12 Anos de Escravidão

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No meu entender, há os filmes que são indicados a prêmios – sendo o Oscar ainda o mais famoso e um dos mais prestigiados – porque eles são de fato bons, desta feita merecendo um reconhecimento de seus pares na indústria. Assim, o prêmio é uma consequência, e não o objetivo.

E há aqueles que invertem esses valores, sendo feitos especificamente com o intuito de angariar estatuetas. Seu público primário não é você ou eu, meros apreciadores do bom cinema, mas os membros votantes das associações que concedem as tais honrarias. Se o “público civil” também se interessar por assisti-los, não passa de um simples bônus, e não de uma prioridade.

Em outras palavras, são o que convencionamos chamar aqui no DELFOS de Oscarizáveis. Pois bem, estou fazendo essa pequena explanação apenas para dizer que há algum tempo não via um caso tão claro de filme com tanta cara de que foi produzido apenas para arrebanhar uns carecas dourados quanto este 12 Anos de Escravidão. E como não sou um membro votante da Academia, a experiência de assisti-lo não foi nada prazerosa.

Ao contar a história de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro liberto que é sequestrado e novamente vendido como escravo, passando anos mais uma vez nessa condição (você é capaz de adivinhar quantos? Uma dica: está no nome do filme), a película segue todo o esquema que tanto agrada aos velhinhos votantes do Oscar.

Senão vejamos: dramalhão lacrimoso cheio de injustiças milimetricamente planejadas para mexer hora com a revolta, hora com a simpatia de quem assiste de maneira totalmente artificial e nada orgânica? Confere. O protagonista que sofre feito um condenado o filme inteiro, mas nunca perde as esperanças ou seus ideais? Confere. O senhorio bonzinho (Khaaaaaan!) e o senhorio mauzinho (Magneto)? Confere. Duração esticada além da conta, podendo ter facilmente uma meia hora a menos? Confere. Trilha sonora perfeita para ressaltar os sentimentos enlatados e reforçar o que já vemos em cada cena? Confere. Excelência em todos os aspectos técnicos, como fotografia, cenários e figurinos? Confere.

Só não teve alguém fazendo um retardado (mas sem ser full retard, pois todos sabemos que este é o limite para o Oscar) porque a temática do filme é sobre a escravidão. Ou porque o roteirista não conseguiu encaixar esse elemento na história de forma que fizesse algum sentido, vai saber…

Não me entenda errado. Não estou fazendo pouco caso de um tema muito sério, que jamais deve ser esquecido. Estou fazendo pouco caso da forma como esse tema foi transformado num produto barato apenas para poder se orgulhar de conter a frase “vencedor de x Oscar” na capa do DVD e Blu-Ray quando for lançado em vídeo.

Potencial para transformar esse material num bom produto existia. Mas simplesmente não era a prioridade de seus realizadores. Do jeito que fizeram, ficou parecendo aquelas novelas de época da Globo. Os dois únicos pontos que diferem disso são o orçamento maior e o pessoal falando inglês. De resto, dá na mesma.

12 Anos de Escravidão é um dos exemplos mais claros de filme feito para agradar uma parcela minúscula com gostos bastante específicos. Uma parcela que sequer precisa pagar para ver o filme. Se você quer saber o que é um Oscarizável, este é um dos melhores representantes da classe. Se você já sabe do que se trata e não curte essas produções, não há nada para você aqui.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
12-anos-de-escravidaoPaís: EUA/Reino Unido<br> Ano: 2013<br> Gênero: Drama/Oscarizável<br> Duração: 134 minutos<br> Roteiro: John Ridley<br> Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Paul Giamatti, Lupita Nyong’o, Sarah Paulson, Brad Pitt e Alfre Woodard.<br> Diretor: Steve McQueen<br> Distribuidor: Disney<br>