Olha que curioso. Quando chegou aqui na redação o CD Wine of Gods, do Hellish War, imaginei que fosse a primeira vez que eu ouviria a banda. Curiosamente, quando ripei o disco e fui procurar a banda na minha discoteca do iTunes, vi que tinha outros dois discos deles (Defender of Metal, de 2001; e Keep it Hellish, de 2013). Que puxa!
Pensei que se tinha discos, é porque já falamos deles aqui no DELFOS. Resolvi fazer uma busca, e olha só o que achou. Eu mesmo já tinha falado sobre o show deles quando abriram para o U.D.O..
Considerando quantas vezes a banda já cruzou meu caminho, é curioso que eu não me lembrasse deles, mas até aí, minha memória não é muito boa. E não entenda isso como uma crítica ao som dos caras. Embora seja inegável que eles não marcaram minha vida, reouvindo estes três discos hoje, em 2020, eu me diverti bastante.
HELLISH WAR WINE OF GODS
O som dos caras é um metalzão tradicional, bem do jeito que Odin e eu gostamos. As músicas em geral têm uma cadência agradável, do tipo que acompanha seus passos se você ouvir enquanto caminha. Isso também significa que é ideal para bater cabeça.
Uma coisa que me agradou muito é o timbre das guitarras. Já há uns 15 anos ou mais está na moda que as bandas usem timbres bem graves. Há dois benefícios nisso: as músicas ficam artificialmente mais pesadas, e bem mais fáceis de cantar. Por isso mesmo, bandas com vocalistas mais velhos, como o Judas Priest, usam desse artifício em seus shows.
O Hellish War é mais true. Os timbres são mais tradicionais, mais típicos dos anos 80. E eu, particularmente, gosto bem mais desse estilo. De músicas que são pesadas por composição, não apenas por timbres.
HORA DE CANTAR
E já que falamos como isso afeta os vocalistas, o vocal talvez seja a coisa mais diferente do Hellish War. O heavy metal é um estilo habitado quase exclusivamente por tenores. A voz de Bil Martins é consideravelmente mais grave. Não chega a ser exclusivamente grave, como um Blaze Bayley, mas definitivamente não espere agudos de um Accept aqui.
Curiosamente, a banda parece já ter trocado de vocalistas algumas vezes, mas eles mantiveram o estilo nos três discos que eu tenho aqui. Então parece que não buscar por um cantor tenor é uma decisão ativa dos caras. E eu valorizo quem tenta ser diferente.
Daí, claro, entra o que eu disse por aqui quando falei pela primeira vez de Dark Souls. É uma fórmula interessante, mas eu não gostaria que tudo que fosse lançado a seguisse. Hoje sabemos que isso aconteceu nos games, mas não acho que o heavy metal vai abrir mão de tenores tão fácil. E, de qualquer jeito, eu apoiaria maior diversidade de vozes neste estilo que tanto gosto, ainda que, particularmente, meus vocalistas preferidos sejam todos tenores.
FAIXAS
As músicas que mais chamaram minha atenção em Wine of Gods são justamente as mais tradicionais. Aquelas que tendem a um estilo de marcha mesmo, manja? É o caso de Dawn of the Brave, que parece o resultado de uma noite de amor gostoso perto da lareira entre o Accept e o Iron Maiden. E daí, esse bebê cresceu e fez sexo com o bebê do Manowar. Ouça.
A seguinte, Devin, também se destacou bastante para o meu gosto. Se liga nesses riffs de guitarra. Em especial o que entra aos 1m30s e aos 2m25s. Este segundo é muito meu estilo de heavy metal. Dá para bater cabeça, acompanhar com palmas, ou então até cantar como se fosse uma versão ligeiramente mais inteligente do Beavis & Butthead.
Talvez a que mais chame atenção seja Warbringer, que conta com a participação do Chris Boltendahl, vocalista do Grave Digger. Afinal, se temos um vocalista com voz diferente da tradicional, por que não fazer um dueto com outro bastante diferenciado? O resultado você ouve abaixo.
Particularmente, eu gosto de Grave Digger, mas especialmente pelas guitarras. Não sou muito fã da voz do seu Boltendahl. A música Warbringer, no entanto, é bem legal. Aliás, o CD inteiro é legal. Embora eu tenha claramente minhas duas preferidas, não conseguiria destacar nenhuma faixa negativamente. É o tipo de álbum que dá para deixar tocando numa boa enquanto eu escrevo meus textos aqui no DELFOS.
REGULARIDADE É IMPORTANTE
Assim, mais uma vez o novo disco do Hellish War é bacana, tornando a banda muito mais regular do que outros grupos maiores. O Angra, para citar um exemplo, tem dois discos dos quais gosto muito (Angels Cry e Holy Land), mas nada que veio depois disso me pegou de jeito. O Hellish War, por outro lado, tem uma qualidade semelhante em todos os seus discos, o que é louvável.
Qual eu recomendo? Difícil dizer. Mas eu já percebi que as bandas costumam priorizar os trabalhos mais recentes em detrimento dos mais antigos. Então, se sua ideia é apoiar os músicos, vale escolher Wine of Gods. E depois ir atrás dos anteriores.