Na onda das refilmagens de séries de TV para o cinema (semana passada tivemos Os Gatões), chega agora o mais novo exemplar, A Feiticeira. Porém, como aconteceu com Starsky & Hutch, que era uma série policial séria e na telona virou uma comédia, a transposição da história da bruxinha para a tela grande também não é um mero remake.
No filme, Jack Wyatt (Will Ferrell, de O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy) é um ator em decadência. Seu último filme foi um fiasco e sua vida pessoal está em frangalhos. Convencido por seu agente (Jason Schwartzman, o nerd de Três é Demais), aceita migrar para a TV, e fecha contrato para interpretar Darrin, o marido de Samantha, na refilmagem de A Feiticeira. Eu não sei quanto a você, amigo delfonauta, mas eu adoro uma metalinguagem!
Mas, voltando ao que interessa, Wyatt quer ser o astro absoluto do programa, e, portanto exige que Samantha seja interpretada por uma desconhecida. Ele tira a sorte grande quando encontra casualmente Isabel (Nicole Kidman) e fica fascinado com o modo como ela balança seu lindo narizinho. Só que Isabel é uma bruxa de verdade, que se mudou para Hollywood na esperança de levar uma vida normal (como se isso fosse possível nessa cidade), sem bruxarias, e encontrar um amor que a aceite como ela é. A pobre bruxinha se apaixona pelo ator, mas este só está interessado em reerguer sua carreira, usando Isabel como escada. Quando ela descobre as verdadeiras intenções de Jack, bem… Eu não vou contar o resto do filme. Ao invés disso vou apresentar a fórmula para se fazer uma comédia romântica no cinemão estadunidense e aí o resto fica fácil de adivinhar (e, se você quiser uma fórmula mais aprofundada, fique com Como Fazer um Filme de Amor. A resenha está AQUI, a entrevista com o diretor AQUI e com o elenco AQUI). Vamos lá:
1- Um casal de protagonistas que a princípio parecem não ter nada a ver um com o outro.
2- Uma série de situações de amor e ódio entre eles, das quais um relacionamento irá brotar.
3- Uma revelação ou algum outro fato que fará um deles surtar e o relacionamento azedar.
4- A pessoa que surta vai rever seus conceitos e descobrir, que apesar dos pesares, não conseguirá mais viver sem sua cara-metade.
5- Um gesto por parte deste indivíduo apaixonado para reparar seus erros e fazer sua alma gêmea perdoá-lo e reatarem, garantindo o final feliz.
Pois é, A Feiticeira se encaixa em todos estes quesitos, portanto, novidade não é o mote desta película. O que a põe um pouco (e é um pouco mesmo!) acima da média de outras produções do gênero é a idéia central do roteiro, um programa de TV dentro do filme e a atriz que interpreta Samantha ser realmente uma feiticeira (eu já disse que adoro metalinguagens?); as inusitadas aparições de Michael Caine (o Alfred de Batman Begins), como o pai de Isabel (também ele um bruxo); e Nicole Kidman, mais bonita do que nunca e com bom ritmo para a comédia.
E agora, os contras: Will Ferrell, que durante anos foi responsável pelos quadros mais engraçados do Saturday Night Live, decepciona. Seu personagem só é engraçado quando dá ataques de estrelismo no set do programa. Além disso, temos a participação totalmente sem noção de Steve Carell (O Virgem de 40 Anos) como o tio Arthur, personagem da série clássica que aparece como… hã… mágica, para fazer Jack Wyatt tomar jeito na vida e fazer alguma coisa. Em outras palavras, preguiça de fazer um roteiro decente. Aqui as situações são resolvidas como se fossem um feitiço de Isabel. Para se ter uma noção da preguiça de Delia e Nora Ephron (as roteiristas, sendo a última também a diretora), uma cena é um plágio descarado de uma seqüência de Todo Poderoso (aquele filme bacana onde Jim Carrey vira Deus). Em A Feiticeira, Isabel usa seus poderes de bruxa para sacanear Jack. Ela faz com que ele não consiga dizer uma fala adequadamente durante a gravação de uma cena do programa. Em Todo Poderoso, Jim Carrey usa seus poderes divinos para sacanear seu rival no telejornal onde ele trabalha. Ele faz com que o tal cara não consiga dar uma notícia adequadamente no jornal ao vivo. Mera coincidência? Acho que não!
Sim, eu lembro que escrevi que este filme está um pouco acima da média dos outros exemplares do gênero, o que não que dizer que o filme seja excelente, e sim que o gênero inteiro (as comédias românticas) é muito fraco. Culpa da maldita fórmula lá de cima, repetida à exaustão.
Este filme, apesar de se enquadrar na minha categoria de “legalzinho”, não é nenhuma prioridade a ser vista no cinema. Recomendado apenas a saudosistas da série clássica, fãs da Nicole Kidman, e casais interessados mais em dar uns malhos do que em assistir ao filme propriamente dito.