Um Olhar do Paraíso

0
Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

O diretor deste Um Olhar do Paraíso é um sujeito que qualquer delfonauta há de conhecer. Afinal, são dele grandes clássicos do cinema como Fome Animal e Trash – Náusea Total. Mais recentemente, o sujeito, chamado Peter Jackson, também dirigiu alguns filmes de menor expressão, como a trilogia O Senhor dos Anéis e King Kong. Porém, este talvez seja seu filme mais diferente.

Susan Salmon (Saoirse Ronan) é uma garota romântica, feliz e criativa. Boa parte do filme é contado sob seu ponto de vista, o que também dá uma boa dose de charme à narrativa (como quando ela diz que contou os cílios do carinha de quem gosta). Infelizmente, ela logo vai ser assassinada pelo Stanley Tucci que, para não ser capturado, decidiu se disfarçar de Garth, o loirinho de Quanto Mais Idiota Melhor. Schuim! 

A partir da morte da menina, a história se divide em duas. Temos o lado mágico, onde vemos os lugares por onde a alma dela passa depois da morte, e temos o lado realista, ou seja, a família lidando com a perda, a investigação da polícia e os esforços do assassino para se manter livre.

O lado realista não apresenta nenhuma novidade, mas o mágico, ah, o mágico vale o filme. Com cenários belíssimos, cores vivas e um clima onírico de dar água nos olhos (é, nos olhos), é exatamente aí que vemos o quanto Peter Jackson (que sempre foi um bom diretor) evoluiu na arte de filmar.

Mesmo na parte realista ele se destaca, com planos criativos, diferentes e interessantes. O cara sem dúvida merece um lugar no rol dos melhores diretores da história e, falando apenas da técnica, Um Olhar do Paraíso é seu melhor filme.

Se tivesse que usar uma única palavra para descrever este longa, essa palavra seria lindo. Lindo tanto na estética e na técnica quanto até mesmo na mensagem. Apesar da história pesada, temos aqui uma mensagem positiva, daquelas que faz a gente sair do cinema se sentindo bem. E isso é sempre bem-vindo, especialmente numa época em que todo mundo quer ser sombrio e fazer cara de mau.

O problema é que, se tirarmos isso, não sobra muita coisa. A história em si é não apenas óbvia, como sempre segue a solução mais batida. Tipo, quando a garota está super alegre porque o galãzinho a chamou para sair, qualquer cinéfilo escolado sabe que é exatamente nesse ponto que ela vai morrer. A parte mais triste sempre vem depois da parte mais feliz. Especialmente quando os roteiristas não são muito bons. É mais fácil chocar com contrastes, afinal de contas. E tem outros momentos assim, como a desnecessária perseguição final, onde perseguida e perseguidor descobrem a presença um do outro sem nenhum motivo aparente – eles nem estavam próximos.

Não é apenas nos clichês que o roteiro perdeu nota, mas também nos furos. O pai da menina morta num momento está conversando com o assassino e do nada olha pra ele e grita “foi você!”. Oi? Desenvolvimento? Pois é, não faz sentido nenhum. E o destino final do vilão é tão Deus Ex Machina que não dá para entender como alguém aprovou aquilo.

Além disso, falta bolas. O filme todo só existe por causa do assassinato da menina, e isso é muito triste. Porém, é um absurdo que em nenhum momento seja citado como diabos ela foi assassinada. Ora, o Garth cortou a garganta dela? Ou será que a estuprou? Ou talvez tenha cortado a garganta e estuprado o buraco resultante disso? Ninguém sabe.

No final das contas, a beleza visual e a mensagem fofinha acabam pesando mais e esta se torna uma obra que merece ser vista no cinema. Duvido que algum delfonauta goste mais dele do que de Fome Animal, mas quem é fã de cinema como arte visual realmente não pode perder. Talvez seja a hora do Pedro Jackosão se tornar apenas diretor e deixar o roteiro para mãos mais capacitadas.