O título besta em português pode enganar, por isso já vou avisando, este filme não é uma comédia desmiolada, mas uma história sobre bandidos e suas mutretas, reviravoltas e traições.
Alguém aí pensou em Guy Ritchie e seus Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes? Pois saiba que pensou certo, pois Matthew Vaughn, o diretor do “Bolo de Camadas”, produziu os dois filmes acima e parece ter tomado gosto pela temática favorita do sr. Madonna.
Vaughn nos apresenta ao protagonista sem nome, creditado apenas como XXXX, um traficante de drogas de médio porte que recebe de seu chefe a missão de comprar uma carga de comprimidos de ecstasy de outro traficante, um pé-de-chinelo que tem fama de encrenqueiro, e repassá-la. Porém, o tal carregamento foi roubado da máfia sérvia e eles não estão nada contentes. Isso é só a linha básica e principal da história. Há também muitas subtramas e ações paralelas que se desenrolam não linearmente. E isso é o grande atrativo do filme, mas responsável também por seus defeitos. As criativas elipses de tempo e histórias paralelas que se encaixam aos poucos à trama principal prendem a atenção e tornam o filme bonito de se ver em termos de uso de técnicas visuais.
Agora os defeitos: nem todas as elipses funcionam e muitas das tramas paralelas acabam não tendo importância nenhuma para a história principal. Como resultado, o filme acaba sofrendo com excesso de personagens desnecessários, tornando-se confuso em algumas passagens. Sim, confesso que boiei em algumas partes do filme, mas ao final, deu para entender tudo.
Este foi o risco que Matthew Vaughn resolveu correr em seu longa de estréia na direção e, no fim das contas, o saldo foi positivo. Afinal, para um primeiro filme, ele é bem estiloso. Além disso, filmes de estréia sempre apresentam um ou outro defeito, por isso, os pontos fracos citados acima podem ser abonados numa boa, desde que não voltem a acontecer!
Como disse, Vaughn tem estilo, o que não quer dizer necessariamente que seja um estilo só dele. Pois além da temática “protagonistas que são criminosos gente boa têm que se livrar de uma enrascada”, ele, assim como Guy Ritchie, abusa de recursos técnicos interessantes para incrementar a narrativa. Porém, enquanto os filmes de Ritchie têm uma estética mais videoclíptica, com cortes e montagem acelerados, a obra de Vaughn é mais lenta, sem pressa, o que não quer dizer que o filme seja arrastado.
Como se trata de uma pequena produção inglesa, não há rostos conhecidos no elenco, mas os atores estão bem e, além disso, falam com aquele irresistível sotaque britânico que eu adoro.
Ah, a cena final, na verdade uma típica piada de humor negro inglês, pode deixar muita gente com raiva do filme, outros podem achar apropriado. A minha opinião é segredo profissional. Nem Tudo É o que Parece vai passar despercebido nos cinemas, mas é perfeito para se assistir em DVD no fim de semana.
Para encerrar, uma curiosidade quanto ao sr. Matthew Vaughn. Até pouco tempo atrás, ele estava escalado para dirigir X-Men III (e falando em quadrinhos, leia sobre Homem-Aranha 2, Batman Begins e Elektra), mas cedeu a cadeira para Brett Ratner, de Dragão Vermelho. Pelo que pude constatar por este Nem Tudo é o que Parece, o terceiro exemplar das aventuras de Wolverine, Noturno (opa, esse parece que não vai voltar) e seus amigos nas mãos de Vaughn, tinha potencial. Nas mãos do operário-padrão Ratner, só posso sentir medo, muito medo. Mas isso é assunto para quando o filme sair. Se é que o patrão vai me escalar para cobrir o novo exemplar de uma série da qual ele gosta tanto.