Queen – The Freddie Mercury Tribute Concert

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Há alguns anos, uns amigos me chamaram para ir de bicão em uma festa (eu seria o bicão, eles foram convidados). Acabei indo, mas como sou muito tímido (vai dizer que você nunca percebeu), fiquei me sentindo super deslocado na festa. E pior, os caras me falaram que seria uma tremenda balada, mas chegando lá, era uma festinha familiar de aniversário de uma garota que estudava com eles.

Fiquei eu lá, com total cara de tacho (apesar de a família ter nos tratado muito bem) até que percebi o porta-CDs que estava na sala, lotado de coisas legais, entre elas, a coleção completa do Queen. Para minha surpresa (só eu para me surpreender com isso), os CDs eram da mãe dela, com quem acabei conversando sobre música a festa inteira. Durante a conversa, ela disse que queria me mostrar uma coisa e colocou o Laser Disc deste mesmo show (muito antes da popularização dos DVDs).

Fiquei embasbacado com a qualidade do som. Já sabia que Queen era uma banda com um padrão de qualidade elevadíssimo, mas o próprio show me surpreendeu. Desde os shows das bandas de abertura que, pelo que me lembro, incluíam Extreme e Def Leppard, até a apoteose quando os membros da banda homenageada se juntam a alguns vocalistas e guitarristas convidados para jams magníficas.

Aquele dia me marcou bastante e, desde então, fiquei com vontade de ter este show. Nunca tive um aparelho de LD, então minha alegria foi imensa quando fiquei sabendo do lançamento em DVD. Alegria esta apenas comparável com o tamanho da decepção que sentiria ao descobrir, pouco depois, que a versão em DVD, apesar de dupla, excluiria os shows de abertura e se concentraria na segunda parte do show: as jams com convidados. O segundo disco, ao invés de se concentrar na música, se concentraria em um documentário do tipo making of. Tamanha foi a decepção que simplesmente decidi não comprar o DVD. Finalmente, consegui pegar uma cópia emprestada com um amigo e constatei sem dó: fiz bem em não comprá-lo.

O show começa bem, com a ótima Tie Your Mother Down, com vocais do guitarrista Brian May. No meio da música, o trio remanescente do Queen recebe a companhia do vocalista Joe Elliot (Def Leppard) e de Slash (ex-guitarrista do Guns N’ Roses). A qualidade da imagem é embasbacante, muito melhor do que dos outros vídeos antigos reeditados em DVD que tenho conhecimento e comparável às maiores produções atuais do formato. O som, por outro lado, deixa a desejar. Existem duas opções: DTS, inaudível para quem não tem home-theater e Stereo para todos os outros. Eu não tenho home-theater, então posso julgar apenas o Stereo, e é péssimo. Chega a ser sinceramente difícil ouvirmos os vocais da música. Mal mixado é elogio! Talvez devessem ter acrescentado um Dolby Digital intermediário para que nós, pobretões, tivéssemos acesso a uma qualidade superior de som, afinal, é um DVD de música (ou deveria ser).

Ao final da música, Brian May chama Tony Iommi (Black Sabbath) e juntos tocam a introdução da ótima Heaven And Hell, clássico do Black Sabbath da época que eles tinham um vocalista de verdade na banda, chamado Ronnie James Dio (Ok, fãs de Ozzy, podem me xingar, mas não venham me dizer que o cara canta bem!). Com Roger Daltrey assumindo os vocais, mandam ver em uma das minha preferidas, I Want It All.

Outro destaque é o vocalista Gary Cherone (Extreme na época do show, posteriormente entrou no Van Halen, do qual também já saiu e atualmente se encontra no Tribe Of Judah), que comparece na Hard Rock Hammer To Fall. Não curto muito o disco que ele gravou com o Van Halen (Van Halen III, de 1998) e confesso que pouco conheço do Extreme, além da onipresente More Than Words, mas o cara mandou muito bem. Sua presença de palco nesta música justificou, ao menos para mim, o porquê de ele ter sido escolhido para ser o terceiro vocalista do Van Halen.

Esse é o começo do show. Na primeira vez em que assisti, achei chato por causa da qualidade baixa do som. Agora que já assisti ao show inteiro digo sem medo: é a melhor parte do show. São as músicas mais legais e com as melhores performances pois, depois disso, o show desanda em baladas e performances vergonhosas para uma banda com a altíssima qualidade do Queen.

Exemplo: o que você acharia do Robert Plant (Led Zeppelin, se é que alguém por aí não sabe) cantando Crazy Little Thing Called Love? Parece promissor, certo? Afinal, ele é um bom vocalista e a música é legal. Ledo engano. A voz do nosso amigo Roberto Planta falha na música inteira e é uma performance que deveria ser usada para explicar porque discos ao vivo costumam ter overdubs.

Pouco depois, a banda toca Radio Ga-Ga, música que tem uma das melodias mais cativantes das quais tenho conhecimento, e conta com a participação de um tal de Paul Young, que confesso, não sei quem é. Quando vi o nome dele na caixa, o confundi com Paul Simon, mas antes fosse. Esse cara deve ter uma das vozes mais fracas que conheço e conseguiu assassinar uma composição maravilhosa. Sinceramente, eu faria melhor. E eu canto mal!

A coisa melhora um pouquinho quando o cantor pop Seal entra no palco para a sua rendição de Who Wants To Live Forever, que fica muito bonita, graças à bela voz do rapaz.

