Quando ouvi o A Legacy of Honor, o primeiro álbum do Soulspell (um projeto de opera metal brasileiro similar ao Avantasia, porém muito melhor), pude constatar que nosso país possui uma gama de vocalistas de metal tão excelente quanto qualquer outro país da Europa. Porém, de todas as excelentes vozes que estão no projeto, nenhuma me chamou tanto a atenção quanto a da personagem Judith, interpretada pela vocalista Daísa Munhoz.
Fascinado pela voz da moça, fui atrás de mais informações sobre seu trabalho. Descobri que ela fazia parte de uma banda de Bariri, São Paulo, chamada Vandroya. Infelizmente, na época, o único material que a banda havia lançado era um demo com duas faixas. Duas ótimas faixas, aliás, o que só aumentava a minha vontade de adquirir mais material da banda.
Alguns anos e dois álbuns do Soulspell mais tarde, o Vandroya finalmente lança em 2013 o seu disco de estreia, batizado de One. E que álbum de estreia, amigo delfonauta!
As músicas são relativamente longas, possuindo uma média de cinco minutos e meio cada, mas te envolvem tanto que você nem percebe. Como em todo álbum de power metal que se preze, o bumbo duplo de Otávio Nuñez e o baixo pesado de Gee Perlati são rápidos e constantes. A longa duração das músicas também permite que os guitarristas Marco Lambert e Rodolfo Pagotto (ambos também integrantes do Soulspell) façam seus virtuosos solos, com alguma influência de prog aqui e ali, mas que nunca duram mais ou menos do que o ideal. A introdução oriental de No Oblivion For Eternity e todos os riffs e solos da faixa Anthem (For The Sun) mostram muito bem a capacidade e virtuosismo da dupla.
Mas por mais que a banda seja composta por grandes músicos, é a voz da Daísa que brilha mais forte. Seja na “rhapsodyana” The Last Free Land (onde a moça até faz uma pequena narração), nas energéticas When Heaven Decides To Call e Within Shadows ou na belíssima Shall We Say Goodbye?, a moça dá um verdadeiro espetáculo aos ouvidos e consegue cativar o ouvinte. É impossível não se deixar levar e cantar todos os refrãos.
Uma faixa que merece destaque é Change The Tide. Aqui rola a participação de Leando Caçoilo, vocalista do Seventh Seal e também integrante do Soulspell. A faixa é um dueto homem-mulher onde ambos os vocalistas dão o máximo de si, elevando suas vozes a volumes que fazem os olhinhos de qualquer metaleiro lacrimejar de felicidade. A bateria é a mais frenética e empolgante do disco e o baixo simplesmente não tem problemas para acompanhá-la. O solo dá uma quebrada no ritmo frenético só para ir retomando-o aos poucos. Particularmente, eu adoro duetos entre homens e mulheres, ainda mais se eles têm gritos épicos, então é fácil perceber porque esta faixa me cativou tanto.
Além de tudo isto, temos uma produção cristalina, feita pelo próprio Marco Lambert, com mixagem do guitarrista do Korzus, Heros Trench, uma capa muito bacanuda e uma aura de que cada um dos envolvidos na produção do disco deram 110% de si. Isso torna o disco de estreia do Vandroya digno de receber a maior honra já concebida a qualquer produto do entretenimento: o selo delfiano supremo. Podemos ainda estar no começo do ano, mas One com certeza marcará presença em todas as listas dos melhores de 2013.
Este é um álbum que qualquer fã de power metal deveria ouvir e, após seu término, guardar o disco na caixinha, olhar para a capa com um sorriso de orelha a orelha e dizer “tenho orgulho de ser brasileiro”.
CURIOSIDADES:
– As canções Within Shadows e Why Should We Say Goodbye? são as duas que marcaram presença no demo da banda. A primeira inclusive é a faixa-título.
– A faixa Change The Tide também pode ser encontrada no mais recente álbum do Soulspell, Hollow’s Gathering. Porém, nesta versão, o dueto é feito entre Daísa e Michael Vescera, aquele estadunidense que cantou no Dr. Sin por um tempo, e que é mais conhecido por ser um dos vocalistas do Yngwie Malmsteen. Eu achei esta ideia boa porque um acaba divulgando o outro.
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