Cada vez mais me convenço que Alan Moore é o messias dos quadrinhos. É incrível, mas nunca li uma história fraca desse cara. O inglês com cara de louco, responsável por V. de Vingança, Watchmen, A Piada Mortal, Do Inferno entre tantas outras coisas legais, sempre procura inovar em seu trabalho, seja puxando a trama para um lado mais dramático, seja dando uma pitada de humor a um contexto sério ou mesmo ironizando outras editoras. É exatamente tudo isso que ele faz em Top 10 Contra o Crime, mais um de seus roteiros criativos.
A história nos leva a um presente alternativo na fictícia cidade de Neópolis. Uma megalópole aparentemente normal, a não ser por um “pequeno” detalhe: todos os seus habitantes são super-heróis. Pois é, imagine o mendigo da esquina dotado de super poderes ou a garçonete do restaurante ou o editor tremendão de um certo site parcial de cultura e entretenimento, todos eles com algum tipo de dom, seja natural, seja desenvolvido através das mais modernas tecnologias e, logicamente, todos respondem também por nomes artísticos e uniformes exagerados, exatamente como todos os heróis que conhecemos e amamos.
Em uma cidade lotada de super-habitantes, obviamente os supervilões são uma presença obrigatória e, para combater a criminalidade ascendente na metrópole, foi criada uma força tarefa especial, digamos uma Super Swat, composta apenas da cereja do bolo desses super heróis. Essa central é chamada de “Top 10” e a HQ nos leva exatamente a acompanhar alguns dias na rotina desses policiais bem especiais e, claro, passíveis de erros, marca registrada dos gibis de Moore.
Em Top 10 Contra o Crime (agora você entendeu a piada com o Nova York Contra o Crime né?) não temos um personagem principal, já que acompanhamos uma série de tramas paralelas (todas bem amarradinhas e com suas próprias conclusões), cada uma com um grupo de personagens.
A série começa dando ênfase na policial novata Robyn Slinger. É através de seus olhos que conhecemos o “elenco” que compõe a delegacia, entre eles o Sargento César (literalmente um cachorro em um exoesqueleto) e o Policial durão Jeff Smax, parceiro de Slinger nesse começo de atividades.
A trama se inicia de maneira bem simples, com uma investigação de um homicídio e, aos poucos, vai engrenando com diversos casos, sempre recheados com uma larga dose de humor e ação na dose certa, afinal não deve ser fácil viver e trabalhar em uma cidade de super-heróis, ainda mais sendo um policial.
Lógico que Alan Moore carregou nas inúmeras referências e tirações de sarro com fatores conhecidos do grande público de quadrinhos como o multiverso (em uma referência clara aos universos paralelos criados pela DC Comics, um verdadeiro pesadelo para os fãs das cronologias) e o prédio da delegacia que é uma cópia carbono da Sala de Justiça do desenho dos Super Amigos, isso sem contar a participação especial do ídolo do Corrales, o Doutor Destino da Marvel, em uma das páginas. Mas a quantidade de referências é enorme, essas foram só para dar exemplos de como a coisa funciona.
Para colaborar com o ótimo roteiro, temos o traço afiadíssimo e cheio de detalhes de Gene Ha e Zander Cannon. Sério, ultimamente ando deparando demais com traços puxando bastante para o lado oriental da coisa, com olhos gigantes e muito enfoque nas expressões dos protagonistas. Inclusive histórias que nada tem a ver com esse tipo de desenho, como Batman, estão entrando nessa onda, sentia falta de algo mais “tradicional” e finalmente encontrei meu oásis no deserto.
Top 10 Contra o Crime é um dos gibis mais criativos e divertidos lançados nos últimos anos. Mesmo com um preço meio salgado, vale a pena pelo belo acabamento da Editora Devir, traços bonitos e precisos de Gene Ha e Zander Cannon e, claro, pelo humor e bom gosto do mestre Alan Moore. Obrigatório para qualquer fã de uma boa literatura e por isso leva o Selo Delfiano Supremo com louvor.