Chega um momento na vida de todo homem, especialmente se este homem trabalha com reviews de games, em que ele deve responder à pergunta: jogo X é bom? Alguns casos são fáceis. Um bom jogo é recomendável. Um ruim não. Lollipop Chainsaw RePop me fez repensar isso.
Lollipop Chainsaw é um bom jogo? Definitivamente não. Mas ele é divertido? Pra caramba. É muito raro eu me divertir tanto com um controle nas mãos em 2024. Então ele merece uma recomendação ou não? Bem-vindo ao meu review Lollipop Chainsaw RePop.
REVIEW LOLLIPOP CHAINSAW REPOP
Na verdade meu apreço por Lollipop Chainsaw vem da saudade de uma época que não volta mais. E isso vai muito além da temática “moça bonita matando zumbis“. O que mais me pegou nos feels é como jogos de ação eram diferentes e criativos duas gerações atrás. Entre Bayonetta, Devil May Cry, Ninja Gaiden e God of War, todos do mesmo gênero e absurdamente diferentes. Hoje em dia, jogo de ação é tudo soulslike, e até a Team Ninja só faz isso hoje. Por mais que o gênero seja legal, eles se tornaram todos intercambiáveis, o que não era o caso no passado. E é deste passado que sai Lollipop Chainsaw.
Neste aspecto, eu diria que ele chama mais atenção em 2024 do que quando do seu lançamento original, em 2012. Isso porque em 2012 ele era mais um de um gênero bem servido. Enquanto hoje em dia é talvez o único jogo nessa linha que você vai jogar em 2024 (certamente é o primeiro desde Hi-Fi Rush).
POLÍTICA À PARTE
Então sim, politicamente ele também faz parte de um passado que não volta mais. Um passado em que mulheres usavam roupas reveladoras em videogames e peitos balançavam. Nunca mais um peito vai balançar em um videogame, pelo menos não um feminino. Convenhamos, hoje em dia a Sony provavelmente não relança os jogos clássicos de God of War por causa da quantidade de mamilos não-Kratos que aparecem nele. Até piadas como as fotos “eróticas” de Dead Rising foram tiradas do Dead Rising Deluxe Remaster.
Sinceramente, não faço questão dessas coisas nos meus videogames. Mas ao contrário de outras pessoas com ideologias políticas semelhantes à minha, sua existência não me incomoda. O que acho curioso e engraçado é que mamilos não podem aparecer em uma mídia que constantemente mostra tripas ou mandíbulas arrancadas. Lembro-me daquela frase do South Park: violência explícita não tem problema, desde que as pessoas não falem palavrão.
HUMOR CHULO
Feito todo esse adendo, é fato que muita coisa que está aqui não seria colocado em um jogo feito em 2024. E não me refiro à física de balanço “peitoral”. Piadas, humor, planos. É tudo intencionalmente meio grosseiro, resquício de um estilo gamer que não é mais bem-vindo hoje.
Porém, nada em Lollipop Chainsaw se leva à sério. Este é um jogo ridículo, em que coisas ridículas acontecem o tempo todo. É tudo tão absurdo que fica sinceramente engraçado, desde que você esteja no lugar mental apropriado para ele. E entendo perfeitamente se não estiver. Uma mentalidade bem específica é exigida para uma sala de aula com professor e alunos zumbis arrancar risos. O próprio diretor James Gunn, que esteve envolvido na criação de Lollipop Chainsaw, já foi cancelado e perdeu o emprego (temporariamente) na Marvel por piadas que fez nesta época.
Daí sobra a jogabilidade, que sinceramente não é das melhores. Mas é um jogo leve, cheio de cores vivas, com violência escrachada, músicas divertidas e fases lineares. Você pode não achar o melhor jogo da sua vida (não é), mas é difícil não se divertir com uma obra que exige tão pouco de você além do seu sorriso.
A ÉPOCA DO AA
Hoje em dia os jogos são de baixo ou de alto orçamento, sem muita coisa no meio do caminho. E Lollipop Chainsaw está no meio do caminho. Os games AA eram títulos que careciam de polimento e de técnica, mas compensavam isso com diversão e criatividade. Neste aspecto, Lollipop Chainsaw me lembra Wet, embora o gênero seja completamente diferente.
Tudo aqui é um pouco cru demais. Os controles, o movimento da câmera, o combate. Nada é tão preciso quanto, por exemplo, em God of War Ragnarok. Arrisco dizer que essa crueza faz parte da graça. O que deixa um tanto questionável é que estamos falando de um remaster de um jogo de PS3. Daí fica difícil justificar algumas coisas.
LOLLIPOP CHAINSAW REPOP
Tem algo muito errado neste remaster. A performance é simplesmente péssima. Veja, estamos falando de um jogo suficientemente velho para que rodar nas máquinas de hoje a 120 fps seja possível. Mas tenho a sensação que ele mal alcança um 30 fps instável. Sei que hoje em dia sou mais exigente em performance, mas acho difícil que a versão original, feita para máquinas bem menos poderosas, rodasse tão mal.
O visual é claramente datado, e não parece ter sido modernizado além de uma resolução mais alta. O jogo ainda é bonito, no entanto, especialmente pelo uso que faz de cores e caricaturas. É aquela história: gráficos realistas envelhecem bem mais rápido do que cartunescos.
ENTRE OPÇÕES, PIRULITOS E MOTOSSERRAS
É muito estranho jogar um game hoje com tantas opções que você não sabe o que alteram. O menu de opções é totalmente obtuso. O menu do jogo constantemente mostra que existe algo novo para eu ver que simplesmente não consigo encontrar. Tem até dois modos de jogo, original e RePop. Pelo que pude perceber, o RePop coloca mais arco-íris, glitters e coraçõezinhos no lugar de sangues e tripas. Eu prefiro assim, mas você pode alternar a qualquer momento.
Lollipop Chainsaw RePop é um jogo que grita PS3 a todo momento. No gênero, na performance técnica, nas piadas. De um lado, isso o torna o pior remaster já feito, por não ter sido nem um pouco modernizado. De outro, a saudade da época é grande, e ele ter se mantido mais ou menos igual (algumas músicas licenciadas foram tiradas da trilha sonora), estranhamente o torna… o melhor?
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