Antigamente, séries de TV costumavam ser protagonizadas por sujeitos bonzinhos e estóicos, que várias vezes chegavam a arriscar suas vidas para fazer o que era certo. Ou, no máximo, por anti-heróis: sujeitos falhos e que seguem suas próprias regras. Mas que, no final das contas, também são boas pessoas à sua maneira particular.
Desde o advento de Família Soprano (The Sopranos) (1999/2007), contudo, as séries televisivas estadunidenses mudaram, ou ganharam mais bolas, se preferir. Desde então, seus protagonistas mais interessantes não são mais heróis ou mesmo anti-heróis, mas sim sujeitos completamente errados e em alguns casos até mesmo sem qualquer traço redentor. Sejam eles mafiosos ou pacatos professores de química que viram gênios do crime, os personagens principais descambaram para o lado negro da Força. E nós gostamos disso.
No caso de Dexter, isso vai ainda mais longe, afinal, o protagonista é um assassino em série. Tudo bem, ele não mata qualquer um, é verdade. Mas ainda assim, alguns anos atrás, a ideia de torcermos por um serial killer, por mais simpático que ele seja, seria completamente impensada. E ainda mais se pensarmos que ele é o personagem principal de um seriado que leva justamente o seu nome.
Dexter, por pior que tenham sido suas últimas temporadas e também o seu final mequetrefe, tem um mérito que nenhuma queda de qualidade consegue apagar: foi uma das mais corajosas e inovadoras séries da TV a cabo estadunidense. E se seus últimos anos foram sofríveis, vale lembrar que os primeiros eram tremendões. Antigamente, eu a considerava melhor do que Breaking Bad, por exemplo. Infelizmente, após as últimas temporadas, não tenho mais como sustentar tal argumento (teimosia pura, vale lembrar, não constitui um argumento), mas isso serve para lhe mostrar o quanto eu gostava da série e a considerava (e ainda considero, mesmo com todos seus pecados) especial.
Discorrerei melhor sobre seus méritos e deméritos mais para frente. Por enquanto, é mais apropriado apresentar o programa àqueles que porventura ainda não o conheçam. Então me acompanhe tal qual um passageiro sombrio pela mente psicótica de Dexter!
OLÁ, DEXTER MORGAN – O QUE É A SÉRIE
A série é baseada no livro Darkly Dreaming Dexter, de Jeff Lindsay, publicado nos EUA em 2004. No Brasil, o romance foi lançado em 2008, com o nome nada a ver de Dexter – A Mão Esquerda de Deus. O programa conta a história de Dexter Morgan, um perito forense (ou CSI, se preferir) da delegacia de homicídios de Miami, especialista em respingos e manchas de sangue.
Após testemunhar uma chacina dentro de um contêiner de carga quando pequeno, onde sua mãe foi uma das vítimas, foi adotado pelo policial Harry Morgan, que trabalhava no caso. Contudo, à medida que Dexter crescia, Harry foi notando que o filho adotivo não escapou do trauma de infância e desenvolveu tendências psicopatas.
Já que ele não conseguiria lutar contra sua natureza e não possuía empatia ou qualquer senso de certo e errado, Harry decidiu lhe ensinar um conjunto de regras todo próprio. Sabendo que não conseguiria impedir Dexter de matar, que ao menos ele assassinasse quem merecesse e o fizesse com todo o cuidado, planejamento e eficiência para diminuir ao máximo o risco de ser apanhado. Basicamente, Harry transformou Dexter no mais perfeito serial killer que o mundo já viu. Ser pai é isso aí!
Ele passa então a dividir seus dias com o trabalho e se esforçando para aparentar ser uma pessoa comum, tentando fazer tudo que elas fazem (como namorar e demonstrar preocupação com um amigo, por exemplo) como uma forma de camuflagem, enquanto, à noite, sai à caça de bandidos que cometeram crimes horríveis, mas de alguma forma escaparam da punição da lei através de brechas no sistema. Dessa forma, ele pode colocar esses meliantes em sua mesa numa boa, sem que os órgãos da lei deem pela falta deles e, assim, sem levantar nenhuma suspeita e sem chamar atenção para seu hobby pouco ortodoxo.
