Depois de muita expectativa, o jogo do Homem-Aranha da Insomniac está entre nós. Confira nossa análise do Spider-Man de PS4.
ANÁLISE SPIDER-MAN DE PS4
Foi bem surpreendente quando a Sony anunciou, alguns anos atrás, o novo jogo do Homem-Aranha. Não por ser um jogo do amigão da vizinhança. Isso tem de monte e ainda virão muitos mais. A diferença é que este seria um exclusivo de PS4 (jogos de super-heróis costumam ser multiplataformas) e desenvolvido pela tremendona Insomniac, a criadora do divertidão Ratchet & Clank. Resultado? Houve muito regozijo.
Pois o regozijo há de continuar, meu amigo. O Spider-Man de PS4 é tremendão. Um mundo aberto clássico com uma campanha divertida, empolgante e que faz jus ao carisma deste que é um dos personagens mais queridos dos quadrinhos estadunidenses.
ROTEIRO DE QUALIDADE INSOMNIAC
A Insomniac é uma das desenvolvedoras mais carismáticas dos jogos de alto orçamento. Ela costuma criar personagens divertidos, tem uma estética estilosa e enche seus jogos de excelentes piadas e muita diversão. Eu sou realmente fã da série Ratchet & Clank por todos estes motivos.
Pois ela claramente tratou a oportunidade de fazer um jogo do Homem-Aranha com o maior carinho. As adaptações do personagem para outras mídias costumam focar nas cenas de ação e de perigo. Claro, uma história do aracnídeo precisa ter um Peter Parker bem desenvolvido, mas tem um limite no que dá para fazer em um filme de duas horas para que ele seja uma história completa.
A Insomniac se aproveita do maior tempo de desenvolvimento que um jogo de videogame permite para colocar bastante da vida pessoal do herói, além de tornar todos seus coadjuvantes tão tridimensionais quanto são nos quadrinhos.
Por exemplo, em uma das primeiras missões de história, Peter é despejado do seu apartamento, e seu objetivo consiste em encontrar um lugar para passar a noite. Isso quebra os conceitos que temos de um super-herói, e é exatamente o tipo de coisa que torna as aventuras do personagem tão relacionáveis. Nunca veremos algo assim em um jogo do Batman, por exemplo. Caramba, nem mesmo os jogos anteriores do Homem-Aranha tiveram tempo para este grau de desenvolvimento.
Minha única bronca é que isso nunca mais é citado, mesmo Peter estando literalmente sem teto. Isso pode ser considerado um erro de roteiro, mas felizmente é o único ponto que se destaca negativamente em uma história completa e bastante interessante. Ainda assim, ela toma algumas decisões bem perto do final que eu questionaria se a ideia for transformar este jogo em uma franquia, o que acredito que seja a intenção.
As histórias do herói sempre foram leves, engraçadas e divertidas. E estas são três características que os gibis dividem com os jogos da Insomniac. A fidelidade ao gibi permitiu que a desenvolvedora flexionasse seus músculos humorísticos e contasse aqui uma das histórias mais hilárias que já criou. Acredite, em muitos momentos eu chegava literalmente a gargalhar. Por exemplo, usar o fast travel mostra uma pequena cutscene do Homem-Aranha pegando o metrô. Mais uma forma de quebrar os arquétipos de super-heróis, mas que se encaixa completamente NESTE super-herói.
Apesar de seguir à risca a cartilha do gibi, isso não impediu a Insomniac de ser bem criativa.
EM ESPECIAL NO DESIGN
Qualquer um que viu qualquer vídeo ou imagem deste jogo, já sabe que o herói tem uma roupa nova e estilosa, com a aranha do peito e das costas de cor branca.
Eu achei que esta fosse simplesmente a roupa padrão do herói no jogo, mas há um motivo para ela ser criada. E, claro, como já foi divulgado, há muitas roupas adicionais. Algumas delas são baseadas em designs dos quadrinhos, como o Aranha Escarlate ou o Homem-Aranha 2099. Há uma que se destaca, no entanto.
Refiro-me à roupa do gibi. Não aquela que você vê em algumas das imagens acima, que é uma adaptação da original com os gráficos de videogame. É LITERALMENTE a roupa do gibi, com os mesmos traços e cores das HQs clássicas do personagem.
Todos os personagens também foram redesenhados seguindo a estética Insomniac. Se eu gostei muito da nova roupa, tenho algumas ressalvas com a cara nova de alguns bonecos. Acredito que, tirando a Mary Jane, nenhum outro está imediatamente reconhecível para quem passou a vida lendo os gibis.
Tem outros coadjuvantes dos quais eu gostaria de falar também.
VOLTANDO À HISTÓRIA
O Homem-Aranha de PS4 mostra o herói com oito anos de experiência super-heroística. Assim, ele já encontrou e lutou com boa parte dos vilões conhecidos. Nomes clássicos, como o Lagarto ou Electro são citados com frequência. Uma coisa que me chamou a atenção é que Otto Octavius e Norman Osborn são importantes para a história. Fãs dos quadrinhos devem reconhecer estes nomes como as pessoas que eventualmente viram os vilões Doutor Octopus e Duende Verde, respectivamente. Aqui, no entanto, eles são apenas Otto e Norman. Otto, em especial, rouba a cena sempre que aparece.
