Hollywood tem a terrível mania de pegar histórias que deram certo e ficarem tirando leite delas até que o leite saia azedo e cheio de bolotas. O clássico livro de Mary Shelley, Frankenstein, já até ganhou algumas adaptações fiéis e bem feitas, mas ultimamente, o leite está ficando cada vez mais verde. Quem não se lembra do recente Frankenstein: Entre Anjos e Demônios, que transformava a trágica criatura em um super-herói?
Pois a adaptação de hoje é um tanto mais classuda, mas ainda assim eu estava esperando umas bolotas nesse leite. Antes de eu descrever o gosto, no entanto, vamos falar da sinopse, para você saber o que tem pra hoje.
Este é daqueles filmes que visa contar “a história real por trás de uma já conhecida”. Claro, Victor Frankenstein é um personagem fictício, mas este longa tenta dar uma abordagem mais realista e pé no chão às suas experiências de criar vida através da eletricidade.
Assim, o foco aqui sai da história da criatura produto das experiências profanas do cientista e acaba se concentrando na relação de Victor Frankenstein (James McAvoy) com seu assistente Igor (Daniel Radcliffe). Na verdade, Igor é o protagonista do longa, pois é dele todo o arco dramático, enquanto o Vitão serve apenas como um motivador da coisa toda.
Incluíram até um romance para o velho corcunda, mas para fazerem isso, resolveram seu problema de coluna, afinal, de acordo com Hollywood, ninguém é capaz de amar uma pessoa com deficiência.
A direção de Paul McGuigan é estilosa, resultando em um filme bem bonito e colorido, daqueles que dá gosto de ver na tela grande. As atuações também chamam a atenção por estarem fanfarronicamente exageradas, lembrando até uma peça de teatro, com os atores impostando a voz e fazendo várias poses.
Apesar da parte técnica caprichada, o fato de esse leite já ser velho e ter sido bebido por muita gente nas últimas décadas prometia uma bomba ou, se tanto, um filme nada. Para a minha surpresa, no entanto, até que o negócio é divertido.
Acompanhar as experiências da dupla de cientistas é bem interessante, e acaba até acrescentando um pouco para fãs da obra original.
Eles pecaram no final. Tivesse acabado um pouco antes, sem se render à pressão de mostrar a criatura, teria levado uma nota melhor. O clímax, no entanto, apesar de mostrar o que o filme promete desde o início, peca por sua previsibilidade e pelo simples fato de não fazer sentido, dado o tom que o longa levava até então.
Ainda assim, o que temos aqui é uma diversão descompromissada, que até vale o ingresso, embora não vá mudar a vida de ninguém.
CURIOSIDADE:
– O roteiro deste filme é de Max Landis. Talvez você não reconheça o nome, mas curiosamente ele também roteirizou a outra estreia da semana que resenhamos, American Ultra. Coincidência que dois filmes do mesmo escritor estreiem na mesma semana na nossa terrinha, né?
– Esta resenha começou a ser escrita ao mesmo tempo que coloquei para tocar uma versão ao vivo da tremendona Free Bird, do Lynyrd Skynyrd. E olha que legal, eu coloquei o ponto final nela quase ao mesmo tempo que a música terminou.