Delfonautas dedicados, daqueles que acompanham todo nosso conteúdo, talvez se lembrem desta história. Em um dos nossos podcasts Oráculo de DELFOS, eu comentei com o Daniel que sentia falta de Rise of the Triad, um FPS classicão dos anos 90. Lembro de ter falado que o jogo ficou perdido nos anos 90 e nunca mais saiu. Mas eu estava errado. Esta é nossa análise Rise of the Triad Ludicrous Edition.
[[ATUALIZADA:]] o texto abaixo foi publicado em 2 de agosto de 2023 e atualizado em 25 de setembro de 2023 para falar sobre a versão de consoles também.
Durante muito tempo, eu joguei apenas nos consoles, ignorando quase totalmente o cenário de PC Games. A verdade é que Rise of the Triad estava disponível no Steam, e tem até um remake/reboot feito em 2013. Para mim, no entanto, como nunca saiu para consoles, estava esquecido. Pois é com muita alegria e empolgação que faço hoje esta análise Rise of the Triad Ludicrous Edition, uma nova edição do clássico. Embora num primeiro momento a Ludicrous Edition estivesse disponível apenas para PC, agora você pode jogar também no PS4, Switch e Xbox One. Parece que não existem versões next-gen, mas as da geração passada podem ser jogadas em consoles atuais. Eu curti minha versão de PS4 no PS5, por exemplo.
ANÁLISE RISE OF THE TRIAD: O QUE VEM NA LUDICROUS EDITION
A Ludicrous Edition tem literalmente um montão de conteúdo. Vamos lá.
Algumas das cinco opções acima são campanhas previamente lançadas. The Hunt Begins era o Rise of the Triad gratuito (na época chamado de shareware). Tem umas três horas de jogo, divididas em várias fases. Apesar de gratuito, é uma campanha bem longa.
Dark War é o Rise of the Triad comercial. O jogo padrão, como era vendido. Curiosamente, eu me lembro de vários momentos de Dark War, mas não reconheci nada de The Hunt Begins. Isso me faz pensar que a versão shareware de ROTT era totalmente separada do jogo comercial, ao contrário de Doom, que incluía o episódio shareware na versão completa.
CONTEÚDO ADICIONAL
Extreme ROTT é um pacote de expansão lançado nos anos 90 que inclui uma campanha completa, mas com fases extremamente difíceis e intencionalmente injustas. O próprio jogo te avisa disso quando você escolhe jogar. As missões de Extreme ROTT são como aquelas fases sadomasoquistas de Super Mario Maker, que poucas pessoas vão conseguir vencer ou mesmo se divertir com elas.
Por fim, The Hunt Continues é uma nova campanha completa, feita agora, exclusiva para esta Ludicrous Edition. Além disso, o jogo inclui um criador de mapas, permitindo que você faça suas próprias campanhas, ou jogue mapas e campanhas feitas por outros usuários. É MUITO conteúdo. Mas pensa que é só? É não!
A versão de PC, pelo menos, vem com um jogo extra, executável separadamente. Chamada Return of the Triad, é um jogo feito por fãs lançado em 2011, que serve como tributo e sequência a Rise of the Triad. Infelizmente, este jogo bônus não está na versão de PS4. No PC, ele roda de forma bem crua, sem os ajustes e modernizações feitos no executável principal. Então parece bem um brinde mesmo. Mas falemos dessas modernizações.
ANÁLISE RISE OF THE TRIAD: UM PORT MODERNIZADO
Eu esperava que esta Ludicrous Edition fosse um remake, ou pelo menos um remaster. Mas não é o caso. O que temos aqui é algo parecido com Powerslave Exhumed. É o mesmo jogo do passado, com leves modernizações e melhorias de qualidade de vida. Dentre elas, temos altas resoluções (4K é perfeitamente viável, pelo menos no PC), suporte a controles modernos e alguns ajustes de iluminação e texturas, além de outros em drop rate ou dano.
Estes ajustes visuais e de gameplay podem ser desligados no menu para você jogar exatamente como o jogo era no passado. Particularmente, a única coisa que eu mexi de vez em quando era simplificar a iluminação, porque algumas fases estão muito escuras. Mexer nisso faz parecer que acenderam as luzes.
Então Rise of the Triad Ludicrous Edition não é um jogo novo, mas uma coletânea de tudo de oficial que saiu por este nome. Só ficou faltando mesmo o remake de 2013 que, pelo menos no PC, você pode comprar separado. É uma pena que este continue sem estar disponível para consoles.
ANÁLISE RISE OF THE TRIAD: SOBRE O JOGO EM SI
Finalmente chegamos à parte opinativa do texto. A hora de falarmos sobre Rise of the Triad em si. E, bem, o jogo é bem mais primário do que eu me lembrava. Na minha memória, Rise of the Triad era absurdamente realista. Não é o caso, pelo menos não olhando com olhos de 2023.
