No ano de 2115, cientistas identificaram uma estrela em rota de colisão com o planeta Terra. Em 2149, três gigantescas naves colonizadoras foram lançadas ao espaço, carregando milhares de pessoas para uma zona segura próxima a Plutão. Em 2151, a Terra foi destruída. Sem recursos ou mesmo um planeta para colonizar, poucas opções ainda estavam disponíveis.
Assim, cinco naves de reconhecimento foram enviadas para cinco mundos distantes, com o nobre objetivo de encontrar um novo lar para a humanidade (tipo Interestelar).
Essa derradeira (e por que não suicida?) missão ficou conhecida como Projeto Solus, e aqui estou eu como parte da tripulação de uma das naves de reconhecimento, um sujeito anônimo e sem rosto, mas de quem depende a sobrevivência de toda a raça humana (tipo Doom).
Ao entrar na atmosfera do planeta Gliese-6143-C, no entanto, uma explosão desintegra nossa nave. Consigo sobreviver escapando em um pequeno módulo que cai na superfície do planeta, mas não sei dizer o que houve com o restante da tripulação.
DIA 1
Ao despertar, descubro-me cercado por destroços. Por sorte, encontro um pequeno dispositivo, do tamanho de um celular, que me informa sobre as condições climáticas do planeta, minha temperatura corporal, nível de hidratação e a quantidade de calorias que resta em meu corpo antes que eu comece a morrer de fome.
É um dispositivo bastante útil, que está para mim como Jarvis está para o Homem de Ferro, e passo a levá-lo sempre comigo. Aos poucos, começo a investigar este território desconhecido.
Vejo tudo através do visor de meu capacete, o que é um bocado claustrofóbico, devido às ligeiras bordas pretas que afunilam minha visão. Estranhamente, pareço não ter corpo: quando olho para baixo, não vejo meus pés, nem deixo pegadas no chão. Seria eu uma entidade incorpórea?
Não, não pode ser. Tenho certeza de que sou humano. Um rápido diagnóstico da situação indica que tal fenômeno pode ter sido causado pela falta de orçamento de quem criou este universo, mas isso não importa agora. Tenho que entrar em contato com os sobreviventes de minha tripulação, se ainda existe algum, e descobrir se este é um planeta potencialmente habitável.
Habitável ou não, ele é certamente muito bonito: ainda que as texturas sejam consideravelmente simples (talvez por uma questão atmosférica ou novamente orçamentária), existe um misterioso charme na forma como as ondas quebram na praia, na vegetação levemente quadriculada e nas duas gigantescas luas que orbitam no horizonte. Em circunstâncias mais favoráveis, eu poderia ficar por aqui mesmo, apreciando o jogo de luz que incide sobre a paisagem e tirando algumas screenshots, mas não há tempo para isso.
Jarvis me diz que preciso criar uma tocha e começo a explorar o cenário em busca de materiais para construí-la. Preciso de um cano, material orgânico e óleo. Parece simples, mas a noite chega antes que eu aprenda a utilizar o menu de inventário.
A temperatura cai para -20º C e preciso me esconder em uma caverna para não congelar até a morte. Tudo o que tenho é uma garrafa vazia, comida enlatada, uma barra de ferro e o Jarvis, que insiste em repetir que estou ficando com hipotermia. Eu sei, Jarvis, eu sei. Mas ainda não descobri como combinar os itens para fazer fogo.
Ouço barulhos ameaçadores do lado de fora da caverna. Seria um inimigo ou apenas a trilha sonora? A dúvida me perturba e pressiono o D-Pad para baixo, ganhando acesso ao menu de sono. Programo o tempo que desejo dormir, pressiono X e meus olhos se fecham.
DIA 2
Sobrevivi à noite e agora desperto com minhas energias parcialmente restauradas. Depois de caminhar por este território inóspito, descubro que estou em uma ilha. Em um arquipélago, para ser mais preciso. Posso ver outras ilhas daqui, mas elas me parecem perigosamente distantes para que eu possa nadar até elas.
Dando uma volta pela ilha, deparo-me com um misterioso artefato esculpido em pedra, marcado com símbolos que nunca vi antes. Seria alienígena?
Antes que eu possa analisá-lo com mais cuidado, meteoros passam zunindo pelo céu acima de mim e aterrissam na areia fofa. Percebo que não posso dar mole por aqui e sigo direto para o objetivo que Jarvis está me apontando agora.
A falta de um mapa prejudica minha locomoção, mas é compreensível: como poderíamos ter o mapa de um lugar ainda inexplorado? Esse pensamento desperta em mim um súbito senso de heroísmo e bravura, como se eu fosse um Pedro Alvarez Cabral das galáxias, desbravando terras inexploradas e parando apenas para ir ao banheiro ou abrir outra lata de cerveja.
Alimento-me com uma porção de mato, para recuperar a energia, e bebo a água que escorre de uma fonte para me manter hidratado. Dou um pause para procurar no YouTube como combinar os itens e criar a tal da tocha. Encontro óleo, realizo o crafting e, voilà, finalmente tenho uma tocha para chamar de minha.
Agora Jarvis me dá um novo objetivo, tão misterioso quanto o ambiente ao redor: “explore”. Mas já é noite outra vez e preciso voltar a me esconder. Sigo para o fundo da caverna e tento dormir um pouco, enquanto Jarvis me informa com sua voz robótica que estou prestes a morrer de frio, de fome e por desidratação. Caramba, Jarvis. É mais fácil dizer do que eu NÃO estou morrendo.
DIA 3
Enquanto exploro, descubro uma caverna cheia de objetos inclassificáveis. Alguns deles são acessórios que melhoram minimamente minha velocidade e saúde. Encontro também uma espécie de mesa (ou seria um altar?) que certamente não foi construída por mãos humanas. Há um botão nela. Eu o pressiono, mas nada acontece.
Estou morrendo por inanição e não consigo encontrar comida. Antes que consiga sair da caverna, morro pela primeira vez. No pós-vida, sou informado de que meu fracasso custou o futuro de toda a humanidade. Eita.
DIA 3 (segunda tentativa)
Encontro um pouco de comida na praia. Em uma manobra de darwinismo reverso, descubro que posso baixar a dificuldade nas configurações, o que me permite passar mais tempo sem comer e sentir tanto frio. Pura questão de sobrevivência, é claro.
Vejo um foguete despencar do céu e pousar alguns metros além das pedras à beira-mar. Corro até lá e, emocionado, descubro que ele está carregado de suprimentos (um kit médico, latas de comida e garrafas de água). Há também um dispositivo de teleporte (um tipo de lança-discos) que me permite alcançar lugares antes inacessíveis.
Seguindo meu novo objetivo, preciso agora entrar em uma caverna e descobrir a origem do misterioso ruído que emerge dela (seria uma baleia extraterrestre? Não sei que aparência teria uma baleia extraterrestre, mas ela certamente faria esse som).
No caminho até a caverna, uma tempestade se forma e o vento começa a soprar mais forte. Para minha surpresa, um furacão de dezenas de metros de altura se forma no oceano e vem girando em minha direção.
Procuro abrigo na caverna, enquanto lá fora o mundo é sacudido pelas forças irrefreáveis da natureza. Minha única opção agora é seguir em frente, para o fundo da caverna, esperando encontrar respostas e, talvez, uma esperança para a humanidade.
CONTINUA…
* Esta matéria faz parte de uma série de registros que relatam as experiências vividas em The Solus Project. Você pode ler as próximas partes aqui: Parte 2. Parte 3. Parte 4.