Obviamente, eu não vou falar aqui se Otto e/ou Norman se tornam os vilões clássicos no decorrer do jogo. Como já foi divulgado pela Sony, o principal vilão da história é Martin Li, o Senhor Negativo. Trata-se de um vilão secundário nos gibis, mas que, assim como costuma acontecer quando filmes utilizam um personagem assim, acabou sendo turbinado e elaborado com mais carinho para poder ser considerado uma ameaça considerável. Eu achei uma escolha bem exótica de vilão, mas gostei muito do uso feito dele. O Senhor Negativo deste jogo é, sem dúvida, bem mais legal do que o dos quadrinhos.
“Ok, ok, mas e o gameplay?”, pergunta o delfonauta impaciente com uma aranha na camiseta.
MUNDO ABERTO PADRÃO UBISOFT
O Spider-Man de PS4 traz um mundo aberto clássico, bem semelhante aos que a Ubisoft fazia antes de tudo virar RPG. O loop de gameplay, aliás, é bem familiar para qualquer um que já jogou um dos Assassin’s Creed clássicos.
Funciona assim: você vai até uma torre. Completa o minigame dela, e isso revela o mapa, onde aparecem os colecionáveis e as atividades. No vídeo abaixo, você pode ver bem como isso funciona. Pode ver tranquilo que não tem absolutamente nada de spoiler. Sou apenas eu balançando pela cidade, brigando com uns bandidos genéricos, ativando uma torre e pegando colecionáveis.
Agora, quando digo que o jogo lembra bastante os da Ubisoft, pode parecer uma crítica. A própria Ubi vem se afastando desta fórmula em seus jogos mais recentes. Porém, foram os jogos dela que me fizeram gostar de games de mundo aberto. Os melhores mundos abertos, em minha opinião, são os da editora francesa. Então encare isso como um grande elogio, ainda que eu realmente não ache muito legal a necessidade de revelar o mapa.
BALANÇANDO POR NOVA IORQUE
O mais importante em um jogo de mundo aberto é a locomoção. E neste aspecto, o Homem-Aranha é um projeto dos sonhos.
O Homem-Aranha de Mega Drive me fazia sonhar com mundos abertos
O herói já ganhou bons jogos de mundo aberto antes, então já tivemos a possibilidade de nos balançar por Nova Iorque no passado. A Insomniac, portanto, não reinventou a roda, mas a refinou. A locomoção neste Homem-Aranha de PS4 é ao mesmo tempo bastante interativa e intuitiva.
Coisas como em que ponto do balanço você larga a teia influenciam se você vai ganhar altura ou velocidade. Ao mesmo tempo, você pode se balançar, se puxar ou mesmo mirar em pontos específicos do cenário. É bem legal, e a sensação de velocidade causada é excelente. O fato de o mapa não ser absurdamente grande, como anda sendo a moda atualmente também é positivo, pois você consegue ir de um ponto a outro sem sentir que está jogando seu tempo fora.
Uma decisão curiosa é que o tempo não é dinâmico, mas segue aquele jeitão de Infamous. Ou seja, o tempo só passa quando você faz missões de história específicas. Eu só gostaria que mais do jogo acontecesse no final de tarde, que é simplesmente lindo demais.
A locomoção, no entanto, é apenas um dos pilares da jogabilidade.
O COMBATE
As lutas por aqui são bem rápidas e acrobáticas, e acontecem a maior parte do tempo no ar. Há também alguns gadgets, e este é um aspecto que eu diria que a Insomniac falhou em adaptar o Homem-Aranha.
Isso porque há apenas três tipos de teias. O padrão é quase inútil, pois necessita de vários tiros para ter qualquer efeito. É também o único quase ilimitado, com refill automático em alguns segundos. As outras duas, a teia de impacto e a bomba são bem mais legais, mas são extremamente limitadas. Depois dos upgrades, você acaba com um máximo de apenas quatro tiros, e os refills acontecem de forma aleatória durante o combate. Assim, eu acabava esquecendo de usar. Afinal, a teia acaba logo e é difícil recuperar.
Há outros tipos de gadgets, então você nunca fica totalmente sem brinquedos, mas estes outros têm mais a ver com o Batman do que com o Homem-Aranha. São coisas como um raio que faz os inimigos flutuarem ou um drone que dá choque nos desafetos.
Eu nem acho que seria necessário ter mais tipos diferentes de teia, mas gostaria que as duas realmente úteis não tivessem que ser usadas em doses tão homeopáticas. Isso não é algo que deixa o jogo mais desafiador, apenas limita a diversão, já que não dá para brincar com todas suas ferramentas à vontade.
