A vida em uma grande metrópole não é nada fácil. Apesar de estarmos sempre rodeados por milhões de pessoas, a correria do dia a dia nos faz esquecer dos contatos sociais e, muitas vezes, acabamos isolados em uma rotina que pode levar 10, 20, 30 anos e quando percebemos, pode ser tarde demais para mudar o destino. Aliás, você acredita em destino?
Max (Jamie Foxx) é um motorista de Táxi esforçado e dedicado em Los Angeles. Já trabalha há 10 anos no ramo e, apesar de ser um excelente profissional, sua vida pessoal não anda lá essas coisas. Ele tem um sonho: montar sua própria empresa de aluguel de limusines. Para isso, batalha duro, juntando uma grana, fazendo contatos e tudo mais que for necessário. No entanto, 10 anos se passaram e até agora ele não conseguiu almejar seus objetivos.
Vincent (Tom Cruise) é um assassino profissional a serviço de perigosos mafiosos há pelo menos 6 anos. Frio e calculista, ele não teria a menor pena de matar o seu melhor amigo se fosse preciso. O pior de tudo é que ele não encara sua atividade como algo fora da lei, é apenas mais um trabalho e ele precisa disso para viver.
O que aconteceria se esses dois personagens tão opostos se cruzassem nas confusas linhas da vida? É exatamente esta a premissa que acontece em Colateral, o encontro entre o honesto e o inescrupuloso, o bom e o mal, o certo e o errado e mais uma série de outros clichês.
Tudo começa quando o taxista pega Vincent para uma corrida. Os dois iniciam um rápido bate-papo, de certa forma se entendem (especialmente porque Vincent admira a competência de Max ao volante) e fecham uma parceria durante a madrugada por algumas centenas de dólares aonde Max irá se transformar em um motorista particular para que Vincent realize algumas visitas a velhos amigos (o taxista não sabe que, na verdade, está levando um assassino para cometer seus crimes). Toda essa primeira impressão amistosa muda quando Max presencia, sem querer, uma das “missões” de Vincent e se torna um refém deste até que ele termine todos os seus serviços na noite da metrópole.
A partir daí, o filme deslancha para um bom suspense, pois nunca sabemos qual será a reação de Vincent às diversas situações. Em determinados momentos somos levados a acreditar que ele pode tanto dar um tiro na cabeça de Max quanto rir de alguma trapalhada do taxista. Esse sentimento constante de preocupação que criamos com o personagem de Foxx, ao mesmo tempo em que desenvolvemos um asco cada vez maior pela personalidade confusa e inescrupulosa de Vincent conforme ele vai cometendo seus crimes, gera uma tensão que só é resolvida nos 20 minutos finais de projeção. E não, não adianta insistir! Se quer saber o final, vá ao cinema.
A grande verdade é que o diretor Michael Mann (de Ali e a série Miami Vice) nunca nos deixa criar uma empatia pelo personagem de Tom Cruise. Sempre que começamos a conhecer melhor o seu lado humano (mesmo um criminoso da pior espécie tem que ter um), acontece alguma coisa que imediatamente trazem à tona o medo e a raiva novamente, como na cena do bar de Jazz, por exemplo.
Mas e Tom Cruise como vilão? Pois é, após tantos papéis como mocinho (O Último Samurai, Missão Impossível, Minority Report, Top Gun e por aí vai), o ator se rendeu e encarnou alguém realmente malvado (Nota do Carlos: não podemos esquecer também que ele fez o vampiro Lestat em Entrevista com o Vampiro, esse sim, o primeiro vilão de sua carreira). O resultado é muito bom: Cruise consegue dar veracidade ao personagem e seus atos e, de certa forma, a mudança na aparência física do ator (agora ele está com os cabelos grisalhos e uma barba rala) também ajudam na caracterização de um Vincent imprevisível e assustador.
O filme é bom e prende você na cadeira do cinema até o final. Uma pena que sua conclusão é cheia dos famosos clichês e descambe para um sketch de ação que, honestamente, não era necessário. De qualquer forma, vale a diversão e a reflexão do individualismo que predomina nas grandes cidades. Ou vai me dizer que você nunca se sentiu solitário, mesmo estando em meio a milhões de pessoas?