Tristeza e Alegria

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Este é aquele tipo de filme que, quanto menos você souber a respeito, melhor. Na realidade, melhor ainda é não saber absolutamente nada sobre ele para seu impacto ser mais bem-sucedido. Sendo assim, vou ficando por aqui. Até a próxima, delfonauta. Ok, brincadeira, não vou fazer desta a resenha mais curta da história do DELFOS.

No entanto, o que disse no primeiro parágrafo é verdade, então vá lá assistir Tristeza e Alegria primeiro e depois você volta para ler a resenha. Na boa, eu espero. Já foi? Paulada, né? Agora sim, para você que viu e também para quem não viu, mas não se aguenta de curiosidade, posso dar agora a sinopse.

Johannes e Signe são um casal que passa por uma enorme tragédia. Acontece que Signe, sofrendo de um caso grave de depressão, acaba matando a filha bebê do casal, sendo internada num hospital psiquiátrico enquanto aguarda julgamento. Enquanto isso, Johannes vai rememorando, através de flashbacks, sua história e relação com a esposa, desde o dia em que se conheceram até a data fatídica que abre a história.

A intenção é reconstruir um retrato não só de Signe e sua doença, bem como jogar uma luz sobre as próprias atitudes de Johannes e mostrar como elas também contribuíram para a piora na saúde mental da mulher, no que a narrativa é muito bem sucedida.

No entanto, o que mais chama atenção nesse trabalho é o modo como os personagens tratam o ocorrido: como uma tragédia resultante de uma grave doença e nada mais. Do marido, que lhe dá apoio total, aos conhecidos de Signe (que, detalhe, é professora de escola, e os próprios pais pedem para que ela volte a lecionar assim que melhorar), todo mundo trata o caso com uma frieza racional e lúcida que aqui, em nossa terrinha habitada por falsos justiceiros da moral e da crescente intolerância contra tudo e contra todos, acaba parecendo uma atitude quase amoral por parte dos personagens.

Talvez sejam as meras diferenças culturais entre o povo nórdico, naturalmente mais frio e menos sentimental, contra nós, latinos passionais de sangue quente. Mas o fato é que isso realmente causa uma estranheza bem grande, tratando todo o desenrolar dos fatos com um olhar clínico, psiquiátrico. Tanto que grande parte dos flashbacks de Johannes derivam de uma conversa dele com o psiquiatra forense designado para avaliar Signe e dar seu parecer para o julgamento.

Tristeza e Alegria é um filme forte e, sobretudo, incômodo, principalmente pela forma da razão acima da emoção (que pode até ser interpretada erroneamente como a falta da dita emoção) pela qual aborda seu tema. Para quem quiser assistir um longa com um tema poderoso, abordado de uma maneira bem diferente das coisas que costumam chegar aqui, vale muito a pena pegar uma sessão.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
tristeza-e-alegriaPaís: Dinamarca<br> Ano: 2013<br> Gênero: Drama<br> Duração: 107 minutos<br> Roteiro: Nils Malmros<br> Elenco: Jakob Cedergren, Helle Fagralid e Ida Dwinger.<br> Diretor: Nils Malmros<br> Distribuidor: California Filmes<br>