Além dos gadgets e dos punhos, há também super-poderes, que podem ser acionados apertando R3 e L3 quando o círculo azul que você vê do lado direito da imagem acima está cheio. Estes poderes vêm com as roupas, mas uma vez que você destrave um uniforme, pode equipar o poder dele com qualquer visual. Embora haja vários, o mais útil vem logo no começo, e trata-se de um ataque de área que vence vários inimigos ao mesmo tempo. Outro que merece destaque é um que faz o herói soltar uma piada. Não é especialmente útil, mas é engraçado, e bem típico do Homem-Aranha.
Lembra que eu comparei este Spider-Man com os jogos da Ubisoft? Então, mais especificamente, ele me lembrou Far Cry 3. Digo isso por dois motivos.
MOTIVO UM: ATIVIDADES A RODO
Tem muita coisa para fazer aqui, e nem tudo é interessante. Um dos colecionáveis, por exemplo, coloca o herói para perseguir pombos. Isso é tão entediante e inútil quanto pegar peninhas em Assassin’s Creed, com a diferença de que estas penas fogem de você.
Mesmo as atividades que são bacanas acabam sofrendo pelo exagero. Por exemplo, as bases colocam você para vencer algumas centenas de inimigos. São divertidas, pois permitem brincar com o excelente combate por tempos mais estendidos. Porém, há tantas que é impossível não encher o saco antes de terminar todas.
Há também algumas que levam tempo e não são divertidas, como as estações de pesquisa e os desafios. Ambos colocam o jogador para cumprir objetivos com limites de tempo, o que nunca é uma boa ideia. Para piorar, os desafios classificam seu desempenho em bronze, prata e ouro. Conseguir ouro na maioria deles é bastante difícil, sendo assim o mais próximo que o Homem-Aranha de PS4 traz para agradar aos jogadores mais hardcore.
Há também dois tipos de puzzles pentelhinhos. Um deles envolve juntar canos para a eletricidade passar, enquanto o outro desafia o jogador a montar um quebra-cabeça de linhas.
Felizmente, embora haja um exagero de atividades e nem todas sejam legais, há coisas interessantes o suficiente para fazer com que seu mundo aberto não seja desperdiçado. Especialmente porque simplesmente se balançar de um desafio para o outro já é divertido por si só.
MOTIVO DOIS: MISSÕES DE HISTÓRIA
O segundo motivo que me fez lembrar de Far Cry 3 é a qualidade das missões de história. Assim como no jogo da Ubisoft, estas vêm com um capricho que normalmente só vemos em jogos lineares.
Isso superou muito minhas expectativas. O jogo anterior de mundo aberto da Insomniac, Sunset Overdrive, tem humor e estética afiados, mas missões de história bem chatinhas e repetitivas. Eu sinceramente achei que a desenvolvedora não fosse capaz de fazer boas missões em mundo aberto. Às vezes é bom estar errado!
A coisa é tão boa que o jogo ainda se sustentaria se você colocasse apenas as missões de história em um jogo de ação linear, o que é algo que não dá para falar da maioria dos jogos de mundo aberto.
Apesar de não parecer no início, há vários chefes bacanas e cenas de ação épicas e cinematográficas que não fariam feio em um Uncharted. Várias das missões são literalmente fases, que colocam você para passar por um corredor totalmente roteirizado, que não pode ser revisitado na parte de mundo aberto.
Além disso, como já foi divulgado, há algumas fases em que você joga com Peter Parker ou mesmo com outros personagens, como a Mary Jane.
Estas fases são normalmente mais focadas no stealth e são excelentes por fazer o jogador sentir na pele como as pessoas sem poderes estão vivendo em meio a todos os perigos da história. Também há stealth nas missões em que você controla o Aranha, mas estas são, obviamente, mais recheadas de superpoderes e acrobacias.
O mais legal, no entanto, é que a campanha do Homem-Aranha de PS4 é relativamente longa. Jogos de mundo aberto cujas missões de história têm esta qualidade, como Far Cry 3 ou Sleeping Dogs, são tradicionalmente bem mais curtos do que seus congêneres, mas aqui há bastante campanha. E, quando você acha que ela vai terminar, um novo ato se inicia, consideravelmente mais perigoso do que o que jogamos até o momento.
SPIDER-MAN DE PS4 É O MELHOR JOGO DO HOMEM-ARANHA?
Sem dúvida nenhuma é um excelente jogo. Gosto muito também do Shattered Dimensions, um jogo de ação linear e, portanto, bastante diferente. Aqui, no entanto, há uma história bem melhor e bem mais próxima do que vemos em um ótimo gibi do herói.
O que todo mundo vai querer saber mesmo é se o Homem-Aranha de PS4 é melhor do que a série Arkham do Batman. A resposta para isso depende bastante de como você joga e dos gêneros que mais curte.
Há claras influências da série Arkham por aqui, mas o jogo se sustenta como algo próprio. Porém, é inegável que se você ignorar os malditos troféus do Charada, o jogo do Batman é mais focado, pois nele até as sidemissions são interessantes. Spider-Man de PS4 é um jogo de mundo aberto mais tradicional e, desta forma, traz também mais gordura. Ainda assim, é um excelente jogo de mundo aberto, e mais um excelente acréscimo à forte linha de exclusivos que o PS4 vem lançando nos últimos meses.