Os primeiros meses do ano são sempre aquela coisa: o pessoal convenientemente se esquecendo das promessas feitas no réveillon, brasileiros em marcha lenta até o Carnaval e, no ramo cinematográfico, aquela época que o Corrales adora. Refiro-me, claro, à temporada dos Oscarizáveis, que se estende até o dia da cerimônia de premiação, em dois de março.
Por essa introdução, aposto que você já matou a charada. Trapaça, o novo longa do diretor David O. Russell (de O Vencedor e O Lado Bom da Vida) é um autêntico representante da classe. E mais uma vez, como na maioria dos filmes do sujeito, o destaque aqui não é a trama em si, mas a performance de seu elenco. Ainda assim, vou dar a sinopse, só para não quebrar a tradição.
Na década de 70, uma dupla de golpistas de pequeno porte, Irving Rosenfeld (Christian Bale, o Batman) e Sydney Prosser (Amy Adams, a Lois Lane. Engole essa, Superman, o Morcegão roubou tua mina) cai nas garras de um instável agente do FBI, Richie DiMaso (Bradley Cooper, quase repetindo seu papel em O Lado Bom da Vida), que os força a ajudá-lo a pegar o prefeito de Nova Jersey (Jeremy Renner, o Gavião Arqueiro) num ato de corrupção.
Contudo, à medida que o caso se desenrola, mais e mais gente graúda, como outros políticos e a máfia, entra na jogada. DiMaso se anima com a possibilidade de pegar toda essa galera com a boca no botija e construir sua carreira inteira em cima desse único caso. Mas Irving e Sydney só querem sair dessa situação complicada antes que sobre para eles.
Histórias sobre vigaristas, golpistas e trapaceiros em geral existem de monte no cinema (e também na TV. Como poderíamos nos esquecer do tremendão Sawyer?) e é um tipo de filme popular e sempre divertido de se assistir, com todos tentando passar a perna em todos e suas inúmeras reviravoltas e surpresas. Este aqui não é exceção, atendendo a todos esses requisitos. Além do mais, ainda dá para dar boas risadas das roupas e penteados ridículos da década da discoteca, que desfilam abundantemente pela tela, em um excelente trabalho de direção de arte.
Desta forma, não é nenhum primor de originalidade, mas como disse lá no segundo parágrafo (lembra dele?), o principal aqui não é a trama, mas a força de seu elenco. Temos um conjunto forte de atores aqui, e todos eles estão afiados.
Christian Bale, o homem sanfona de Hollywood, com uma capacidade assombrosa de mudar fisicamente de um papel para outro, mais uma vez passa por uma transformação física impressionante. Gordo e careca, com um comb over esdrúxulo (aquela técnica ridícula de deixar o pouco cabelo que resta crescer e jogá-lo por cima da careca, para tampá-la), seu Irving Rosenfeld é fisicamente repulsivo, mas tem uma lábia impressionante e muito sedutora.
Bradley Cooper também é outro que se enfeiou bastante. Mandou ver no bronzeado artificial, deixou uma barba rala e fez um permanente ridículo (a cena em que ele aparece com a cabeça cheia de bobs é impagável). Seu personagem vai da ambição desenfreada à loucura pura em poucos segundos.
Vale mencionar também Jennifer Lawrence como a esposa troféu e sem noção de Irving (isso mesmo, o Batman pega a Lois Lane e a Mística no mesmo filme. Lucky bastard!) que tem um prazer imenso em sacanear o marido infiel. Ela é responsável pelos momentos mais engraçados do longa.
Trapaça cumpre bem seu papel, sendo uma ótima opção para quem quiser assistir a um bom filme sobre trambiqueiros e seus golpes mirabolantes. E graças ao empenho de seu elenco, é bem capaz de angariar alguns prêmios de atuação, quem sabe até alguns almejados carecas dourados nesse departamento. Se você curte este tipo de história e, sobretudo, excelentes performances de elenco, é um ótimo programa.