O delfonauta dedicado já sabe do pavor que eu adquiri quando se trata da obra do diretor Ang Lee. Eu me lembrava do nome desse filme quando da Mostra de Cinema e lembro de ele ser importante, mas admito que não lembrava do diretor. Se lembrasse, provavelmente teria convocado o Cyrilove a espalhar seu amor para todas as pessoas da cabine.
Felizmente, Aconteceu em Woodstock não me levou ao suicídio. Aliás, muito pelo contrário. Gostei bastante do filme e ele fez inclusive com que eu me sentisse bem e otimista com a vida pela primeira vez em muito tempo. Pelo menos até o ônibus que eu peguei para voltar ao Oráculo se recusar a parar para uma ruiva peituda que provavelmente sentaria ao meu lado, o que colocaria uma série de variáveis em ação e culminaria no fato de ela eventualmente se tornar a senhora Corrales. Ah, se o motorista parasse…
Mas voltemos ao filme. Aqui conhecemos Elliot (Demetri Martin, um sujeito que é 90% nariz). Sua família tem um hotel numa cidadezinha que é quase uma vila e, obviamente, está passando por problemas financeiros. Até que ele decide chamar a organização de um festival de música que não tinha local para acontecer e o evento acaba se tornando maior do que a própria vida. Um cafuné para quem adivinhar o nome do festival.
Porém, não espere ver Jimi Hendrix tocando o hino dos States na tela grande. O foco aqui é na organização e no clima de Woodstock, não na música. E estão justamente aí os dois principais problemas.
Ok, não tem problema de não vermos os shows ou os artistas, mas convenhamos que um filme tematizado em Woodstock deveria, no mínimo, ter uma trilha sonora forte e onipresente. Mas não, a música aparece em pouquíssimas cenas e é sempre em segundo ou terceiro plano. De fato uma pena, especialmente para uma obra basicamente sobre música.
O outro problema está especialmente no final, quando os dramas pessoais do ladrão de oxigênio se tornam maiores do que todas as mudanças acontecendo na sua cidade por causa do evento.
Porém, são dois pequenos problemas em uma obra no geral excelente. Se você está no DELFOS, acredito que você goste de Rock e, mais do que isso, seja simplesmente um fã de música. Dessa forma, deve se interessar por tudo que rondou aquele que talvez seja o maior evento musical da nossa história.
Embora a organização e os preparativos sejam, sim, bem legais e interessantes, o melhor mesmo é quando o negócio está acontecendo. Aquilo deve ter sido romantizado, porque pelamordedeus, meu coração brasileiro do século XXI não consegue imaginar um lugar onde tenha tanta gente e mesmo assim seja tão pacífico. Eu já fui para São Tomé das Letras, famoso retiro hippie brasileiro, e nem lá as coisas eram assim (e tinha muito menos gente). Por mais que eu queira acreditar, acabo vendo aquelas cenas como algo tão fantasioso quanto O Senhor dos Anéis.
Isso, claro, não é ruim. Afinal, a magia do cinema é nos colocar em lugares onde nunca estaremos. Assistimos épicos para nos sentir heróis, não interessa quão irreais eles sejam. Dessa forma, ver um lugar de fato tão pacífico e harmonioso quanto o Woodstock desse filme acaba até dando algum traço de esperança de que não vamos nos auto-exterminar em poucos anos. E tudo fica ainda mais especial porque podemos tentar acreditar que essa harmonia toda realmente já aconteceu, ainda que por um período limitado e muito tempo atrás. Se conseguimos isso um dia, podemos conseguir de novo. Assista! E come with me! Future World!