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– Uncharted: Drake’s Fortune: Toda história tem um começo. Até as que não são continuação direta.
Tomb Raider foi claramente baseado em Indiana Jones. Porém, faltava algo. Uncharted: Drake’s Fortune descobriu o que era, melhorou a fórmula original combinando exploração, plataforma e tiroteios e ainda acrescentou o clima de diversão pipoca dos filmes do Spielberg.
Qualquer pessoa que tenha jogado Uncharted: Drake’s Fortune há de concordar que essa combinação fez daquele um jogo tão divertido que deveria ser ilegal. Porém, também temos que concordar que haviam coisas a serem melhoradas em uma eventual continuação. Então, como essa resenha vai ser quase inteira uma babação de ovo, vamos começar com os (poucos) defeitos.
DEFEITOS
Os tesouros continuam praticamente invisíveis. Na verdade, eles são completamente invisíveis, a não ser por um sutil brilho que acontece por um milésimo de segundo a cada quatro segundos. Uma péssima decisão no primeiro jogo que foi mantida aqui. A maior parte das vezes, você só percebe a presença do item ao correr em cima dele, pois o jogo solicita que você aperte triângulo.
Outra péssima decisão que foi mantida também envolve invisibilidade, dessa vez de checkpoints. O jogo não dá nenhum indicativo quando você passa por um deles. A única forma de ter uma ideia é apertando start e selecionando restart last checkpoint. Daí é possível ver quantos minutos faz desde o último. Não dá para entender porque é assim, já que é super comum os jogos avisarem dos checkpoints com um símbolo ou mesmo com a palavra aparecendo escrita na tela.
O sistema de cobertura também não funciona sempre do jeito que você quer. É comum você querer se esconder atrás de um lugar e o carinha escolher outro ou então decidir se pendurar na beirada. E, nas dificuldades mais altas, isso vai causar sua morte com frequência.
Ajudando na frustração estão seus companheiros, que frequentemente estão nas coberturas que você quer usar ou então bloqueando uma passagem. Em determinada fase, você tem que passar correndo por um corredor estreito com um tanque atirando. O esquema aí é velocidade, mas seu querido amigo sempre chega no corredor antes e fica bloqueando. A Naughty Dog até tentou resolver o problema programando todo mundo pra sair da sua frente, mas eles fazem isso dando um pulinho para trás, então nesse caso ele continua bloqueando o corredor. Jogando no crushing, onde sua energia é mínima, morri por causa desse sujeito dezenas de vezes. Alguém me explica porque ainda não pensaram em fazer companheiros intangíveis? Dane-se a realidade, especialmente se ela estraga a diversão. Verdade, esse é um problema generalizado da indústria dos games, mas isso não o torna menos irritante. Até porque a solução é óbvia e fácil.
A última coisa que me incomodou também existia no primeiro. Ao contrário do normal em jogos de ação, o pulo do protagonista não tem uma duração pré-estabelecida. Isso significa que às vezes ele pula mais alto ou mais longe dependendo da situação, dificultando bastante para saber qual o caminho correto, além de que você vai morrer várias vezes achando que dá para fazer um pulo que não dá.
Agora acredite: embora alguns desses cheguem a irritar em alguns pontos, nenhum deles torna Uncharted 2 menos do que uma maravilha. E agora que tiramos os defeitos do caminho, considere que essa resenha está apenas começando e prepare-se para conhecer (ou relembrar) este que já está na minha lista de preferidos de todos os tempos.
HISTÓRIA
Você é Nathan Drake, descendente do explorador Francis Drake. No jogo anterior, teve a honra de desvendar o mistério do El Dorado e, no processo, encontrar o amor e ficar rico, como todo bom protagonista de histórias pipoca. Logo no início de Uncharted 2, Nathan perde sua fortuna e, antes disso, algo aconteceu e ele também perdeu a jornalista Elena, seu par romântico da aventura anterior.
Aqui tudo começa quando Flynn, um amigo de Drake, o chama para roubar um museu. A partir daí, eles se envolvem em uma aventura envolvendo Marco Pólo e a mítica cidade Shangri-la. Além de Flynn, também faz parte do plano Chloe, a morena de olhos claros e bunda gostosa. E não sou eu quem está dizendo, já que o bumbum da garota é fonte recorrente de piadas durante todo o jogo.
Obviamente, todos os amigos do primeiro jogo voltam, incluindo a Elena e, claro, Sully, o preferido de todo mundo e dono das melhores frases. Saca essa, por exemplo:
Sully: Estou suando como uma prostituta na igreja.
Drake: Você levou uma prostituta para a igreja?
Sully: Por que não?