Assim como quase todos os serial killers, ele possui um ritual específico para matar suas vítimas. Gosta de cobrir um cômodo inteiro em plástico, embora isso seja mais parte do código de Harry para evitar deixar evidências, bem como de amarrar suas vítimas peladonas à sua mesa também com plástico. Daí, ele as força a olhar fotos das pessoas que elas prejudicaram para ver se suas consciências pesam. Em seguida, colhe uma gota do sangue delas numa lâmina de microscópio como troféu, e as despacha, geralmente com uma facada no coração.
Eu tenho um certo problema com esse ritual dexteriano, pois acho que ele as mata muito rápido. Geralmente, os assassinos seriais gostam de saborear o momento e matar devagar, mas entendo essa opção, pois se Dexter fosse um sádico, mesmo que suas presas merecessem, seria muito difícil, para não dizer impossível, trazer o espectador para o lado dele. E aí o programa perderia toda sua base de sustentação. Mas que seria bem melhor vê-lo se divertindo mais com os pobres coitados que estão em sua mesa, isso seria…
Vale falar também que o nome Dexter não foi escolhido por acaso. O nome, que poderia ser traduzido como “Destro”, simboliza alguém que segue sempre o caminho da direita, da virtude, da bondade, etc. Não é à toa que “esquerda”, em italiano, é “sinistra”, e os satanistas costumam dizer que seguem o “caminho da esquerda”, pois esquerda e direita sempre tiveram essa diferenciação, onde o primeiro é mau, e o segundo é bom. Talvez este parágrafo ajude a explicar o título imbecil que o romance que deu origem à série ganhou no Brasil.
Pois bem, agora que você já está inteirado da premissa básica e até dos modos de matar do protagonista e da simbologia do seu nome, vamos conhecer um pouco melhor os personagens principais da série.
OS PERSONAGENS
– Dexter Morgan (Michael C. Hall): Técnico forense de dia, assassino serial à noite, Dexter segue um conjunto de regras, ou código, criado por seu pai para protegê-lo e fazer com que só mate quem mereça. Por não ter sentimentos (ou ao menos acreditar não ter) está sempre tentando disfarçar seu lado negro, ou “passageiro sombrio”, como ele o chama, imitando o que julga como comportamentos normais das pessoas. Para manter esse disfarce e as aparências, joga boliche com o pessoal da delegacia e namora Rita no começo da série. Mas o que ele gosta mesmo é de botar gente ruim enrolada em plástico em sua mesa e enfiar uma faca enorme em seus buchos.
– Debra Morgan (Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose): Irmã de Dexter, Debra sempre quis seguir os passos do pai e por isso virou policial, trabalhando na mesma delegacia que o irmão. Possivelmente a mulher mais boca suja do mundo, é a pessoa que mais consegue se aproximar de Dexter, o que não quer dizer que ela saiba o que ele faz à noite.
– Rita Bennett (Julie Benz): A namorada de Dexter. Ela tem dois filhos pequenos de outro relacionamento com um sujeito que não é flor que se cheire, mas que no Lost era o Jacob. Por conta disso, teve uma vida sofrida até conhecer Dexter, a quem ela ama de verdade e deseja um futuro juntos, muito embora ele só esteja com ela por conveniência.
– Harry Morgan (James Remar): O policial que encontrou o pequeno Dexter em meio a uma poça gigante de sangue em um de seus casos. Quando a série começa, ele já está morto há anos, mas aparece em flashbacks orientando o jovem Dexter a seguir seu código ou como uma representação interativa das normas morais que ensinou ao filho. Eu não quero dizer “consciência” porque ele não tem uma, mas sim: basicamente, o papel dele é de servir como consciência para o protagonista.
