O lado bom de passar a semana inteira no cinema é que você acaba descobrindo pequenas pérolas que, de outra forma, passariam despercebidas. Quer um exemplo? Eu nunca teria pago para assistir a esse aqui e hoje ele está entre os melhores filmes de terror da história, na minha opinião.
Porém, essa premissa nunca foi tão verdadeira quanto para Vitus. Este belíssimo filme suíço é excelente, mas a distribuidora optou por cometer suicídio comercial, colocando o dito-cujo para estrear no mesmo dia de um grande blockbuster nerd (Watchmen), o grande vencedor do Oscar (Quem Quer Ser um Milionário?) e um outro grande concorrente ao careca dourado (Frost/Nixon). Sério, quantas pessoas vão ao cinema no próximo final de semana para assistir a qualquer coisa que não esses três? Vitus está fadado a passar despercebido em nossos cinemas.
Aquelas que saírem dessa trinca, contudo, não devem se arrepender. Primeiro porque Vitus é um longa deveras tremendão – e depois porque todos os outros devem ficar várias semanas em cartaz, o que duvido que aconteça com este, pois, além de ser um filme pequeno, não tem como gerar dinheiro diante de concorrentes tão fortes. Eu mesmo quase não escrevi essa resenha graças à semana lotada (tanto que este texto está saindo num domingo) – e acabei decidindo fazê-lo para tentar convencer pelo menos um caboclo – ou, mais provável, uma cabocla – que seja a deixar Watchmen para a semana seguinte.
Vitus conta a história de um menino superdotado. Como acontece com a maioria das histórias desse tipo, ele só quer ser normal. Nas mãos de Hollywood, isso geraria um apanhado de clichês e lições de moral vazias. Nas mãos de Fredi M. Murer, virou algo que eu não saberia como classificar com qualquer outra palavra que não seja “arte”. E é a melhor forma de “arte”, aquela que é usada para expressar os sentimentos e opiniões do autor.
Por ser tão absurdamente inteligente, o menino Vitus se sente distante de todas as outras pessoas, com exceção de seu avô – que também é seu melhor amigo. E esse distanciamento permite que ele analise de forma extremamente sensível as atitudes das pessoas. Por exemplo, o professor sempre sabe mais que os alunos? Se você respondeu que sim, espere até ouvir a argumentação dele.
Dessa forma, Vitus questiona e aprende sobre a amizade, o amor, a economia, a escola, a vida e, é claro, a morte. Tudo de forma belíssima e extremamente sensível, alternando drama e comédia nas doses ideais e sem nunca cair para os clichês que mataram o cinema estadunidense. Ok, às vezes a narrativa pode ser um tanto lenta, especialmente para nós, acostumados com os padrões hollywoodianos, e definitivamente não temos aqui um Indiana Jones no que tange à diversão. Porém, temos algo que podemos colocar acima da diversão. Este não é um mero entretenimento – como eu disse alguns parágrafos atrás, é arte. E da boa.
Este é o primeiro grande candidato ao meu Top 5 de melhores filmes de 2009 – e acredito que também tem fortes chances de estar no do Rezek. Portanto, adie o Watchmen em uma semana ou assista aos dois na estreia. Se não fizer isso, talvez você não tenha outra chance de ver este aqui.
Sim, este filme provavelmente vai fazer você chorar. Mas não vai fazer isso com formulinhas desgastadas – e muito menos serão lágrimas de tristeza. Ao sair do cinema, você pode estar com os olhos marejados, mas estará se sentindo bem. Vitus vai fazer você rir, chorar e, no final das contas, vai alimentar sua alma.