Se você achou isso engraçado, espere até colocar as mãos no jogo. Isso porque os personagens conversam sobre coisas banais e não tão banais o tempo todo, inclusive durante as cenas de ação. E os diálogos não apenas são bem escritos, engraçados e surpreendentemente dentro do contexto da situação, como a atuação de todos os atores está simplesmente na mosca. Não dá para imaginar como seria possível fazer melhor.
O único problema da história é a mania de começar pela metade e depois voltar para o início. Especialmente porque isso faz você jogar de novo o trecho que abre o jogo. Sério, não precisava.
A narrativa inclusive acontece durante o jogo e não apenas através dos diálogos. Por exemplo, tem uma hora em que você está escalando e parece que uma parte do cenário está obstruindo a câmera. Daí essa parte se mexe, dá uma rosnada e sai da sua frente. Genial!
Pelo humor ou por ser simplesmente interessante, a história é tão importante para Uncharted 2 quanto era para os velhos adventures. E, acredite, é tão engraçada quanto. E o final… ah, o final provavelmente é a coisa mais óun que já vi num game sem a mão da Nintendo.
MAS COMO É O JOGO?
Você consegue imaginar um Gears of War misturado à ambientação de Tomb Raider, cujo protagonista tem as habilidades do Prince of Persia? É mais ou menos por aí.
O combate básico é bem na linha Gears. Inimigos aparecem, você se esconde atrás de alguma coisa, mira e tenta headshots. A exploração é bem semelhante ao Prince of Persia, com pulos fenomenais e várias coisas de circo que pessoas normais jamais conseguiriam fazer.
E aqui chegamos à principal melhora para esta segunda parte. O primeiro já trazia momentos de porrada e de stealth, mas nenhum deles era muito desenvolvido. A porrada era basicamente martelar o quadrado (sendo que a escopeta era bem mais útil para matar alguém que chegou perto demais) e o stealth era quase impossível, já que os inimigos pareciam nos enxergar a quilômetros de distância, mesmo quando estavam de costas. Tudo isso foi melhorado.
Tem vários trechos aqui onde você é obrigado a sair na mão com os caboclos e uma mudança muito simples tornou tudo mais interessante. Agora o combate funciona assim: martele o quadrado até o cara segurar seu braço. Quando isso acontecer, aperte triângulo para se soltar e o quadrado para finalizar o sujeito. E funciona que é uma maravilha, ainda que não seja nenhum beat’em up inovador (e nem é essa a intenção).
O stealth também ganhou trechos dedicados especialmente a ele, mas o melhor mesmo é poder usá-lo ao longo do jogo. Por exemplo, você chega numa base inimiga e pode sair atirando como um bom herói de ação ou então tentar aniquilar um a um sorrateiramente. Normalmente, os grandes tiroteios começam sorrateiros até que você cometa um erro e daí o bicho realmente pega. E isso é bem legal, porque faz você passar de um momento “oh, fezes”, quando os inimigos percebem sua presença, para um “hell, yeah” sádico, quando todos eles se curvarem às suas habilidades gamísticas.
E momentos hell, yeah não faltam aqui. O que acha de estar em um prédio desabando com um monte de inimigos na mesma situação, que ainda assim tentam te matar? E sim, você joga durante essa cena. É simplesmente fenomenal, ainda que dure apenas alguns segundos, são segundos inesquecíveis.
Outra cena tremendaça que dura mais tempo é a já famosa e clássica fase do trem (que abrange dois capítulos da história). Cada um dos vagões é completamente diferente do outro e combina stealth com porrada, com tiroteio, com escalação e com ataques de helicóptero. E tudo isso com você andando apenas em uma direção (rumo ao primeiro vagão). Repare no cenário, como ele vai lentamente se transformando da cidade para a floresta, para algo mais “frio”. Palmas para a Naughty Dog pelo seu excelente nível de level design com o qual a maior parte das desenvolvedoras apenas sonha.
Também não posso deixar de destacar a fase dos jipes. Você vai pulando de jipe para jipe, assassinando todo mundo que estiver neles enquanto os jipes pelos quais você já passou vão explodindo ao fundo. No final, você ainda assume uma metralhadora poderosa que causa ainda mais explosões. Mais Testosterona Total impossível.
Não se engane, esses são apenas alguns dos destaques de uma campanha que é quase 90% feita de momentos absurdos de bons. Quando não é uma cena de ação pintuda, são cenários lindos e coloridos, daqueles impossíveis de não parar por um tempo para admirá-los.
