Se tem uma coisa que seres humanos gostam mais do que ver meninos pobres se dando bem é ver pessoas que venceram e tinham o mundo nas mãos, só para perder tudo pouco depois. A história de Mike Tyson tem essas duas características, então não é de se estranhar que tenha virado um documentário.
O filme é basicamente uma longuíssima entrevista com Miguel Tição, onde ele conta todos os principais momentos da sua vida. Da infância pobre e delinquente até ser o campeão mais jovem da história. De nunca ter sido nocauteado até quando começou a ser nocauteado até pelo padeiro. Do estupro à recomendação de uma dieta auricular balanceada. O troço vai realmente a fundo, falando de coisas que todos sabem e outras que apenas os aficionados por boxe saberiam.
A história do sujeito é fascinante. Verdade, começa devagar, mas depois que ele começa a jogar sua vida fora e a fazer besteira atrás de besteira, o filme cresce como as visitas do DELFOS em 2009.
Porém, documentariamente falando, a obra perde bastante. Afinal, o único que fala aqui é o próprio Tyson. E ele não é particularmente inteligente nem articulado… É difícil não rir quando ele diz que fez felação numa moça e serve como um excelente exemplo da máxima “se não tem vocabulário, não tente falar difícil”. Aliás, ele se contradiz tanto que em muitos momentos não dá para diferenciar a verdade da sua fantasia. Isso sem falar das várias demonstrações de racismo que ele dá no decorrer do longa. Qualquer pessoa que ele não gosta, por exemplo, já é logo “xingada” de “branco”. Chega até a ser engraçado.
Dessa forma, temos uma história fascinante, mas não muito bem contada. Fico imaginando quanto um filme desses poderia render se tivesse também entrevistas com Buster Douglas (o lutador que tirou o título de Tyson e por isso ganhou um jogo de Mega Drive), Evander “comeram minhas orelhas” Holyfield, Don King (chamado de “réptil” pelo boxeador) ou a moça que acusou o protagonista de estupro (a quem ele se refere carinhosamente como “porca”).
Se o que temos aqui já é um bom filme, graças à fascinante vida de seu protagonista, é triste pensarmos quão excelente ele poderia ser, caso trouxesse uma maior gama de entrevistados. Eu, por exemplo, estaria mais interessado em saber o que o Holyfield teria a dizer sobre o incidente auricular do que o próprio Tyson. Afinal, o sujeito perdeu a orelha no episódio mais cômico de canibalismo já registrado.
Para fãs de boxe ou do lutador, este é um programa imperdível. Para interessados mais casuais, o ideal seria assistir na televisão. É uma pena apenas que o filme não seja tudo o que possa ser pela limitação de entrevistados.