Sem muito medo de errar na generalização, posso afirmar que a maioria dos delfonautas que gosta de heavy metal começou a ouvir o estilo graças a um dos grandes medalhões do gênero. Tipo Metallica ou Iron Maiden. Minha paixão pelo metal, no entanto, começou um pouco diferente. Há uns 18 anos, um amigo me mostrou um LP (para os mais jovens, era uma coisa mágica, redonda que, ao girar na velocidade apropriada e ser tocado por uma minúscula agulha de diamante, era capaz de fazer música. Bons tempos). Era o Shades of God, do Paradise Lost. Foi isso o que me salvou de frequentar baladas sertanejas e afins. O Paradise Lost me apresentou ao heavy metal e, por isso, serei eternamente grato a eles.
Assim que vi a notícia, aqui mesmo no DELFOS, que eles iriam tocar em São Paulo, para divulgar seu décimo terceiro disco – Tragic Idol – não tive dúvidas. Como esta foi a primeira banda de metal que eu ouvi na vida, nada mais justo que o show deles fosse o último que eu veria antes do fim do mundo. E foi o que aconteceu.
Cheguei a São Paulo faltando apenas duas horas para o início do show. Como não moro na capital paulista, o deslocamento do aeroporto até o local do show virou uma desventura daquelas típicas do Corrales, mas pouparei os leitores das minhas lamúrias contra aparelhos de GPS que te mandam atravessar muretas de concreto como se você estivesse dirigindo o batmóvel, e não um carro alugado. Agradeço aos deuses por morar em uma cidade em que existem retornos e você não é punido cruelmente por perder uma alça de acesso… Mas, no fim, deu quase tudo certo e consegui chegar a tempo de pegar meu ingresso e entrar. Com apenas seis minutos de atraso, abriram-se as cortinas do palco do Carioca Club.
Tudo pronto. Casa cheia. Sem atrasos. Nick Holmes (V), Gregory Mackintosh (G), Aaron Aedy (G), Steve Edmondson (B) e Adrian Erlandsson (D) subiram ao palco do Carioca Club. O show começou com Widow, do meu álbum favorito (Icon, de 1993). Na sequencia, uma canção nova – Honesty in Death – foi cantada por todos no local. Nick Holmes se mostrou bastante simpático, apesar do cansaço visível.
Quem já teve oportunidade de vê-los ao vivo sabe exatamente como é a postura da banda no palco. A seriedade de Nick Holmes, a concentração de Greg, os sorrisos e a agitação de Aaron e a discrição de Steve já são conhecidos. A novidade ficou por conta do “cara novo”. O veterano Adrian Erlandsson, que já passou por bandas como Cradle of Filth e At the Gates mostrou-se preciso e competente, dando ao som gótico do Paradise Lost um peso incrível.
O show prosseguiu com alguns clássicos (confesso que deu vontade de chorar na hora em que começou a soar a introdução de Enchantment), intercalados com músicas novas. O Paradise Lost possui uma discografia invejável. Apesar de ter uma identidade sonora característica, a cada álbum a banda apresenta elementos sonoros diferentes. E foi exatamente isso que se percebeu no curtíssimo setlist apresentado em São Paulo. A sequência iniciada por Pity the Sadness (a primeira música de heavy metal que ouvi na vida, e por isso não consegui segurar as lágrimas. Sou headbanger, mas sou humano, poxa) prosseguiu com As I Die e a belíssima One Second.
Isso não significa que não ocorreram problemas. O principal deles foi a curta duração da apresentação. Foram pouco mais de 90 minutos e dezesseis músicas. Além de terem ficado de fora muitos clássicos, quando eles se retiraram do palco ficou parecendo que havia acabado o opening act e que a banda principal ia começar. Foi decepcionante.
Mas o problema mais grave foi a qualidade do som. Estava tudo perfeito até a segunda música do bis. O som simplesmente sumiu ao final da pesadíssima Fear of Impending Hell. O pior é que os músicos não perceberam o fato e continuaram como se tudo estivesse funcionando normalmente. Nick Holmes, inclusive, chegou a apresentar a banda, mas não foi ouvido pelos presentes. Apesar de o problema ter sido resolvido e o show ter sido encerrado sem maiores problemas, foi realmente decepcionante.
O saldo, no entanto, foi realmente muito bom. O Paradise Lost mostrou a competência que só duas décadas de estrada podem proporcionar. Sempre vai haver alguma reclamação com relação ao setlist. Mas quem esteve no Carioca Club foi presenteado com um show excelente. Pena que o mundo vai acabar dia 21, e eu não terei a chance de rever uma das minhas bandas favoritas ao vivo novamente. Mas levarei as lembranças desse show do dia oito para os meus últimos momentos e, durante o Armagedom, estarei cantarolando as canções do Paradise Lost, enquanto eu morro.
SETLIST:
1. Widow
2. Honesty in Death
3. Erased
4. Enchantment
5. Soul Corageous
6. In This We Dwell
7. Praise Lamented Shade
8. Pity the Sadness
9. As I Die
10. One Second
11. Tragic Idol
12. The Enemy
Bis
13. Embers Fire
14. Fear of Impending Hell
15. Faith Divides Us – Death Unites Us
16. Say Just Words