Se você acessa o DELFOS freqüentemente, deve saber que toda a equipe tem um carinho especial por aqueles seres mortos-vivos com um apetite todo peculiar por carne humana, carinhosamente chamados de zumbis. E deve saber também que gostamos da Marvel Comics, ainda que eu, particularmente, ache a DC mais legal.
Logo, é até de se admirar que esses dois elementos não tenham sido combinados antes. Afinal, a premissa de Zumbis Marvel é, de fato, sensacional, unindo o útil ao agradável. Com a publicação da minissérie encerrada aqui no Brasil, é hora de saber se essa junção de zumbis com os super-heróis da Casa das Idéias foi bem sucedida. Mas antes, é preciso uma pequena recapitulação.
Na verdade, a minissérie é a continuação de um arco do Quarteto Fantástico Ultimate, publicado por aqui em Marvel Millennium Homem-Aranha 56 a 58. Na história, escrita por Mark Millar, o Reed Richards Ultimate faz contato com uma versão sua que aparentemente é o Richards do universo Marvel normal (chamado de Terra 616). Para encontrar sua outra versão, ele atravessa um portal interdimensional e percebe que foi enganado. Na verdade, o Reed Ultimate acaba numa realidade alternativa onde todos os seres superpoderosos sucumbiram a uma infecção vinda do espaço e se tornaram mortos-vivos canibais. Tendo devorado todas as pessoas comuns do planeta, o jeito de resolver a escassez de alimento foi atrair carne fresca de outra realidade.
Bem, quando a saga do Quarteto Ultimate terminou, alguém dentro da Marvel percebeu que a idéia era boa demais para acabar aí e resolveu fazer uma minissérie estrelada só pelos zumbis desse mundo alternativo.
O roteiro deste novo projeto, e agora sim estamos falando dos Zumbis Marvel propriamente ditos, ficou a cargo de Robert Kirkman, que já tem experiência no assunto, pois ele é o criador da HQ Os Mortos-Vivos. Com um especialista cuidando da trama, a mini seria uma das mais divertidas dos últimos tempos, correto? Bem, mais ou menos.
A minissérie começa exatamente do ponto onde o arco do Quarteto terminou. Por isso, é essencial ler essas edições de Marvel Millennium Homem-Aranha, para não ficar boiando com a história que começa do meio. Além disso, a origem da infecção só é explicada nesse arco. Zumbis Marvel não traz nenhuma recapitulação a esse respeito.
Bem, do começo ao fim da minissérie temos apenas um grupo de heróis zumbis famintos tentando desesperadamente achar comida. Quando conseguem, se alimentam, batem um papo, e partem para buscar mais comida. E é só isso.
A falta de uma história decente sem dúvida é uma grande decepção, tornando a série apenas um amontoado de cenas de canibalismo entremeadas por piadinhas envolvendo o apetite dos heróis desmortos.
Fora a falta de história, não me agradou nada o fato dos zumbis falarem e manterem seus intelectos intactos. Pô, tudo bem que se eles fossem retratados de um jeito mais tradicional, a HQ seria praticamente sem texto, mas que ia ser bem mais divertido se eles fossem burros, ah isso seria.
Robert Kirkman, cuja série mais autoral, Os Mortos-Vivos, não deve nada aos filmes do George Romero, aqui parece sem inspiração. Há uma ou outra situação legal, como o Homem-Aranha sentir uma tremenda culpa por ter almoçado a Mary Jane e a tia May ou o Gigante esconder um petisco do resto do grupo. No mais, todo o resto da condução é bem chocho e o final é bem clichezento. Onde estão as críticas sociais, outra marca registrada das histórias de mortos vivos? Se a intenção era criar apenas uma historinha divertida, não funcionou como deveria. É uma pena que o material não consiga extrair todo o entretenimento que poderia haver nesse projeto.
A arte de Sean Phillips é apenas OK, não compromete nem empolga. Ele desenha bem os zumbis, com os dentões aparecendo e os corpos em putrefação, mas os seus enquadramentos são muito genéricos e seu traço é bem sem graça. O destaque no quesito arte fica mesmo para o capista Arthur Suydam, que homenageia algumas capas clássicas de revistas da Marvel (como a de Uncanny X-Men 1, por exemplo) “zumbizando-as”.
Mas a leitura ainda é um passatempo razoável, e de fato diverte em alguns momentos. Fica longe de ser a série mais fraca a passar pelo mix da revista Marvel Max, mas também não acho que vá ser lembrada depois de algum tempo. Em suma: ficou na média, mas pela ótima idéia tinha a obrigação de ser bem mais do que é.
Em tempo, Zumbis Marvel vai ganhar mais duas minis. A primeira, Marvel Zombies: Dead Days, é uma famigerada prequel. A segunda, Marvel Zombies Vs. The Army of Darkness, trará o aguardado encontro dos zumbis da grande M com ninguém menos que Ash, o herói da série cinematográfica Evil Dead, também conhecida como Uma Noite Alucinante. O tremendão Ash destroçando ex-heróis putrefatos com uma serra elétrica! Dá para imaginar? Só resta torcer para que essa série chegue logo ao Brasil e, diferente de Zumbis Marvel, faça jus a todo seu potencial.