Outro dia estava bisoiando minha lista de amigos no PS4, e vi um coleguinha jogando o excelente Resident Evil 3. O que me chamou a atenção é que, ao lado do nome do jogo, constava a informação de que ele estava jogando no “Assisted“. Ou seja…

NO MODO EASY

Imediatamente, pensei algo na linha: “mancada da Capcom mostrar isso no perfil do cara”. E logo em seguida eu me corrigi. Mas por quê? Qual o problema do cara jogar no fácil? Embora neste caso específico, eu tenha escolhido jogar na dificuldade padrão, é comum eu escolher o easy de vez em quando. Aliás, no início da minha campanha de Resident Evil 3, eu considerei seriamente o fácil, pois pensava que o Nemesis seria muito mais pentelho do que ele de fato foi.

O mundo dos games sofre de um machismo e trueza deveras pentelho. É só ver qualquer discussão – com exceção da extremamente civilizada que tivemos aqui no DELFOS – sobre a simples possibilidade de uma seleção de dificuldade em Dark Souls.

É a ideia de que você precisa merecer jogar. Que terminar um jogo é vencê-lo, não apenas ter chegado até seu fim. E mesmo eu demonstrei no fundo pensar assim, ao considerar que meu amigo estar jogando no easy era algo vergonhoso, a ser escondido. E isso é absurdo.

FALÁCIA

Essa ideia atingiu seu ápice na era atual, em que quase todo jogo é muito mais difícil do que deveria. E não, ao contrário da “sabedoria” popular, os games em geral não eram mais difíceis nos 8 e 16 bit. Eles davam essa impressão só por terem vidas limitadas. Tente terminar qualquer jogo de hoje no easy morrendo apenas três vezes e verá como isso é uma falácia.

Eu não sei você, mas eu tenho dificuldade suficiente na vida real. Mesmo para aprender uma habilidade real, sempre é recomendável escolher o caminho mais fácil. Quer aprender um instrumento? Você pode ser autodidata, mas se tiver possibilidade, é mais eficiente fazer aulas. Então porque eu deveria gastar o meu tempo desenvolvendo uma habilidade que serve simplesmente para terminar um único jogo? Especialmente se logo em seguida vou ter que aprender outro. E depois outro.

A gente não pensa que alguém assistir a um filme dublado ou legendado é vergonhoso. Ninguém recomenda que, para ver longas estrangeiros ou ler livros originalmente escritos em outra língua, você precisa aprender o idioma original, ou está fazendo errado. Games são diferentes de filmes? Claro. E livros também são diferentes de filmes. No final das contas, é tudo cultura e lazer. Algo que você faz para passar seu tempo, aumentar sua qualidade de vida. Quanto menos barreiras tivermos, melhor.

OPÇÕES PARA TODOS

E com isso não entenda que eu acho que alta dificuldade deve ser abolida dos jogos. Da mesma forma que eu prefiro ver filmes estadunidenses sem legendas, porque falo inglês, não vejo problema em eles existirem em versões dubladas. E quando vou ver um longa francês, japonês ou de onde quer que seja, eu preciso de legendas. Dizer que não poderia curtir essas obras porque não falo essas línguas é tão absurdo quanto impedir alguém de jogar Dark Souls porque ele ou ela não tem habilidade para progredir. Dark Souls, e tantos outros bons games difíceis, são muito mais do que sua dificuldade punitiva.

Mas se você gosta do desafio, de realmente dominar um jogo, tudo bem também. Só não seja um babaca. Não pense menos de alguém que joga no easy. Caso você mesmo sinta vontade de diminuir a dificuldade em algum jogo, faça isso. O importante é maximizar sua diversão. Afinal, com todas as obrigações da vida, simplesmente não deveria existir a possibilidade de fazer algo que te deixa infeliz, bravo ou frustrado no seu tempo de lazer.

Aliás, se você vai aprender algo no DELFOS, aprenda isso: simplesmente não seja um babaca. Deixe as pessoas fazerem o que gostam e o que as traz felicidade, pois todo mundo está lutando sua própria batalha, da qual nada sabemos. Se não faz mal a ninguém, que mal tem? E jogar no easy não deveria ser algo censurável. #NaoSejaBabaca