Tchê! Sabe aquela reclamação clássica que nós, nerds do interior, temos o costume de repetir sempre que algo supimpa acontece na capital: “Poxa, como é dura essa vida de nerd do interior! Aqui não tem essas coisas”? Pois então. Estou morando em Porto Alegre há tempo suficiente para ter perdido uma Zombie Walk e uma série “dessas coisas”.
Este ano decretei que não perderia essa oportunidade, e assim o fiz.
PRÓLOGO
Foi tudo divertido, desde a compra das maquiagens até o evento em si. Pesquisas extensas me levaram a uma loja de fantasias do tipo em que, à primeira vista, você tem a sensação de que será engolido, transformado em um manequim de terror e nunca mais sairá de lá. À segunda também.
E, amigo delfonauta, a maldita sensação permaneceu até eu estar do lado de fora e a porta se fechar. Minha cabeça estava um tanto confusa por aqueles dias, e pensei ter visto um evil monkey lá dentro, mas ignorei isso e peguei o rumo de casa.
Comprada a maquiagem colorida em massa e o kit de terror (aqueles usados em parques de diversão), comecei a busca pela cara de zumbi perfeita. Encontrei um tutorial ensinando a fazer feridas usando cola branca. É. O resultado você confere na galeria.
O DIA Z
Estava com meus companheiros, até então aspiras, em uma reunião a distância da Alta Cúpula Delfiana, sendo aniquilados com interrogatórios e castigos inenarráveis por besteiras postadas, quando ouvi grunhidos. A princípio achei que fosse um reflexo da fome, já que a reunião ultrapassava o meio-dia, mas logo percebi que vinham da rua.
Pedi permissão ao Ditador Supremo para me retirar e ele pediu um bom motivo com um sorriso sádico nos lábios. Foi então que eu tive a insanidade de apostar alto, dizendo que se fossem zumbis na rua, eu me permitiria ser infectada para relatar como é a vid.. morte, enfim, de um zumbi.
Vi um lampejo de ambição passar por seus olhos e então ele decretou que eu me apressasse, afinal, o mundo se curvaria mais rápido a seus pés se ele dominasse também os mortos-vivos.
Saindo do prédio, encontrei o Gustavo (meu namorado) com um olhar um tanto afetado, que atribuí à fome, e o cumprimentei. O porteiro me olhou com estranheza. Resolvi dar uma conferida no espelho (afinal, nunca se sabe) e lá estava. Ó, céus! Eu estava apodrecendo. E nem precisei da maquiagem!
Verifiquei o relógio e percebi que faltava muito ainda para a hora da concentração da Zombie Walk. Achando que aquilo poderia ser loucura gerada pela Pressão Pré-Estágio Delfiano, saí o mais rápido que pude. Foi então que vi.
A rua estava cheia deles. Havia sangue por todos os lados. O cheiro de morte era algo incrivelmente bom, e de alguma forma agravava minha fome (e não se parecia com hambúrguer, nem bacon). Segui o fluxo e fui parar na Casa de Cultura Mário Quintana, onde estava marcado o início do flashmob.
Após atacar alguns carros que passavam, a multidão começou a caminhar e seguimos por ruas e pontos significativos da cidade. Escalamos o Monumento a Júlio de Castilhos, descemos pelo Viaduto Otávio Rocha, tomamos a Ponte de Pedra e o Monumento aos Açorianos, infectando vivos pelo caminho. Aproveitamos para ensanguentar uma fonte que estava dando sopa em um prédio comercial no caminho e finalizamos a caminhada no Parque da Redenção em frente ao Monumento ao Expedicionário.
A volta para casa foi realmente confusa. Lembro de voltarmos por ruas mais movimentadas do que tomamos na ida, com as pessoas normais nos observando. Aquela fome descontrolada havia desaparecido. Creio ter almoçado, mas não lembro exatamente o que comi. Hum… (pensamento censurado para Joannas, com menos de 8 anos e 11 meses, por conter cenas de violência).
O porteiro não nos reconheceu na chegada, precisei me identificar. Ele ficava falando coisas sobre uma quarentena ou algo assim, mas estava com muita dor de cabeça para ouvir histórias e o deixamos falando sozinho.
EPÍLOGO
Cá estou no meu quarto, aparentemente viva, escrevendo isso tudo baseando-me em fotografias tiradas por mim (não sei como, mas lembrei de levar minha câmera a um apocalipse zumbi), que você confere na galeria.
Espero que o Ditador me recompense com uma fatia de bacon a mais na dieta diária por essa matéria. Já estou com dores nos braços de tanto sacrificar bodes por umas fatias extra de bacon.
Se você apareceu nessas fotos e não quer ficar famoso, é só escrever para nós que tiramos a foto do ar.