O Steven Soderbergh é o diretor mais produtivo da atualidade. Ele é também o que tem a maior quantidade de filmes analisados pelo DELFOS. Isso não acontece porque temos uma saudável preferência pela sua obra, mas porque nenhum outro diretor lançou tantos filmes nos últimos oito anos quanto esse cara. Sério, clique no nome dele após terminar de ler este texto e veja quantos resultados a busca retorna. É assustador! =D
Em geral, não sou um grande fã do sujeito, mas admito que estava ansioso para Contágio. Além da sua divulgação interessante, tinha potencial para ser um daqueles filmes de zumbis sem zumbis, tipo Ensaio Sobre a Cegueira, manja? Pois regozijemo-nos em regozijo, amigo delfonauta. Contágio cumpre o que promete, e mais.
SAI DE PERTO DE MIM!
Como você já deve, no mínimo, deduzir, Contágio conta a história de uma pandemia que se transmite pelo ar e pelo toque. Isso obriga as pessoas a viverem em isolamento social, enquanto a OMS e outros órgãos trabalham em busca de uma vacina ou uma cura.
Temos uma pancada de personagens aqui. Dos cientistas trabalhando na vacina (Laurence Fishburne e Kate Winslet) até o cidadão comum que quer proteger a filhinha (Matt Damon) passando, claro, pelo jornalista inescrupuloso a fim de ganhar uns tostões (Jude Law).
São várias histórias mostrando como diferentes tipos de pessoas reagiriam. Algumas delas se cruzam, outras não. Felizmente, a montagem hábil não dá aquela sensação de coito interrompido tão comum em filmes que seguem este tipo de narrativa (Babel vem à mente) e faz com que todas as histórias, em maior ou menor grau, sejam interessantes.
Já que falamos em interessante, é muito legal ver os procedimentos do governo e dos cientistas para lidar com isso, e o ar documental e a filmagem digital dá um ar de veracidade ao longa. No mínimo, o faz parecer real, ainda que possa ter fantasiado algumas coisas.
O que não fantasiou, obviamente, é o pânico e a violência com a qual o público reagiria a uma situação como essa, especialmente após receber a notícia de que será um dos últimos a receber a vacina. Aí entraria a parte do “filme de zumbis sem zumbis” e, embora Contágio arrisque este caminho, não o aprofunda da mesma forma que o cinema Z costuma fazer. Este simplesmente não é o foco.
Infelizmente, o ar documental que elogiei há pouco também dá ao filme uma cara feia, a ponto de causar estranhezas ao pensarmos que ele vai estrear em IMAX. Isso fica ainda mais grave pela direção de arte. O filme tem várias legendas que mostram há quantos dias a epidemia começou ou a localização, e essas legendas estão simplesmente horríveis. Parecem montagens feitas no Photoshop por alguém sem a menor noção de design.
Mas não foi por isso que o longa não ganhou o Selo Delfiano Supremo. O único problema sério mesmo no filme é que algumas histórias importantes, como a de Kate Winslet, não ganham uma conclusão satisfatória, apenas sugerida. Enquanto isso, outras totalmente secundárias, como a do faxineiro que era um tradutor na série Lost (fiquei orgulhoso por reconhecer o ator e lembrar de onde o conhecia! =D), terminam “bonitinhamente”.
Esse é o tipo de coisa que você acaba percebendo apenas um tempinho depois do filme, ao repassá-lo na sua cabeça, e com certeza não é nada considerável, ou que deva convencê-lo a não conferir o filme. Pelo contrário, Contágio é um filmão que merece ser assistido, e como vimos raríssimas vezes este ano. Vamos ver agora qual será o próximo projeto do Soderbergh a estrear, provavelmente daqui a umas duas semanas. =D