– Angel Batista (David Zayas): Detetive do departamento de homicídios, de origem cubana, tem um visual “amante latino”, com camisas estampadas e chapéu. Considera Dexter um amigo e é um bom policial. À medida que a série avança, vai subindo nas fileiras da polícia e ganhando mais importância.
– James Doakes (Erik King): O sargento Doakes é o único na delegacia que sente que há algo de errado em Dexter, embora não saiba exatamente o quê. Por conta disso, é extremamente desagradável com ele e, por isso, mesmo ele estando coberto de razão, faz a gente torcer para que Dexter leve a melhor sobre ele sempre.
– Vince Masuka (C.S. Lee): O outro técnico forense da delegacia e parceiro de trabalho de Dexter. É o alívio cômico da série. Tarado ao extremo, tudo para ele é sexo e sacanagem, deixando-o com o maior jeitão de cafajeste.
– Maria LaGuerta (Lauren Vélez): Outra policial de descendência cubana, LaGuerta às vezes se interessa mais por subir na carreira do que em resolver casos, embora ela seja competente no serviço. Por algum motivo, não vai com a cara de Deb. No comecinho da série, ela tem uma queda por Dexter e dá em cima dele algumas vezes.
– Joey Quinn (Desmond Harrington): Quinn entra a partir da terceira temporada, transferido de Nova Iorque. É um bom detetive, mas tem o péssimo hábito de se envolver em esquemas de corrupção e também com criminosos, o que acaba por deixá-lo com o rabo preso.
– Delegado Chefe Tom Matthews (Geoff Pierson): O chefão da polícia de Miami era amigo pessoal de Harry e, após sua morte, assumiu um papel de mentor para com Dexter e Debra. Fora isso, cuida mais da parte burocrática, tendo de lidar principalmente com LaGuerta e sua sede por promoções.
Com a trama e os principais personagens do elenco fixo devidamente apresentados, podemos passar ao que interessa, os prós e contras do seriado. Mas antes, fique com a divertida abertura da série:
Agora sim, tratemos do que ele tem de bom.
TONIGHT’S THE NIGHT – OS PONTOS ALTOS
A coisa que mais imediatamente chama a atenção é seu protagonista. Michael C. Hall entrega uma das atuações mais tremendonas de todos os tempos, em um personagem extremamente difícil de se retratar.
Como Dexter não costuma demonstrar emoções e nem pode perder o controle para não acabar entregando, Hall tem que fazer muito com pouquíssimas opções. E, rapaz, ele consegue! Seu Dexter é econômico em expressões faciais, tem a fala mansa, mas transmite muito através de pequenos detalhes, como olhares sutis e mudanças na postura corporal. O cara, através de sua interpretação cheia de minúsculas nuances, consegue não só fazer o público torcer por um assassino serial, como ainda o torna extremamente simpático e humanizado. Não há como não torcer por ele, e muito disso cai na conta da fantástica atuação de Michael C. Hall.
O cara é tão bom ator que basta assistir seu trabalho anterior na série Six Feet Under para constatar como são dois personagens totalmente diferentes e opostos, sem qualquer traço em comum.
Outro ponto alto e que também envolve a atuação de Hall são as narrações (ou voice overs) dos episódios. São elas que revelam muito do lado psicológico do protagonista e ajudam a dar as informações de sua personalidade. E também empregam muito humor negro, o que é sempre um bônus. Claro, o texto dessas narrações é ótimo, mas novamente o trabalho de Michael C. Hall nelas as torna alguns dos melhores voice overs que já vi (ou, nesse caso, ouvi).
Há também a questão já comentada de fazer o público simpatizar com um personagem que deveria ser considerado um monstro, mas ao invés disso não só torcemos por ele como também torcemos para que ele consiga matar quem está alvejando. Algo difícil de fazer, mas que os escritores conseguiram com maestria.
Além de um bom elenco, com ótimas atuações de todos, incluindo aí os atores convidados em cada temporada, há ainda o clima de suspense que aumenta exponencialmente a cada episódio, com Dexter sempre prestes a ser descoberto por alguém, ou com algum bandido perigoso que deixou escapar ameaçando seus entes mais próximos. Todos esses fatores contribuem para deixar o espectador de olhos grudados na TV.
