Desde sempre o Brasil é um país que venera o estrangeiro. Nelson Rodrigues, há muito tempo, já falava do “complexo de vira-lata”, e qualquer entrevista que algum jornal brasileiro faz com um músico gringo tem aquela pergunta básica: você gosta da música brasileira? Isso é ridículo porque parece que precisamos que alguém de fora venha e nos diga que fazemos coisas boas, quando na verdade basta olhar para os produtos nacionais com mais calma.
O novo disco do Uganga é exatamente assim. Opressor, o mais novo lançamento da banda mineira, traz um thrashcore de altíssima qualidade, tanto na produção quanto na energia que passa. E a bem da verdade, delfonauta, eu sou obrigado a admitir que energia é o que não falta nesse disco.
O Thrashcore, para quem não sabe, é um estilo de música que, apesar do nome, não é uma mistura de Thrash Metal com Hard Core, mas sim uma versão mais pesada deste último. O mais curioso é que o Thrashcore surgiu antes mesmo do Thrash Metal, e isso só faz pensar como um nome influenciou o outro – o que acaba sendo um excelente mindblowing.
A BELEZA DO OPRESSOR
O disco já começa com uma paulada na orelha. Guerra, a faixa de abertura, junto com O Campo, mostram que o disco não vem para brincadeira. Eu sou um grande fã de Metal , então estou acostumado com solos que demoram quase metade da música para aparecer. O curioso é que esse não é o caso aqui, e o primeiro solo já aparece logo nos primeiros minutos – e que solo, delfonauta! Confira o clipe da música de abertura do disco lançado pela banda abaixo e veja se eu não estou falando a verdade.
A música seguinte, Veredas, faz uma introdução para aquela que será a melhor música do disco, a faixa título Opressor. O refrão, com um coro tão pesado quanto possível, lembra bastante algumas músicas do Korzus – o que nem de longe deixa de ser um elogio.
O delfonauta mais esperto provavelmente já sacou que esse CD será energético do início ao fim, como um bom disco de HC deve ser. Com músicas que vão direto ao ponto, o disco não dá muita brecha para respirar, e quando o faz, é só no final, cuja última música, Guerreiro, é surpreendente leve e inspirada, com um ótimo solo de guitarra.
MAS SE ELE É TÃO BOM, POR QUE NÃO CINCO ALFREDOS?
O problema é que esse registro tem alguns deslizes de interpretação que me incomodaram um pouco, como o fato de às vezes a voz de Manu Joker deixar de soar agressiva e simplesmente parecer que estar no piloto automático. É algo recorrente e que por isso parece ser característica da performance de Manu Joker, mas como é algo que quebrou o clima com alguma constância, eu resolvi descontar meio Alfredo da nota.
A outra metade do Alfredo foi descontada devido à música Who Are the True. A dicção do inglês de Manu Joker não parece livre de vícios, e a julgar pelo fato de todas as outras músicas do álbum serem em português, eu ainda não entendo o que possa justificar haver uma música em inglês aqui. Talvez se estivesse em português eu não teria achado ela ruim, mas colocar uma música em inglês aqui acabou sendo um tiro no pé – e por isso, a outra metade do Alfredo também foi embora.
Contudo, nada disso tira o brilho do trabalho. Extremamente bem produzido, o disco vale cada segundo investido na sua audição – que é curtinha e dura menos do que um episódio de Breaking Bad. Assim sendo, recomendo fortemente parar para dar uma chance à banda – quem sabe assim você também não descobre que no Brasil também há bandas de muita qualidade?