Inclusive, em determinado momento, a partir da fase da vila, toda a ação para e você fica durante algumas horas sem matar absolutamente ninguém, apenas escalando e explorando os belíssimos cenários. Pode parecer chato, mas não é. E logo depois desse trecho, o jogo compensa com um combate ininterrupto que dura algumas horas e talvez seja o mais difícil do jogo.
GRÁFICOS
Quase perfeito. Falta muito pouco para ser fotorrealista e a animação, especialmente, é um show por si só. Quando você está correndo em uma fase fria e para, seu personagem fica ofegante, respira de forma diferente e solta aquelas nuvenzinhas de respiração típicas do frio. Isso dura apenas alguns segundos, pois logo ele recupera o fôlego e volta à respiração normal. Detalhes, cara! A perfeição é feita de detalhes.
Da mesma forma, dependendo de onde você estiver, sua roupa fica suja de neve, molhada e afins. E você troca de roupa várias vezes durante o jogo. A perfeição é tanta que causa estranhamento quando você está sujo de neve e anda por um trechinho com água e a neve da roupa não some. De novo, esse é um defeitinho que só aparece tamanho o nível de perfeição, pois em qualquer outro jogo, isso nem chegaria a passar pela cabeça. Isso deve dar uma ideia de como o negócio é bom.
Outro ponto no qual esta segunda parte melhorou sobre o primeiro são nos cenários. O anterior era lindão e tinha uma impressionante variação de ambientes, considerando que tudo rolava na floresta. Porém, apesar da variação, era tudo na floresta, então isso já limitava um bocado. Aqui você vai lutar em museus, cidades, trens, Himalaia e, claro, florestas.
MONSTROS
Uma das minhas decepções com o primeiro jogo foi quando apareceram os “monstros”. Sinceramente, acho que isso deixou o jogo mais clichê e mais sem graça. Dessa forma, imaginava que também teria monstros aqui. E tem. E quando eles apareceram, fiquei bem decepcionado com o design, que me lembrou aqueles filmes B em que claramente tem um sujeito vestindo a roupa do bicho, sabe? Pois é, vamos manter o texto livre de spoilers, mas posso dizer que, antes do final, essa decepção sumiu.
Agora, cá entre nós, esses monstros precisavam ser tão absurdamente resistentes? É chato gastar toda a munição da sua metralhadora em um bicho e ele ainda não morrer, não concorda?
CHEFES
Assim como no primeiro, os chefes são praticamente inexistentes, com a exceção da batalha final. Porém, ao contrário do primeiro, aqui a batalha final é realmente uma batalha e ficou bem difícil no hard. Tenho até medo de como vai ser quando chegar lá no crushing. De qualquer forma, se você sentiu falta de algum chefe no jogo anterior, a Naughty Dog ouviu suas preces.
MULTIPLAYER
O jogo ainda traz modos multiplayer cooperativo (em mapas específicos, não na campanha) e competitivo. O competitivo é aquele de sempre, com variações de CTF, deathmatch e afins. Conforme você sobe de nível, ganha a possibilidade de comprar alguns upgrades.
O cooperativo permite que você e outros dois jogadores se unam para pipocar uns sacripantas controlados pelo computador ou cumprir alguns objetivos.
Pelo que li por aí, parece que ambos os modos são legais e divertidos. Eu até joguei uma vez em cada para ganhar os troféus respectivos, mas depois não me animei para tentar de novo. Claro que isso é porque eu, particularmente, não sou fã de jogar online com desconhecidos, mas é legal que isso tenha sido incluído para aqueles que gostam.
TROFÉUS
Já que falamos nos troféus, tirando os dois de multiplayer, todos os outros são iguais aos do primeiro jogo. Ou seja, se você conseguiu o seu Platinum no anterior, também há de conseguir esse. Eu estou quase lá, só falta terminar no crushing! ^^
Uma coisa que não me agradou é que o anterior ia liberando brindes conforme você ganhava troféus/medalhas. Sempre tinha alguma coisa nova, sejam filminhos de bastidores, skins e afins conforme você cumpria desafios. Aqui, você não só precisa cumprir desafios, como precisa gastar dinheiro para comprar as coisas. E o que você ganha com todos os desafios do single player não é suficiente para comprar tudo. No multiplayer faz sentido, pois assim você escolhe os upgrades mais importantes, mas os brindes do single player deveriam ser de graça, como no anterior.
COMPRE LOGO!
Acho que falei de tudo que tinha para falar, mas acredite: ler esse texto não vai dar uma noção de quão absurdamente bom Uncharted 2 é. É o tipo de jogo que vale a pena comprar o console para ter. E, se você já tem o console e gosta do gênero, não tem desculpa. Compre logo e não vai se arrepender. E semana que vem tem resenha do Brütal Legend! Já vá se besuntando em óleo!
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