Mas infelizmente Dexter está longe de ser uma série perfeita e possui muitos problemas, especialmente em seus anos mais recentes. Vejamos então os fatores que a prejudicam.
O PASSAGEIRO SOMBRIO – O QUE TEM DE RUIM
Algumas das primeiras (e melhores temporadas), como a primeira e a quarta, pecam um pouco pelo que eu costumo me referir como “o mal do roteirista”, aquela necessidade tão forte quanto a ânsia de matar do personagem, que envolve ligar cada ponto das tramas, deixando tudo redondinho como uma… bem, como uma trama de ficção.
O problema é que eles ligam e conectam até o que não precisa, o que torna alguns pontos da história bastante forçados, pois fica difícil de acreditar que esse tipo de coisa aconteceria na vida real. E por mais que até possam fazer sentido para a trama, ainda assim é duro de engolir. A primeira temporada ainda tem, em minha opinião, um baita problema de lógica envolvendo Harry e sua decisão de adotar Dexter (atenção para um grande spoiler da primeira temporada. Só selecione o parágrafo abaixo se já assistiu).
Harry pegou Dexter para criar, mas não o irmão dele porque acreditava que o mais velho já estava muito traumatizado. A partir do momento em que Dexter dá os primeiros sinais de que ele também ficou traumatizado, seguindo sua lógica, ele não deveria se livrar dele? Ou, já que decidiu ensinar o código a Dexter, não devia ir atrás do irmão para ao menos ver se poderia ensinar a ele também? Harry é um policial que sabe que há um potencial psicopata à solta por aí, e sua atitude é simplesmente ignorar. Bizarro.
Já as três últimas temporadas são indesculpáveis. As tramas ficaram cada vez mais absurdas, ao ponto do ridículo. Parece que a equipe de roteiristas tomou ácido e não voltou mais de sua viagem lisérgica. Para eles, aquelas histórias fazem todo sentido, mas para qualquer pessoa em sã consciência, o contrário é bem óbvio.
Na sexta temporada então, acontece algo tão errado com a Deb em relação ao Dexter (Spoiler: ela se descobrir apaixonada por ele) que deveria ser crime. Espere aí, se não me engano acho que é sim! Até tentaram corrigir na temporada seguinte, mas aí o estrago já estava feito e as forçadas de barra das tramas só prejudicaram a série, que se arrastou até o oitavo ano como uma pálida sombra do que foi no começo. Ah, sim, o final da série também não foi nada bom, encerrando de maneira moralista um programa que sempre primou justamente por subverter essa visão de mundo simplificada.
Mais sobre as qualidades e defeitos logo abaixo, onde falo um pouco sobre cada uma das oito temporadas do programa. E a partir desse ponto, vale um novo aviso, possíveis spoilers habitam todo o tópico abaixo. Se você não assistiu à série ou a alguma temporada específica, recomendo pular direto para a conclusão. Depois não diga que eu não avisei!
AS TEMPORADAS
– 1ª temporada: A apresentação de Dexter e seu “passageiro sombrio” (a forma como ele se refere à sua ânsia homicida), bem como dos outros personagens de apoio. Ele começa um perigoso jogo de gato e rato com o Ice Truck Killer (Assassino do Caminhão Refrigerado), um assassino serial que está assolando Miami ao drenar o sangue de suas vítimas, deixando os corpos perfeitamente preservados em locais públicos. Contudo, a identidade do assassino pode estar ligada ao próprio passado e origens de Dexter.
Particularmente, não sou fã dessa temporada, pois ela sofre do “mal do roteirista” e tem muita coisa da história que pra mim não faz o menor sentido.
Nota: 2,5
– 2ª temporada: Ainda bem que, após um primeiro ano que não me agradou, persisti, pois o segundo é o meu favorito de toda a série. Pontos para a coragem dos roteiristas, que usaram, já na segunda temporada, uma trama que poderia ter sido conservadoramente guardada para a última.
