogado apenas com um Dualshock. E, se já é ruim jogar VR de movimento com os Moves, é pior ainda com um gamepad. A primeira coisa que você faz no jogo, por exemplo, é algo totalmente banal: pegar a fita e colocar no console. Porém, essa banalidade é tornada tão difícil quanto terminar Battletoads graças à péssima detecção do PS VR. Pics or didn’t happen!
Isso foi tão ridiculamente complicado que eu fiquei a fim de parar de jogar aí mesmo. Para resolver o problema, tive que ficar de pé, em posição curvada, centralizar a câmera (fazendo o mundo do jogo subir) e só então consegui alcançar a fita. Se fosse só isso, vá lá, mas este é um simulador de como é jogar videogame. E o menino é totalmente controlado por movimentos. Então vira e mexe eu tinha que resetar a câmera ficando em posições desconfortáveis para alcançar as coisas que o jogo exigia.
LIMITAÇÕES DA PLATAFORMA
É um problema extremamente comum no PS VR – e um dos motivos pelos quais eu tenho evitado jogar na plataforma. Mas o pior é que já foi resolvido. Jogos como I Expect You to Die (de 2016!) permitem que você pegue qualquer coisa simplesmente apontando para elas e apertando os botões. É difícil de entender o motivo pelo qual ainda temos jogos que insistem em fazer você se esticar onde a câmera não alcança. E como não percebem esse tipo de limitação no QA?
Tem outras coisas menores que também irritam. Por exemplo, as legendas aparecem bem no meio da televisão. E, ao contrário da legendagem padrão, que limita cada legenda a duas linhas, aqui elas aparecem em enormes blocos de texto.
Além disso, apesar de ser um jogo nacional, desenvolvido em São Paulo, não há opção de português. Até entendo não terem feito a dublagem em inglês e português – o que exigiria contratar o dobro de atores. Mas não fazer legenda e menus na nossa língua pátria é estranho.
Outra coisa que me incomodou é que o menino que você controla é de New Jersey. Ora, ele poderia ser de qualquer lugar do mundo sem afetar muito a história, então por que colocá-lo no país onde vivem todos os personagens de videogame? Seria legal que fosse um moleque brasileiro, com toques da nossa cultura. Por exemplo, em determinado momento, os personagens falam de brincar na neve no Natal. A gente está acostumado a ver isso na cultura pop, mas se você está fazendo algo no Brasil, seria legal contar a história na nossa realidade.
CHARME
Apesar das críticas (e especialmente os controles de movimento atrapalham MUITO a experiência), Pixel Ripped 1995 exala muito charme. Ele transborda carinho aos games e convenções da época. Caso você não tenha vivido 1995, foi o ápice dos gráficos pixelados, e o início do visual poligonal – na época bem feio. Assim, a gente tinha no mesmo console jogos que estão entre os mais lindos de todos os tempos, como Super Mario World e outros ridiculamente feios (ainda que super legais), como Star Fox. Era uma época estranha para ser gamer.
O charme do jogo, no entanto, vem justamente no seu aspecto “simulador de jogar videogame”. Na primeira fase, por exemplo, a mãe do protagonista fica reclamando que você não larga o videogame. E vira e mexe, ela vem na sua direção e desliga o console. Isso causa situações engraçadas, como correr para chegar no save antes da mamãe chegar no botão de desligar. Cada fase tem um gimmick como esse, que reflete bem a vida de um moleque tentando curtir um game.
No melhor momento, você alterna entre dois jogos, levando power ups de um para o outro para poder progredir. É bem criativo.
INCRÍVEIS GRÁFICOS 3D
O que realmente faz um bom uso do VR são os chefes. Por exemplo, os gráficos 3D do Master System eram divulgados assim:
Pixel Ripped 1995 finalmente entrega o que os comerciais dos anos 80 prometiam. Quando você chega nos chefes, os personagens saem da tela e a batalha acontece na sala da sua casa (ou onde quer que a fase em questão tenha rolado). E apesar dessas batalhas sempre exigirem o uso de movimentos, algo que o jogo nunca faz bem, o gimmick é tão legal que torna a experiência bastante positiva.
Tudo culmina em um chefe final realmente bacana e divertido. E eu sinceramente não me lembro da última vez que eu encontrei um chefe final bacana.
Assim, Pixel Ripped 1995 tem problemas graves (alguns muito graves) mas compensa isso com charme e criatividade. Ele apresenta um uso realmente criativo da realidade virtual e é especialmente saboroso para quem já curtia videogames em 1995.