O delfonauta já percebeu como é difícil ver a Keira Knightley de calça jeans e camiseta? De todos os filmes dela que eu já vi, acho que só um ou dois não eram de época. A moça já está para o diretor Joe Wright como Johnny Depp está para o Tim Burton: dos cinco filmes que ele dirigiu, Anna Karenina é o terceiro protagonizado por ela, mais uma vez de espartilho e casquete.
Dessa vez ela faz a personagem título, esposa de Alexei Karenin, um aristocrata correto e admirado, interpretado pelo Jude Law. Ela faz uma viagem a Moscou para tentar convencer a cunhada Dolly a perdoar as constantes traições do irmão Stiva, e assim salvar seu casamento. Nisso, acaba conhecendo o jovem Conde Vronsky (o Kick-Ass), com quem começa seu próprio romance proibido. E então terá de escolher: seu casamento honrado e infeliz ou o amor verdadeiro que a condenaria ao ostracismo e a separaria de seu filho. Paralelamente, acompanhamos também o apaixonado Levin, velho amigo de Stiva, tentando conquistar a mão de Kitty, a irmã mais nova de Dolly e antiga pretendente do Conde Vronsky.
OS PRÓS
O visual é bonito e vibrante, os figurinos são chiques, os cenários são como palcos, os movimentos são fluidos e coreografados, tudo tem um clima teatral bastante empolgante e artístico. A direção está especialmente estilizada, chegando a chamar atenção para si. Se Os Miseráveis é uma peça de teatro ampliada para escala cinematográfica, Anna Karenina é como um filme teatralizado.
O que é legal, se você pensar nisso como uma alegoria para a sociedade russa: todos estão sempre sob os holofotes, a vida de um é espetáculo para os outros. E as únicas cenas que mostram o mundo aberto são as que Anna está com Vronsky, ou com seu filho, ou quando Levin está em sua casa no campo. Ou seja, as cenas em que os personagens estão experimentando algum tipo de amor, por assim dizer. O que tem muito a ver com a essência do livro.
Graças a isso, o filme começa bem. Enquanto somos apresentados à alta sociedade da Rússia, tudo é muito chique e animado, e as transições de cena são criativas e sofisticadas. Enfim, é o visual que carrega o filme e o torna memorável. A cena do baile, por exemplo, é a mais bonita e a mais poderosa. Mas não é estranho a cena mais poderosa de uma adaptação de Tolstói ser uma em que não existe diálogo?
OS CONTRAS
A direção de Wright consegue te deixar impressionado por um tempo, mas isso acaba conforme a trama vai se desenvolvendo. Quando as coisas vão ficando dramáticas de verdade e começam a exigir mais profundidade emocional, a narrativa fica maçante, e você começa a se perguntar quanto falta para o final.
Isso porque os personagens não são desenvolvidos o bastante para você se importar com eles, e isso faz tudo parecer melodramático demais. O casal principal simplesmente não conquista sua simpatia, e assim acabamos torcendo pelo marido, que na verdade tinha de ser frio, severo e detestável.
A culpa não é do elenco, no entanto. Jude Law está mesmo em destaque, mas a Keira e o Aaron também não decepcionam. O que faltou mesmo foi desenvolvimento. Ficou tudo meio raso e difícil de envolver, como se o diretor estivesse tão ocupado em dar um espetáculo técnico que esqueceu que estava adaptando um clássico da literatura. Então, se ainda não tiver lido, não deixe o filme te desencorajar. Ele não faz justiça à sua fonte.
Portanto, é isso: se você, como eu, acha que um filme – especialmente uma adaptação literária – precisa ter mais do que visual para ser realmente bom, então pense bem antes de assistir. Se você acha que só o show do Joe Wright já vale, então é recomendável. Mas não espere nada muito divertido ou emocionante.
CURIOSIDADE:
– Fãs de Game of Thrones: o garoto que faz o Lommy Greenhands aparece aqui. E também tem uma aparição muito breve do Sam Tarly, mas se você piscar, perde.