Chegamos, então, a outra das músicas que eu mais gosto: Under Pressure, cantada neste show por Annie Lennox e David Bowie. Até comentei com a minha namorada: “O David Bowie participou da gravação original dessa música, ele tem a obrigação de fazer bonito”. Não fez. Errou (ou modificou, dá na mesma) quase todas as melodias da música. Chance para a Annie Lennox aproveitar. Não aproveitou. Ou melhor, aproveitou demais. Forçou demasiadamente a voz e sua performance foi afetada demais. Sua presença de palco, por outro lado, é ótima. Sua maquiagem é realmente exagerada e desnecessária, mas sua movimentação é exemplar e agradável de ser assistida. Principalmente se comparada com a de Bowie, que fica paradão a música inteira, se limitando a estalar os dedos em alguns momentos. Poderia dizer que ele ficou parado para se concentrar na voz, mas como sua apresentação foi sofrível, creio que o motivo foi falta de presença de palco mesmo. O curioso é que, mesmo com os dois se esforçando para estragar a versão, essa música é simplesmente tão bonita e cativante que, ainda assim, é um dos pontos altos do show. Ponto positivo para o Queen, que imortalizou mais melodias inesquecíveis nessa composição.

Mais algumas músicas com Bowie e entra no palco George Michael com a Country ’39. E surpresa, não esperava nada do cara, mas ele mandou muito bem (principalmente levando em conta as fraquíssimas performances que o antecederam). Nunca me imaginei dizendo isso, mas George Michael canta melhor que o Robert Plant (ao menos nesse show). Minha mãe me mataria se me visse dizendo isso, mas contra fatos não há argumentos e quem assistir a este show há de concordar.

George Michael continua no palco e canta a fantástica Somebody To Love, com a ajuda de um coral. Essa música merece o título de melhor do DVD. Ela nem está entre minhas músicas preferidas do Queen (embora seja uma ótima canção), mas a performance de Michael bota no chinelo as minhas preferidas I Want It All, Radio Ga-Ga e Under Pressure.

Bohemian Rhapsody é a próxima e conta com uma apresentação sem riscos de Elton John, que deixa para a platéia cantar as partes mais difíceis. Bom, já diziam os sábios: “Conheça suas limitações”. Elton John as conhece e isso fez com que ele não desse vexame em um dos maiores clássicos da história. A parte do coral, por outro lado, sempre foi um vexame histórico, pois o Queen sempre usou playback para realizá-la. Isso é uma vergonha para uma banda de seu calibre. E o pior é que eles já tinham contratado um coral para Somebody To Love, por que não aproveitá-lo para Bohemian Rhapsody? Eu mesmo já ouvi uma versão ao vivo para essa música tocada pela banda de Metal Savatage, onde os membros cantaram impecavelmente o coral, provando que é possível executá-la ao vivo como ela merece. Essa versão não está em nenhum álbum oficial, então se você quiser ouvir uma Bohemian Rhapsody realmente ao vivo, procure pela versão do Savatage em algum programa de P2P. Garanto que vale a pena. Voltando ao DVD, a parte pesada, que vem depois do coral é cantada pelo péssimo Axl Rose, que parece mais preocupado em ficar rodando do que em cantar.

Elton John continua no palco e, junto com Tony Iommi, mandam ver em The Show Must Go On. A seguir, vem uma das ótimas composições mais mal realizadas da história: We Will Rock You, com a volta de Axl para imitar uma arara onde antes tínhamos o fantástico Freddie Mercury.

O show termina com a óbvia We Are The Champions, com vocais de Liza Minelli, uma das preferidas de Freddie, segundo o discurso de Brian antes da música. Liza manda muito bem, com uma voz bela e potente e seguindo a risca as melodias que imortalizaram a música (aprenda com ela, David Bowie!). Durante a canção, todos os músicos que participaram sobem ao palco para agradecer e lá pude perceber a presença de Klaus Meine, vocalista do Scorpions, que não aparece durante o DVD, o que significa que o Scorpions deve ter tocado em um dos shows de abertura excluídos nesta versão em DVD. Sinceramente uma pena, pois seus membros poderiam ter feito uma boa diferença no fraco conteúdo deste disquinho.

Também sou obrigado a falar que este show seria muito melhor se o Queen tivesse escolhido membros de bandas realmente influenciadas por eles para o show. Músicos que se sentiriam tão honrados com o convite, que dariam o melhor de si para a platéia. De sopetão, fico imaginando como teria sido legal uma participação do Blind Guardian ou do Savatage no show, pois são duas bandas que levam suas influências de Queen até as últimas conseqüências. Ou alguém aí acha que o Robert Plant se sentiu honrado em tocar com o Queen? Afinal, o Led Zeppelin é tão mais popular que não é de se estranhar que este nem tenha se esforçado em realizar uma boa performance, pois nada acrescentaria à sua carreira.

Claro que desde a morte de Freddie Mercury, o Queen sempre preferiu se unir a músicos de qualidade duvidosa que trouxessem mais dinheiro para a banda. Ou alguém se esqueceu que o Brian May gravou We Will Rock You com o Five. Pior, recentemente a música foi regravada pelo trio Britney Spears, Beyoncé e Pink. E para um comercial, ainda.

Na verdade, se o Queen não fosse uma banda com uma qualidade tão absurdamente alta e não tivesse um respeito tão profundo deste que vos escreve, isso seria imperdoável. Como é o Queen, no entanto, a gente acaba deixando passar. Mas o pobre Freddie deve estar se revirando no túmulo.

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