“Em A Identidade Bourne ele tentou descobrir quem era. Em A Supremacia Bourne ele se vingou do que lhe fizeram. Agora, em O Ultimato Bourne, ele volta para casa e se lembra de tudo”. Essa recapitulação é trazida até você por cortesia do press-release do filme. Mas por que eu a coloquei aqui? Bom, além do fato de que eu realmente não tinha nenhuma idéia para começar essa resenha, essas poucas frases eram basicamente tudo que eu sabia sobre os filmes anteriores. Sim, delfonauta, eu confesso. Fui assistir à terceira parte da trilogia sem ter tido oportunidade de assistir às anteriores. Ossos do ofício. Mas devo dizer que realmente não fez falta.
O Ultimato Bourne carece de uma coisa muito importante: história. Basicamente, sabemos que Jason Bourne, interpretado pelo macaquinho Matt Damon (vai dizer que ele não parece um macaco-prego?), não lembra quem é. Ele está sendo caçado pelo governo e procurando por uma tal de “fonte”. E é isso. A partir daí temos tiroteios, cenas de luta, perseguições de carro, explosões e tudo mais que um bom filme de ação precisa ter.
Hell, yeah, deve ter sido a reação do delfonauta fã de um bom Testosterona Total. Infelizmente, não é bem por aí. As cenas de ação até são legais, mas são extremamente mal filmadas. Como exemplo, cito o mano a mano entre Bourne e um de seus perseguidores. A coreografia é animal, dá para ver que todo mundo se preparou muito bem para fazê-la. Só que cometeram o erro de colocar a câmera na bolsa de um canguru, que ficou pulando o tempo inteiro. Quê? Não era um canguru? Cacilda, então assistir à filmagem da cena deve ter sido algo bem engraçado, já que eu fico imaginando o cameraman abaixando, pulando, levantando a câmera, tudo ao mesmo tempo em que tenta controlar seu Mal de Parkinson. Poxa, deve ter sido algo digno de circo, tipo aqueles palhaços que ficam equilibrando pratos em pedaços de pau. E pior que o filme inteiro foi filmado por esse canguru. Até mesmo as poucas cenas onde prevalece a conversa.
Além disso, as cenas de ação duram muito, o que deixa o filme enjoativo. É tanta perseguição, batida de carro, tiros e imagem tremendo que chega até a dar dor de cabeça. E você fica torcendo para toda essa adrenalina passar fazendo com que aconteça algo que justifique a sua atenção.
Apesar de tudo, teve uma cena que achei bem legal. Uma das melhores cenas do Matrix, na minha opinião, é aquela em que o Morpheus guia o Neo através do telefone. O problema é que ela é muito curta. Pois O Ultimato Bourne nos presenteia com uma versão estendida da mesma cena, dessa vez com Bourne guiando um coadjuvante genérico. Apesar de ser praticamente uma chupação dos irmãos Wachowski (frases dúbias ruleiam!), ela ainda é muito boa.
Infelizmente, o diretor Paul Greengrass e os roteiristas Tony Gilroy e Scott Z. Burns realmente parecem entender de chupação (um viva para as frases dúbias!), pois O Ultimato Bourne tem a maior cara de pastiche do tremendão O Vingador do Futuro, protagonizado pelo também tremendão, Arnold Schwarzenegger. A história, além de ser parecida, toma as mesmas saídas para resolver o problema, mas tudo de forma bem piorada. O momento em que Jason encontra o cara responsável por sua amnésia, em especial, me fez lamentar não ter o filme do governator na minha filmoteca, pois realmente gostaria de assisti-lo hoje.
O Ultimato Bourne não é uma porcaria. É apenas um filme nada de ação (categoria rara). Nas mãos de um diretor competente e de um cameraman com capacidade de segurar uma câmera, poderia render um bom filme. Nas mãos de Paul Greengrass, rendeu isso. E provavelmente ele se considera um cara estiloso por impedir que o público veja o que está acontecendo na tela. Fico pensando na frustração do pobre coreógrafo que criou a cena de luta supracitada ao constatar que, no resultado final, é possível ver apenas borrões. Ele deve ter ficado com vontade de contar tudo para a mãe. 😉