Wuppo

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Há games que te conquistam logo nos primeiros minutos de jogatina. Há games que você inicialmente não gosta, mas aos poucos vai mudando de opinião. E há games que, por mais que você tente, simplesmente não consegue se conectar de jeito nenhum, mesmo reconhecendo suas qualidades. E a sensação que eu tive ao jogar Wuppo foi exatamente essa.

Desenvolvido pela Knuist & Perzik, Wuppo conta a história de um wum, uma bolinha branca fofa com quatro patas que foi expulsa de seu apartamento por deixar pingar sorvete no chão do prédio e agora precisa procurar um novo lar e resolver os perrengues que aparecem no caminho.

Com a descrição acima e o visual fofinho e retrô, sei que você deve estar pensando que ele deve ser um inofensivo plataforma, mas ele vai muito, muito além disso, misturando elementos de shooter 2D, puzzle e RPG, além de cenários complexos, uma infinidade de itens e sidequests e uma história riquíssima muito bem construída, que deixa muito jogo babando de inveja.

Wuppo deve ter dado um trabalhão para ser feito e eu juro que admiro muito o que os desenvolvedores realizaram. Mas infelizmente, todo este esforço não compensa o que na minha opinião é ao mesmo tempo o ponto mais fraco e megalomaníaco do game: os chefes.

O game possui 17 chefes (e mais alguns opcionais) e todos eles são bastante variados, tanto em design quanto em formas de combate. Isso é bem criativo e seria um ponto positivo se não fosse por um pequeno problema: a dificuldade da maioria dessas batalhas é simplesmente insana, mesmo na dificuldade normal.

Todos os chefes te arrancam uma quantidade absurda de HP (você começa com 100 de HP e ao avançar na história e fazer sidequests, ganha um aumento permanente, que pode ir até 200), enquanto você tira uma quantidade muito inferior deles, mesmo tendo sua arma com upgrades. A maioria deles atiram projéteis, e eles vêm em quase todas as direções ao mesmo tempo, te deixando pouquíssimo espaço para manobra. E como se isso não bastasse, em Wuppo o seu personagem não possui alguns segundos de invencibilidade ao ser atacado, o que significa que você tem que se esquivar perfeitamente dos ataques, sem margem alguma para erro. E se você for pego por um ataque esmagador, pode dizer adeus a uns bons 25% do seu HP.

Como se tudo isso não fosse ruim o bastante, a mecânica de itens do jogo é um tanto inusitada. Existem itens de cura, mas para usá-los, você precisa primeiro equipá-los e depois consumi-los. E como você só pode equipar um único item por vez, se você usar um de cura, isso significa que você terá que ficar um tempo sem sua arma e não pode atirar nos projéteis. Mas o melhor de tudo é que o jogo não pausa enquanto você navega pelo inventário.

Para contornar isso, até existe o sistema de hotkeys: você escolhe um item e o associa a uma das teclas numéricas, equipando assim o item quando aperta a tecla selecionada. Mas se o seu item selecionado acabar e você precisar de um outro, vai ter que navegar pelo inventário do mesmo jeito.

A cada chefe que você passa, estes problemas vão ficando cada vez mas evidentes, mas é em Breevis, o chefe subaquático, que você vê quão insana a coisa é. Para você ter ideia, eu devo ter perdido umas quatro horas da minha vida só tentando matar este desgraçado. E quando finalmente consegui, a luta deve ter durado mais de meia hora. Eu até separei um vídeo que achei na net dessa luta. O jogador é infinitamente mais habilidoso que eu, e ainda assim ele demorou bastante:

E a batalha contra o chefe final é ainda mais difícil e mais demorada, mas não vou comentar sobre ela por causa de spoilers.

Eu entendo que neste mundo existe gosto para tudo e que muita gente deve achar jogos assim “desafiadores e estimulantes”. Mas para mim, essa dificuldade absurda não me dá sensação de conquista e de desafio superado, apenas raiva e frustração. Lá pelo oitavo chefe (e a bilionésima morte), eu já tinha perdido todo o meu interesse por Wuppo.

Não consegui mais me conectar à história, que aliás apesar de ser riquíssima e muito bem montada, já não tinha me fisgado no começo, talvez pelas cansativas explicações em texto dos personagens (e olha que eu sou um fã de JRPG, então eu deveria gostar dessas coisas), nem me empenhar nas sidequests. Não consegui ter mais prazer nenhum no jogo, pois sabia que a tendência era só piorar. Terminei o game no piloto automático só para poder embasar esta resenha.

Eu queria muito ter gostado de Wuppo, de verdade, porque dá para ver que os desenvolvedores colocaram bastante esforço nele e conseguiram algo fantástico. Mas não posso ser desonesto e dizer que é um jogo que me agradou.

Ainda assim, se você gosta de games doidos que te façam arrancar os cabelos, eu recomendo Wuppo fortemente. De verdade, você vai curtir muito. Mas se não é o seu caso, acho melhor ficar bem longe dele, a menos que lancem um patch com uma dificuldade moderada.

CURIOSIDADES:

Wuppo possui suporte ao controle do Xbox 360, mas eu achei esta função um tanto rudimentar e não tão precisa quanto o teclado, além de limitar o uso das hotkeys. E como eu sou um PC gamer poser que opta pelo controle sempre que possível, se eu estou falando que o teclado é melhor, acho melhor você seguir meu aviso.

REVER GERAL
Nota
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Lucas Fernandes Corrêa
Lucas Fernandes Corrêa teve seu senso crítico forjado por games, HQs de super-herói e bandas de metal épicas que quase ninguém conhece. Para ele, quanto mais exagerado, prepotente, pomposo e gloriosamente ridículo for algo, melhor e mais divertido.
wuppoAno: 29 de setembro de 2016<br> Gênero: Plataforma, Puzzle<br> Plataforma: PC, Mac<br> Fabricante: Knuist & Perzik<br> Versao: PC<br> Distribuidor: SOEDESCO Publishing<br>