Na época, Rise of the Triad tinha um visual semelhante ao de Pit Fighter do Mega Drive. Ou seja, parecia digitalizado. Hoje vejo que existe um longo espaço entre estes gráficos e os de Mortal Kombat ou o próprio Pit Fighter do fliper, por exemplo. Por outro lado, lembro bem que ele era muito impressionante nos anos 90. Os inimigos se ajoelhando e implorando por piedade, por exemplo, era extremamente marcante.
Jogando hoje, é bem claro que Rise of the Triad não é Doom ou Quake. Ele ainda é divertido, mas o combate é bem menos crocante e mais repetitivo do que o desses jogos. Na verdade, ele lembra bastante Wolfenstein 3D que, pelo menos para mim, é um game muito chato hoje em dia. Até me surpreendi ao constatar que Rise of the Triad começou a ser desenvolvido exatamente como uma sequência para o bom e velho Wolf3D.
LEVEL DESIGN
Estes primeiros FPSs tinham outro pilar de gameplay além do combate crocante: a exploração. Suas fases labirínticas estavam presentes em todos os Doom clones, e a exploração em si era deliciosa. Até que você sentia que viu a fase toda e não sabia mais para onde ir. Isso empacava os jovens dos anos 90 permanentemente e, mesmo hoje, com walkthroughs em vídeo, é bem difícil desempacar, pois as fases são todas iguais e é quase impossível saber qual botão ou parede secreta o cara apertou para progredir e você não.
Games como Doom e Quake costumavam ter um cuidado com level design que não existe aqui. Coisas como, depois de pegar uma chave, aparecer uma passagem secreta que te leva para a porta onde ela deve ser usada. Aqui a coisa parece mais aleatória. É comum você ter dois caminhos, seguir por um por mais de dez minutos e encontrar uma porta trancada. Daí voltar todo o caminho, seguir por um minuto no outro e encontrar a maledeta chave. Ou pior, encontrar chaves e não saber onde usá-las e ficar andando de um lado para o outro, com todos os inimigos mortos e sem nenhum sinal de para onde ir.
O mapa é até bem elaborado, certamente bem melhor que o de Doom. Mas poderiam ter colocado nesta nova versão opção de destacar áreas não exploradas, ou botões secretos não interagidos. ROTT vai ficando cada vez mais complexo, a ponto de que as últimas três fases do terceiro episódio de Dark War (são um total de quatro episódios) realmente encheram o saco.
A FADIGA DOOM 2
Curiosamente, o jogo fica os três primeiros episódios de Dark War te colocando contra os mesmos inimigos e usando as mesmas armas, e daí no último episódio muda tudo, com armas mágicas e monges. A dificuldade também dá um tremendo salto bem no início do quarto episódio. Como eu já estava cansado dos labirintos extremos do final do terceiro, acabei desistindo por aí.
Antes disso, porém, estava sentindo o que costumo chamar de “Fadiga Doom 2“. O primeiro Doom e Quake tinham um progresso episódico, que marcava um capítulo da campanha. No Doom, tinha até um mapinha que mostrava por quantas fases você passou e quantas faltavam para terminar aquele pedaço. Isso faz muito para deixar o jogo mais divertido e menos cansativo.
Em Doom 2, e no Dark War de Rise of the Triad, você tem dezenas de fases, uma depois da outra. A não ser que você procure online quantas são, acaba se perdendo em meio a um monte de cenários iguais, e sentindo que não está chegando a lugar algum. Isso mata esses jogos para mim. Como a história é praticamente inexistente, passar por cada fase é como passar pelas faixas de uma coletânea que não termina nunca.
ROTT.EXE
Assim, a única coisa que ROTT faz e Doom não é a verticalidade, inclusive com plataformas e trampolins que parecem saídos de um game do Sonic. Mas o combate é muito menos gostoso e mais repetitivo, ainda que seja, sim, legal. Mas provavelmente em 2023, você tem outras opções melhores de FPS estilo antigo, tanto mais clássicos, como Doom, ou mais modernos, como Boltgun.
Eu gostei muito – MUITO MESMO – de ter acesso a uma nova versão de Rise of the Triad. Tenho vontade de jogar este jogo novamente desde meados dos anos 90, então colocar minhas mãos nele agora é como reviver um gostinho de infância que não sentia há 30 anos. E sou muito a favor de os jogos – e toda manifestação cultural, na verdade – estarem disponíveis legalmente a qualquer momento.
Então sim, eu teria comprado Rise of the Triad Ludicrous Edition de qualquer jeito, e não teria me arrependido da compra, mesmo tendo desistido da campanha no meio do caminho antes de escrever esta resenha (provavelmente voltarei a ela, no entanto). Daí a recomendar o jogo para alguém que não o conhece, e só está a fim de um boomer shooter, é um pouco mais complicado. Seja como for, a disponibilidade de Rise of the Triad, especialmente neste pacote completo da Ludicrous Edition, é excelente.