O local de desova dos corpos das vítimas de Dexter é descoberto por acidente, o que faz com que a polícia organize uma grande caçada pelo Bay Harbor Butcher (Açougueiro de Bay Harbor), como ela passa a chamá-lo. Um agente tremendão do FBI (Keith Carradine, irmão do Bill) chefia a investigação e posteriormente se envolve com Deb. Enquanto isso, Dexter, ainda sofrendo os efeitos das revelações e de seus atos na primeira temporada, tem que ficar na miúda e tentar ao máximo evitar matar alguém, o que lhe deixa a ponto de surtar. As mentiras que conta para Rita também começam a sair pela culatra e só o deixam mais enrolado.
É a temporada mais tensa, com Dexter descontrolado, fazendo uma besteira atrás da outra, em vários momentos a ponto de ser descoberto e também várias vezes mostrando seu lado mais assustador, para lembrar ao espectador que o simpático serial killer amigão da vizinhança, no final das contas, ainda é um psicopata perigoso.
Nota: 5
– 3ª temporada: Um dos principais temas abordados pela série é a busca constante de Dexter em encontrar alguém (seja um amigo ou relacionamento amoroso) que entenda, não tema e até aceite seu passageiro sombrio. Em suma: ele está constantemente em busca de alguém para quem ele possa se revelar por inteiro. Esse é o grande mote dessa temporada, onde ele faz amizade com o promotor público Miguel Prado (Jimmy Smits).
Mesmo depois que Miguel descobre que Dexter matou uma pessoa, a amizade só se fortalece e Morgan chega até a tentar ensinar a ele seus métodos de matar. Mas como Miguel não compartilha do código de Harry, acaba surgindo um certo conflito de interesses.
Nota: 5
– 4ª temporada: Com o relacionamento com Rita em um novo patamar, Dexter parte à caça do Trinity Killer, assim chamado porque sempre mata em ciclos de três vítimas. O problema é que ele passa a admirá-lo ao constatar que Trinity (John Lithgow, o Dick de 3rd Rock From the Sun, numa das grandes atuações de toda a série) é um sujeito velho, ou seja, está em atividade há muito tempo e nunca foi pego. E ainda por cima é pai de família e parece ser capaz de levar uma vida normal com ela.
Dexter fica tão fascinado em tentar descobrir como ele consegue conciliar suas duas faces que acaba protelando demais para colocá-lo em sua mesa, o que gera consequências catastróficas.
Por conta da soberba atuação de John Lithgow e do chocante e corajoso final, que deixou todo mundo de queixo caído, esta é tida por muitos como a melhor temporada da série. É tremendona mesmo, mas novamente a mania dos roteiristas em querer deixar tudo tão amarradinho quase põe tudo a perder, por isso ainda prefiro a segunda.
Nota: 5
– 5ª temporada: O último bom momento da série. A você que ainda não assistiu nada, faça um favor a si mesmo e veja só até aqui. Vai por mim. O quinto ano novamente retoma o tema de Dexter se aproximar de alguém que conhece e aceita seu passageiro sombrio. No caso, Lumen (Julia Stiles), que ele salva de um grupo de assassinos chefiados por um guru de autoajuda (Jonny Lee Miller, o Eli Stone e atual Sherlock Holmes) e a ajuda a obter vingança contra eles. Muita gente acha que a série já começou a cair aqui, pois essa temporada não é tão impactante quanto a anterior. Isso é verdade, mas ainda assim, comparado ao que viria a seguir, é ótima.
Nota: 4,5
– 6ª temporada: A pior de todas. A trama começa a se repetir, com Dexter caçando professor (Edward James Olmos) e pupilo (Colin Hanks) de uma bizarra seita assassina do apocalipse. Além disso, a dinâmica da relação de Deb para com Dexter muda para algo tão errado que eu tive que desinfetar minha televisão com álcool ao fim dessa temporada.
