Se você jogou Uncharted 4: A Thief’s End até o fim, sabe que Nathan Drake foi devidamente aposentado da sua carreira como caçador de tesouros e assassino serial. Muito bem aposentado, aliás, porque Uncharted 4 é um jogo tremendamente embasbacante.
Se não jogou, sinto muito por ter entregado o final da campanha (mesmo que de forma bem abstrata, vamos concordar). Ainda assim, você deveria experimentar este belo quitute em forma de jogo. Porque ele pode ser uma mistura (propositalmente) genérica de Indiana Jones com Tomb Raider, mas é uma saborosíssima mistura genérica de Indiana Jones com Tomb Raider. Basicamente, é um filme da Sessão da Tarde jogável – um filme de alto orçamento, vale dizer. E isso é demais.
É o tipo de jogo que você quer mostrar para as visitas quando elas lhe perguntam o que tem de bom na prateleira. Ele é explosivo. Ele é colorido. Ele é idiotamente engraçado, como um filme da Tela Quente.
Ao contrário de um Dark Souls, é o tipo de jogo que faz questão de deixar o jogador confortável. Ele quer que você se divirta – seja atirando para todos os lados, seja pulando de lá para cá em busca de um tesouro irrecuperável.
E isso essencialmente descreve a série Uncharted como um todo.
DIVERSÃO DESCOMPROMISSADA
Como você pode imaginar, a Naughty Dog não se atreveria a decepcionar ninguém a essa altura do campeonato. Uncharted: Lost Legacy chega ao mercado como um jogão disfarçado de DLC, fazendo valer o preço de R$ 150,00 que está custando na PS Store brasileira.
Tanto é um jogão que a Naughty Dog lançou cópias físicas desse DLC, mostrando que tem consciência da pintudice de seu próprio trabalho. Além disso, Lost Legacy é um stand alone. Ou seja: apesar de ser um conteúdo adicional, ele pode ser jogado independentemente de você ter Uncharted 4 instalado.
Com Drake fora da jogada, a história é conduzida por Chloe Frazer, interesse amoroso de Nathan que deu as caras pela primeira vez na segunda iteração da franquia (ainda que eu não me lembrasse dela, mesmo tendo jogado Uncharted 2 de cabo a rabo, o que demonstra que tenho graves problemas de memória ou as narrativas da série são simplesmente esquecíveis mesmo).
No controle de Chloe, você juntará forças com Nadine Ross, a anti-heroína mezzo babacona, mezzo carismática de Uncharted 4 – que, infelizmente, não pode ser controlada –, e juntas irão atrás da Presa de Ganesh, um artefato intimamente relacionado à mitologia hindu e (adivinhem só) de inestimável valor material.
É claro que, em sua busca, a dupla irá se deparar com um vilão genérico que (oh!) está atrás do mesmo artefato místico que elas. E, como não podia deixar de ser, comanda uma milícia armada até os dentes – porque é isso que arqueólogos do mal fazem, eles lideram milícias.
Você pode, naturalmente, esperar por grandes sequências de ação e tiroteios alucinantes em cenários maravilindamente paradisíacos. Afinal, isso é Uncharted, e o fato de ser uma expansão não impediu a Naughty Dog de dar o melhor de si ao longo das frenéticas 10 (talvez 12, vai) horas de jogatina proporcionadas por Lost Legacy.
ISSO É UNCHARTED!
Pouco mudou na jogabilidade em relação a Uncharted 4. A bem da verdade, nada parece ter sido realmente alterado. Houve apenas a adição de um minigame para destrancar fechaduras (desnecessário, mas não chega a atrapalhar). Funciona naquele esquema de girar as alavancas do controle de um lado para outro, procurando o ponto certo até que a fechadura seja destravada.
Já no level design, uma pequena inovação implementada foi a adição de uma fase em que o mapa, sendo bastante extenso, permite que você escolha a ordem em que deseja realizar as missões daquele trecho.
Na prática, significa apenas que você pode ir pelo caminho da esquerda antes de escolher o da direita. Ou seja, não muda muita coisa. E existe também um desafio opcional nesse capítulo, rendendo um item bônus que faz o controle vibrar quando você estiver perto de um tesouro.
Os gráficos continuam sensacionais, assim como o fator diversão. Se você curtiu Uncharted 4, não há muito o que pensar. Lost Legacy é compra garantida.
MULTIPLAYER
O multiplayer é idêntico ao de Uncharted 4, e inclusive a Naughty Dog se preocupou em garantir a compatibilidade de Lost Legacy com U4. Assim, mesmo que você compre apenas esta expansão, poderá jogar online com quem tem apenas a versão original do jogo.
E cabe ressaltar que é um multiplayer deveras empolgante. Metade do tempo que passei com Uncharted 4 foi jogando e rejogando a campanha, e a outra metade explodindo tudo no multiplayer – fosse no modo competitivo ou no cooperativo –, e o mesmo se aplica a Lost Legacy. É um multiplayer robusto, daqueles que rende várias horas de jogo, oferecendo cenários diversificados e uma boa variedade de modos.
Ainda que o preço esteja um pouco salgado, este é um jogo que merece ser desfrutado por todos os donos de um PS4. É deslumbrante e, acima de tudo, imensamente divertido. Ao contrário do que imaginei ao aposentar o disco de A Thief’s End, agora percebo que sentirei falta de um novo Uncharted.
UNCHARTED: LOST LEGACY
A franquia pode, sim, sobreviver sem Nathan Drake (provando que talvez não seja tão parecida assim com Tomb Raider, que parece inevitavelmente atrelado a Lara Croft). Espero que exista um novo capítulo da série no futuro, seja com personagens inéditos ou já conhecidos. Até lá, sentirei falta desta jogatina leve, descompromissada e cheia de explosões que é Uncharted.
Mas tudo bem. Agora é esperar para ver o que a Naughty Dog conseguirá fazer com a sequência de The Last of Us. Seja o que for, não tenho dúvidas de que será impressionante.