Deb se apaixonar por Dexter é algo mais horrível do que matar um cara com uma faca gigante, esquartejá-lo e jogar os pedaços no mar dentro de sacos de lixo. É óbvio que os roteiristas só criaram esse artifício, e assim involuntariamente defendendo a ideia de que irmãos adotivos não são irmãos de verdade, para intensificar o que aconteceria na temporada seguinte. Como se amor fraternal não fosse forte o suficiente para poder sustentar o mesmo arco dramático. Eu não disse que esses escritores criavam tramas que só fazem sentido na cabeça deles?
Mas o cliffhanger do final, é preciso admitir, é um dos melhores da série, do nível da quarta temporada em termos de surpresa.
Nota: 1
– 7ª temporada: Ela tenta corrigir as besteiras cometidas na anterior, mas não tem colhões para levar totalmente adiante o que foi proposto no cliffhanger da sexta. Deb precisa aprender a lidar com as novas informações sobre o irmão. Ao mesmo tempo, LaGuerta decide reabrir por conta própria as investigações sobre o Bay Harbor Butcher, o que deixa Dexter mais uma vez correndo perigo de ser apanhado.
Nota: 2
– 8ª temporada: A última temporada poderia ser uma despedida digna para série e personagem se feita com o mínimo da qualidade das primeiras. Infelizmente, passou longe disso. Voltam personagens que não deveriam voltar (eu não suporto a Hannah McKay!), o absurdo das histórias continua e, pra piorar, aqui rola até um famigerado retcon que nada acrescenta de bom às origens do personagem. Para completar a desgraça, o final é besta pra caramba, de dar ódio no coração. Péssima despedida.
Nota: 0,5
ENCERRAMENTO
Dexter, em suas primeiras temporadas, foi uma das melhores séries de TV de todos os tempos. Em suas últimas, virou uma das mais ridículas, exageradas e sem noção, arranhando feio o grande brilho que possuía e diminuindo bastante a qualidade como um todo, o que se reflete no número de Alfredinhos que aparecem acima da ficha técnica.
Agora que acabou, o melhor que posso fazer é tentar esquecer as três últimas como se nunca houvessem existido e me concentrar apenas nas boas lembranças das cinco primeiras. Recomendo a você fazer o mesmo. E reitero, se você ainda não assistiu nada, veja só até a quinta, e você terá a certeza de ter assistido a uma das grandes séries da atualidade. No fim das contas, Dexter Morgan, o personagem, vai deixar saudade. Dexter, a série, já foi tarde.
CURIOSIDADES:
– A primeira temporada usou muitos elementos do romance Darkly Dreaming Dexter, de Jeff Lindsay. As temporadas seguintes utilizaram apenas referências vagas aos outros livros da série.
– Michael C. Hall teve linfoma de Hodgkin (um tipo de câncer do sistema linfático) durante a série, mas continuou trabalhando normalmente. Além disso, ele só divulgou o fato em janeiro de 2010, quando já estava em remissão. Por conta disso, a notícia foi um choque para muita gente da equipe e elenco, que nem desconfiava que ele estava doente.
– Michael C. Hall bateu acidentalmente o Slice of Life (“fatia de vida”, o barco de Dexter que ele usa para desovar os corpos de suas vítimas no mar) num píer durante uma filmagem, causando estragos à embarcação no valor de 8.000 tio Sams. Mas como provavelmente ninguém teve bolas para cobrar um assassino serial, ele não teve de pagar o conserto.
– Jennifer Carpenter e Michael C. Hall se conheceram nos sets de filmagem da série, se casaram em 31 de dezembro de 2008 e se divorciaram em dezembro de 2010. Irmãos na TV, casados na vida real. Isso constitui incesto?
– No Brasil, a série chegou primeiro no canal Fox, mas pouco depois foi transferida para o FX, que é onde estreavam as novas temporadas. Em paralelo, o Liv reprisa as temporadas mais antigas. E na TV aberta, a Rede TV! chegou a exibir a série.